sexta-feira, 25 de março de 2016

GP Memorável 75# - Brasil 1991


Semanas depois do GP dos EUA nas ruas de Phoenix marcado pela vitória arrasadora da dominante combinação Senna-McLaren-Honda, o circo chegava ao Brasil para a segunda etapa da temporada de 1991. Pelo segundo ano seguido, Interlagos era sede da prova que voltava a ter Ayrton como favorito à vitória. Depois de passar anos tentando em vão, o brasileiro estava ainda mais disposto para quebrar o jejum na vigésima edição do Grande Prêmio do Brasil.

Agora com mais condições do que nunca, sem nenhum rival despontando no início da época, Senna era de longe o principal protagonista do fim-de-semana, deixando desfocada as participações de Nelson Piquet, Roberto Moreno e Mauricio Gugelmin. A Ferrari continuava tentando buscar o lugar que foi tomado pela Williams, mas a equipe britânica fez um evolução tão grande á ponto de dar esperanças para Nigel Mansell.


Antes do treino de qualificação, a pré-qualificação era o maior medo de cinco times: Jordan, Fondmetal, Coloni, Lambo-Modena e Dallara. Tendo condições para brilhar, a dupla da Scuderia Italia foi bem nos treinos da manhã, conseguindo passar para a próxima fase ao lado de Andrea de Cesaris e Bertrand Gachot, que alegraram Eddie Jordan. van de Poele e Larini continuavam no barco à deriva da Lambo-Modena, enquanto Chaves e Grouillard tiveram os piores tempos.

Já no treino principal, quatro nomes não conseguiriam uma vaga no grid para domingo, e infelizmente ambas as Footwork estava no meio disso. A parceria com a Porsche não estava sequer perto de sair da lama, deixando Caffi e Alboreto fora da corrida. Com eles, Bailey e Johansson também voltariam para casa mais cedo. Enquanto lá na frente...


Senna mostrou que era o favorito absoluto para a prova, marcou a pole position com o tempo de 1:16.392 e colocou no bolso a dupla da Williams, com Riccardo Patrese em segundo e Nigel Mansell em terceiro. Gerhard Berger era quarto, enquanto Jean Alesi abria a terceira fila na frente do tricampeão Alain Prost. Fechando o top ten estava Nelson Piquet, Maurício Gugelmin, que havia treinado muito bem, Stefano Modena e um surpreendente Bertrand Gachot.

Na décima primeira colocação estava o Lola de Éric Bernard, ao lado dele a Dallara de Emanuele Pirro, enquanto Andrea de Cesaris e Roberto Moreno formavam a sétima fila. Ivan Capelli era décimo quinto, Satoru Nakajima décimo sexto, Aguri Suzuki décimo sétimo, Thierry Boutsen décimo oitavo, JJ Lehto décimo nono e Pierluigi Martini vigésimo.

Fechando o grid: Gianni Morbidelli, Mika Häkkinen, Érik Comas, Gabriele Tarquini e a dupla da Brabham, Mark Blundell e Martin Brundle. O tempo para a corrida não seria um dos melhores, especialmente em Interlagos, onde as forças da natureza são tão instáveis. Apesar da ameaça de chuva, a prova foi iniciada em pista seca, facilitando o trabalho dos pilotos.


Enquanto a luz vermelha ainda era acesa, quem se estava pegando fogo no grid era o carro de Berger, que não enfrentou maiores problemas apesar da fumaça que saiu de sua McLaren nas primeiras curvas. Quando a luz verde se ascendeu, Ayrton Senna pulou na ponta sem problemas, enquanto Mansell superava Patrese e Alesi tomava a quarta colocação.

Mais atrás, Gachot atrapalha Pirro que vai para a grama, caindo para vigésimo sexto. Logo, a primeira desistência: Gabriele Tarquini danifica a suspensão e bate num dos muros de Interlagos. Lá na frente, Ayrton Senna tenta abrir em relação à Nigel Mansell, mas o Leão é forte e se aproxima do brasileiro. Tentando recuperar-se da fraca posição no grid de largada, Moreno supera Bernard e já é décimo primeiro.

No terceiro giro, de Cesaris ultrapassa o francês da Larrousse e agora persegue Moreno. Sem muitas condições para combate, a dupla da Brabham já é superada por Mika Häkkinen e Emanuel Pirro. Liderando, Senna ainda recebe pressão de Mansell, com Patrese em terceiro, Alesi em quarto, Berger em quinto, Piquet em sexto, Prost em sétimo e Modena em oitavo.


Quem surpreende é Maurício Gugelmin, que, com um carro pouco confiável, vem fazendo milagre na nona colocação. Morbidelli e Martini que haviam largado bem com suas Minardi também iniciam uma prova consistente, com Gianni ultrapassando Lehto na disputa pela décima quarta colocação e Pierluigi assumindo o décimo sétimo posto de Boutsen.

O finlandês da Dallara seria o próximo alvo de Martini antes que Maurício Gugelmin desistisse da prova, tendo se envolvido num incidente que queimou suas nádegas no Warm-Up. As dores eram insuportáveis, e na nona volta o brasileiro decidiu bem em parar e abandonar a prova, apesar dela ser tão promissora para a Leyton House.

Em décimo oitavo, Satoru Nakajima roda e abandona, enquanto Senna mantém uma boa distância para Mansell, que por sua vez abre para Patrese e Alesi, que é pressionado por Berger. No décimo oitavo giro, Alain Prost vai aos boxes fazer sua parada, retornando em décimo primeiro. Modena mal teve tempo de comemorar a posição ganha, abandonando com problemas no câmbio.


Câmbio que estava se tornando o grande pesadelo da prova, com muitos pilotos começando a enfrentar dificuldades terríveis nas trocas de marchas. Perseguindo o companheiro Gachot, Andrea de Cesaris abandona na vigésima volta com problemas no motor, sendo seguido por JJ Lehto com a eletrônica de sua Dallara significando um abandono.

Na vigésima sexta volta é a vez de Nigel Mansell parar, sendo a troca de pneus um desastre com o Leão sofrendo problemas no câmbio, só voltando atrás de Riccardo Patrese e Jean Alesi. O britânico ainda tomaria a posição do francês na volta seguinte, quando Senna foi aos boxes e teve mais sorte, voltando com conforto na liderança da corrida.

No vigésimo oitavo giro é a vez de Patrese, Berger e Alesi pararem, o que beneficia Alain Prost, que jogou bem ao parar voltas mais cedo. Com problemas de embreagem, Bernard é obrigado a abandonar a prova logo depois que Martini usou do mesmo artifício de Prost para ultrapassar seu companheiro, tornando-se décimo colocado.


Voltas depois, Patrese toma a terceira posição de Piquet enquanto Berger assume o sexto posto de Alesi. Demorou estranhamente pouco, mas Alain Prost fez sua segunda parada para retornar na sétima colocação, logo atrás de Jean Alesi, que giros depois também pararia, cedendo a posição para o tricampeão. Um pouco mais na frente, Gerhard Berger persegue incansavelmente Nelson Piquet, que é ultrapassado na volta quarenta e cinco, duas antes dele decidir fazer sua primeira parada.

Escalando o pelotão, Pierluigi Martini tinha acabado de assumir a nona colocação quando um erro o tirou da prova. Conseguindo abrir a diferença, Ayrton Senna começa a se acalmar na liderança, conduzindo magistralmente no início de uma leve garoa. Nigel Mansell ainda faria sua segunda parada, mas os problemas na caixa de câmbio se mantinham para tirar o Leão da prova, na volta 59.

Acorrida já não era tão competitiva, e o abandono de Nigel Mansell evidenciava ainda mais que Ayrton Senna passou a dominar a Fórmula 1 de tal maneira que seria impossível detê-lo. Mas como ninguém é perfeito, a caixa de câmbio da McLaren MP4/6 do brasileiro começou a travar, problemas tão piores quanto aqueles enfrentados por Patrese, enquanto Berger sofria com um acelerador que travava regularmente.


Seriam 11 voltas de pura resistência e raça para todos os pilotos na pista, e a chegada da chuva serviu para consagrar ainda mais uma vitória tão esperada. A diferença era enorme, mas não o suficiente para que Riccardo Patrese alcançasse Senna em suas atuais condições, dando ainda mais alegria ao povo brasileiro.

Quando cruzou a linha de chegada em primeiro, não existiam mais palavras para descrever tal momento: Ayrton Senna havia vencido o GP do Brasil! Depois de ficar apenas na sexta marcha durante todas as últimas voltas, o brasileiro teve espasmos musculares em diversas partes do corpo, deixando, sua McLaren morrer no meio da Reta Oposta na Volta da Vitória. A torcida gritava, e ninguém mais sabia o que fazer no meio de tanta alegria.


Fiscais empurraram a McLaren de Senna que voltou a funcionar até onde o brasileiro conseguiu guiar. De maneira tão heroica quanto a vitória de Piquet em Jacarepaguá em 1982, Ayrton vencia definitivamente no Brasil, espantando um último fantasma em sua carreira. Para melhorar, sua situação no campeonato mundial não poderia ser melhor: 20 pontos conquistados dos 20 possíveis, tendo Prost apenas com 9, na segunda colocação.

No pódio, três gladiadores que fizeram do GP do Brasil de 1991 uma prova de resistência às dores e ao cansaço, uma corrida marcada pelo heroísmo mesmo após 71 voltas extremamente monótonas e sem nenhum grande momento... O que uma vitória com sabor à mais não faz, não é mesmo?


RESULTADOS:
  1. 1 - BRA - Ayrton Senna - McLaren Honda - 1:38:28.128 - 10pts
  2. 6 - ITA - Riccardo Patrese - Williams Renault - +2.991s - 6pts
  3. 2 - AUT - Gerhard Berger - McLaren Honda - +5.416s - 4pts
  4. 27 - FRA - Alain Prost - Scuderia Ferrari - +18.369s - 3pts
  5. 20 - BRA - Nelson Piquet - Benetton Ford - +21.960 - 2pts
  6. 28 - FRA - Jean Alesi - Scuderia Ferrari - +23.641s - 1pt
  7. 19 - BRA - Roberto Moreno - Benetton Ford - +1 Volta
  8. 24 - ITA - Gianni Morbidelli - Minardi Ferrari - +2 Voltas
  9. 11 - FIN - Mika Häkkinen - Lotus Judd - +3 Voltas
  10. 25 - BEL - Thierry Boutsen - Ligier Lamborghini - +3 Voltas
  11. 21 - ITA - Emanuele Pirro - Dallara Judd - +3 Voltas
  12. 7 - GBR - Martin Brundle - Brabham Yamaha - +4 Voltas
  13. 32 - BEL - Bertrand Gachot - Jordan Ford - Sistema de Combustível
  14. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Renault - Caixa de Câmbio - OUT
  15. 26 - FRA - Érik Comas - Ligier Lamborghini - Motor - OUT
  16. 23 - ITA - Pierluigi Martini - Minardi Ferrari - Rodada - OUT
  17. 8 - GBR - Mark Blundell - Brabham Yamaha - Motor - OUT
  18. 29 - FRA - Éric Bernard - Lola Ford - Radiador - OUT
  19. 22 - FIN - Jyrki Juhani Järvilehto - Dallara Judd - Elétrico - OUT
  20. 33 - ITA - Andrea de Cesaris - Jordan Ford - Motor - OUT
  21. 4 - ITA - Stefano Modena - Tyrrell Honda - Caixa de Câmbio - OUT
  22. 16 - ITA - Ivan Capelli - Leyton House Ilmor - Transmissão - OUT
  23. 3 - JAP - Satoru Nakajima - Tyrrell Honda - Rodada - OUT
  24. 15 - BRA - Mauricio Gugelmin - Leyton House Ilmor - Físico - OUT
  25. 17 - ITA - Gabriele Tarquini - AGS Ford - Suspensão - OUT
  26. 30 - JAP - Aguri Suzuki - Lola Ford - Bomba de Combustível - OUT
  27. 10 - ITA - Alex Caffi - Footwork Porsche - DNQ
  28. 18 - SUE - Stefan Johansson - AGS Ford - DNQ
  29. 9 - ITA - Michele Alboreto - Footwork Porsche - DNQ
  30. 12 - GBR - Julian Bailey - Lotus Judd - DNQ
  31. 35 - BEL - Eric van de Poele - Lambo-Modena Lamborghini - DNPQ
  32. 34 - ITA - Nicola Larini - Lambo-Modena Lamborghini - DNPQ
  33. 31 - POR - Pedro Chaves - Coloni Ford - DNPQ
  34. 14 - FRA - Olivier Grouillard - Fondmetal Ford - DNPQ
Esses foram os pilotos que participaram do fim-de-semana de GP
Volta Mais Rápida: Nigel Mansell - 1:20.436 - Volta 35


Curiosidades
- 502º GP
- XX Grande Prêmio do Brasil
- Realizado no dia 24 de março de 1991, em Jacarepaguá
- 28º vitória de Ayrton Senna
- 88º vitória da McLaren
- 210º pódio da McLaren
- 60º vitória do motor Honda
- 30º melhor volta do motor Renault
- 50º GP do motor Judd

  • MELHOR PILOTO: Ayrton Senna
  • SORTUDO: Ayrton Senna
  • AZARADO: Maurício Gugelmin
  • SURPRESA: N/H
Ayrton Senna guiou de forma magistral, mostrando que não era mais o mesmo Ayrton que havíamos conhecido na década de 80, muitas vezes sem cabeça em determinadas situações. O brasileiro ainda contou com a sorte que todo o campeão deve ter, resistindo à dois pilotos que sofriam de problemas semelhantes. Gugelmin tinha tudo para marcar pontos com sua Leyton House, mas o incidente no Warm-Up estragou qualquer possibilidade de festa em Interlagos.


Campeonato de Pilotos:
  1. 1 - BRA - Ayrton Senna - McLaren Honda - 20pts
  2. 27 - FRA - Alain Prost - Scuderia Ferrari - 9pts
  3. 6 - ITA - Riccardo Patrese - Williams Renault - 6pts
  4. 20 - BRA - Nelson Piquet - Benetton Ford - 6pts
  5. 2 - AUT - Gerhard Berger - McLaren Honda - 4pts
  6. 4 - ITA - Stefano Modena - Tyrrell Honda - 3pts
  7. 3 - JAP - Satoru Nakajima - Tyrrell Honda - 2pts
  8. 30 - JAP - Aguri Suzuki - Lola Ford - 1pt
  9. 28 - FRA - Jean Alesi - Scuderia Ferrari - 1pt
Campeonato de Construtores:
  1. GBR - Honda Marlboro McLaren - McLaren Honda - MP4/6 - SEN/BER - G - 24pts
  2. ITA - Scuderia Ferrari - Ferrari - 642 - PRO/ALE - G - 10pts
  3. GBR - Camel Benetton Ford - Benetton Ford - B190B - MOR/PIQ - P - 6pts
  4. GBR - Canon Williams Team - Williams Renault - FW14 - MAN/PAT - G - 6pts
  5. GBR - Braun Tyrrell Honda - Tyrrell Honda - 020 - NAK/MOD - P - 5pts
  6. FRA - Larrousse F1 - Lola Ford - LC91 - BER/SUZ - G - 1pt
Imagens tiradas do Google Imagens - F1-History.deviantart.com - GPExpert.com.br

Um comentário:

  1. Pô meu amigo eu tenho esta revista da temporada de 1991.
    Gostei das suas materias.

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