quinta-feira, 17 de março de 2016

Pré-GP: Austrália 2016 - Um fantasma para ser espantado


A nova temporada se aproxima com o retorno de dois nomes que marcaram um dos melhores períodos da história da categoria: Renault e Haas.

Ambos os times retornam à Fórmula 1 na mesma era em que viveram seus primeiros dias, marcados por muitos fracassos em busca do grande prêmio: os franceses introduziram os turbos, mas não foram capazes de conquistar um título, enquanto os estadunidenses tinham um gigantesco projeto, nunca conseguindo fazer valer todos os grandes nomes que passaram pela equipe.

Os fantasmas das duas equipes ainda pairam pelo ar, mas apenas uma delas viverá este momento de horror. Enquanto a nova Haas é comandada por Gene, a antiga foi comandada por Carl, que apesar do mesmo sobrenome não tem nenhum parentesco, deixando todo o duro trabalho de enfrentar fantasmas passados para a Renault.

A marca francesa tinha tudo para conquistar títulos ainda na primeira metade da década de 80, mas a velocidade no desenvolvimento dos motores turbo das outras equipes foi estupenda, o que acabou superando todo o trabalho do time da Renault, que, no fim, saiu da categoria sem mostrar nenhum brilho durante toda a temporada de 1985. Curiosamente, o mesmo país que viu a Renault se despedir da Era Turbo, vê a Renault voltar a ele trinta e um anos depois.


Os franceses continuaram a fornecer motores, se tornando campeões na década de 90 já na época dos motores aspirados, o que impulsionou um brilhante e vitorioso retorno no século XXI. Sua segunda despedida foi melhor do que a primeira, apesar da pouca audiência dada na época.

Em 2016, com os espólios da Lotus, a Renault quer reescrever a história como equipe na Era Turbo, tendo um prazo de três anos para se desenvolver. Até lá, será impossível não lembrar-nos dos duros períodos de desenvolvimento com Jean-Pierre Jabouille na virada da década de 70 para 80.

Com aqueles anos de experiência conquistados a mais de 30 anos, a única grande lição que a Renault deve tirar de sua primeira passagem é: não desistir após a primeira tentativa.

Já o caso da antiga Haas é totalmente diferente, envolvendo os patrocinadores como os principais culpados pela saída após duas temporadas disputadas. Carl Haas já era um nome conhecido na América, tendo feito uma vitoriosa parceira com o ator Paul Newman para criar uma equipe na Indy. Os resultados agradaram, e a chegada da gigante Beatrice como patrocinadora colocou a Haas no rumo da Fórmula 1.

Como Jim Dutt, diretor da Beatrice, era amigo de Donald Peterson, diretor da Ford Motor Company, o ingresso de Carl Haas já estava basicamente comprado, especialmente com o grande objetivo de expandir a marca no âmbito internacional. 

Associando-se com um staff de se invejar, incluindo Teddy Mayer, Tyler Alexander, Neil Oatley e um jovem Ross Brawn, Carl Haas tinha tudo para estrear na Fórmula 1 no fim da temporada de 1985, algo que aconteceu com nada mais nada menos do que com um campeão mundial: o australiano Alan Jones. Mesmo assim, o início não foi bom.


O projeto que envolvia os motores turbo da Ford atrasou, com o fiasco do L4, fazendo Jones participar das últimas etapas sendo empurrado por um fraco motor Hart. O australiano sofreu em todas as provas, com exceção de uma.

Na estreia do Grande Prêmio da Austrália no calendário, Alan não queria fazer feio em casa, se beneficiando de um carro rápido nas ruas de Adelaide. Infelizmente, a alegria do campeão do mundo acabaria nas primeiras voltas, enquanto assumia a sexta colocação após enfrentar problemas na largada e cair para o último posto...

O velho chassis THL1 seria usado durante as primeiras etapas de 1986, ainda com o motor Hart, mas a chegada do THL2, programada para o GP de San Marino já com o V6t da Ford, animava toda a equipe.

O carro não era um desastre, pelo contrário, tinha um dos melhores chassis do grid. Em contrapartida, o motor era péssimo. Isso beneficiava a equipe em circuitos sinuosos, colocando Patrick Tambay em posições confortáveis no grid como o oitavo posto em Monte Carlo e no México além do sexto lugar na Hungria. Jones, que antes era a grande sensação, passara a ser mero figurante.

A falta de confiabilidade ousava tirar pontos precisos da dupla, que figurava o top six em certas ocasiões. O grande absurdo foi ver a Tambay e Jones andando entre Prost, Senna, Piquet e Mansell nas primeiras voltas do GP da Hungria, sendo que mais tarde não conquistariam sequer um ponto. Apesar da evolução evidente, o fim já estava encomendado desde o início da temporada, quando a KKR tomou o controle da Beatrice e rompeu o contrato com Carl Haas.


Mesmo no meio de tanta tristeza houveram surpresas, como os fantásticos desempenhos de Tambay e Jones nos GPs da Áustria e da Itália, curiosamente em circuitos velozes. O australiano chegou a estar numa posição que possibilitava um pódio antes de ser ultrapassado por Johansson em Österreichring, mas o quarto lugar ainda teve gosto de vitória, com Tambay terminando em quinto. Semanas depois, em Monza, o mesmo Jones tiraria um ponto do bolso após largar em décimo oitavo.

No último GP da Haas, logo na casa do campeão do mundo de 1980, os pontos voltam a ser possíveis. Porém, os problemas que Tambay sofria, impossibilitavam uma ajuda a um surpreendente Jones, que estava na oitava colocação após ultrapassar Philippe Streiff quando abandonou. O mesmo francês da Tyrrell completaria a penúltima volta em terceiro...

Agora, Gene Haas traz o nome de volta ao grid, com motores que realmente inspiram respeito e uma dupla tão interessante quanto aquela de 30 anos atrás... 

No fim, acredito que essa temporada que marca o retorno da Renault e a estreia da equipe norte-americana servirão mais para espantar fantasmas que envolvem seus nomes do que para conquistar resultados realmente grandiosos...

Começaremos a descobrir como eles poderão ir durante o ano a partir do próximo domingo, quando a 67º temporada da história irá ser iniciada. Até lá, vivemos de histórias para pensar no futuro...

Imagens tiradas do Google Imagens e www.facebook.com/RenaultSportFormulaOneTeam

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