segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Análise: Os pontos da (e para) virada


Com a vitória soberana conquistada em Monza, Lewis Hamilton finalmente assumiu a ponta do campeonato. Mesmo com menos vitórias, Sebastian Vettel resistiu bravamente até a décima terceira etapa, quando o jogo finalmente virou a favor da Mercedes. As vitórias do inglês na Bélgica e, agora, na Itália, não foram de surpreender alguém, mas, nessa altura da temporada, está na hora da Ferrari reagir se quiser quebrar o jejum de dez anos sem título.

A tarefa será complicada. As próximas duas corridas favorecem o carro italiano, que por ter um carro com menor distância entre eixos e um melhor desempenho sob forte calor, supera a Mercedes com certa facilidade em pistas sinuosas e países tropicais. Nessa mesma passada, a Red Bull pode se intrometer na briga, pelo menos em Cingapura, lugar exato onde a Ferrari pode tirar mais vantagem. Já imaginaram quatro carros a frente da Mercedes e com Vettel no topo do pódio? Pela matemática básica, mesmo se isso acontecer, Hamilton ainda teria boas chances de conquistar o tetracampeonato.

Ricciardo e Verstappen foram prejudicados em Monza para se beneficiarem daqui a duas semanas, e serão eles os protagonistas mais importantes, a longo prazo, da prova na Cidade-Estado asiática. Favoritos à vitória? Podem até ser. E é isso que deve afligir a Ferrari.


A realidade é que os italianos não tem, e dificilmente terão, um equipamento que se compare ao da Mercedes, sobretudo no quesito unidade de potência. Por esses e outros fatores, a equipe alemã é favorita a vitória em Abu Dhabi, por exemplo, por esta ser uma corrida que, em sua maior parte, ocorre nos gelados ventos do deserto. Assim, restariam quatro lugares onde o título tende a ser decidido, pelo menos na teoria: Austin, Hermanos Rodríguez, Interlagos e Suzuka.

Depois dos eventos de 2015 (e do Furacão Harvey) não consigo tirar uma conclusão absoluta sobre como poderá estar o Texas no final de outubro, mas, se for para apostar, apostaria tudo numa corrida quente, tal como no Brasil. Também em 2015, a corrida em Interlagos foi um das mais quentes dos últimos anos, sendo que, em 2016, choveu e a temperatura/umidade baixa aliviou os carros da Mercedes - mesmo que naquela época não havia um rival sério para ameaçar sua supremacia.

Outro ponto para se levar em conta é o tipo do traçado presente no CotA, no Hermanos Rodríguez e no José Carlos Pace. Os três são seletivos, principalmente o norte-americano. Em Interlagos, os setores 1 e 3 tendem a beneficiar a Mercedes, enquanto o setor 2, o mais longo, a Ferrari. Algo semelhante ocorre no Hermanos Rodríguez, onde o primeiro trecho favorece os carros alemães e os outros dois colocam os italianos em vantagem teórica. Também por ser a pista mais alta em relação ao nível do mar, o circuito mexicano representa um grande desafio: quanto maior altitude, menor refrigeração nos motores.

Já Suzuka... pois bem, é difícil até de prever, mas por apresentar um traçado desafiador, com curvas longas e rápidas, ela tem um toque que pode ajudar as Mercedes a lidar com a Ferrari nessas 7 últimas provas da temporada.

Pode ser cedo para falar sobre tudo isso, mas a verdade é que já podemos fazer um rascunho do que poderá acontecer nas próximas semanas. E, caso Vettel não tire vantagem das condições em Cingapura e na Malásia, será difícil não ver Hamilton campeão pela quarta vez ao final da temporada.


Agora, deixemos de lado a disputa pelo título, afinal, a Fórmula 1 não é apenas isso, nunca foi e nunca será. E por esse motivo, acredito eu, tenho certo repúdio às diversas e diversas vezes em que a Rede Globo tenta nos fazer engolir a disputa Hamilton x Vettel em denegrimento aos outros fatos desse campeonato de 2017. Será que não estaria não hora de mudar de estratégia?

Quem não se lembra das simpáticas Minardi, Jordan, Tyrrell, Super Aguri e tantas outras do fundo ou do meio do pelotão? Muita gente amava elas. E muita gente ama ver uma Force India lutando por um pódio ou uma Haas disputando posições e pontos contra Renault, Toro Rosso e McLaren. É claro que não existe uma diversidade de personalidade tão grande como antigamente, mas ainda assim é possível explorar figuras como Daniel Ricciardo, Fernando Alonso, Kevin Magnussen e Daniil Kvyat.

Toda corrida é um prato cheio de memes via rádio do espanhol. Vale esperar por cada momento? Vale! Muita gente assistia Fórmula 1 esperando apenas pela vitória de Ayrton Senna no final da corrida, sem se importar com quem estava no grid ou o que estava sendo conquistado por outros pilotos.


Por exemplo: abrir espaço para o famoso "suck my balls" de Magnussen para Hülkenberg poderia abrir a possibilidade de pessoas passarem a torcer por um ou por outro, sempre acompanhando o que cada um deles está fazendo e onde estão durante a corrida. Ficar batendo o martelo numa disputa que acontece de cinco em cinco corridas, no mínimo, cansa!

Outro exemplo: a briga interna na Force India - algo que teria tudo para ser um sucesso. Um jovem francês que "roubou" "com ajuda da Mercedes" "a vaga de Felipe Nasr" na Force India, mas que vem mostrando para que veio, com exaltações até de Reginaldo Leme (desde o ano passado, diga-se de passagem), contra um já veterano Sérgio Pérez, líder da equipe e extremamente agressivo quando precisa (às vezes até quando não precisa) ser. Não seria algo interessante para incitar a audiência a torcer e acompanhar um ou outro? O legal, acima de tudo, é que, por terem equipamentos iguais, quase sempre estão juntos na pista.

Querem mais? A evolução da Renault, Palmer ameaçado e possibilidade de Robert Kubica retornar. Será que a Renault não é uma potencial front runner até 2020? Esse Palmer sofre com esse carro! Imagina se o Kubica toma o lugar dele ano que vem? Se isso não levasse ninguém a acompanha-los de perto, eu não sei mais o que fazer - acabar com a Fórmula 1 no Brasil, quem sabe?


Agora que você, meu caro leitor, pensa que a crítica a Globo tenha acabado, saiba que está errado! Tenho uma última coisa a dizer: deem o mínimo destaque, pela graça de Deus, às médias e pequenas equipes. Uns meses atrás, o Flavio Gomes fez um interessantíssimo post que recomendo que leiam: SOBRE ONTEM DE MANHà- e digo mais, tenho total respeito pelo Galvão Bueno e só peço, junto com muitos outros, que ele mude alguns de seus hábitos nas transmissões.

Finalmente, chegamos ao que importa: a corrida em si. Tudo, infelizmente, ocorreu como o esperado sob um dia de sol em Monza. Quem tinha o melhor motor conseguiu o melhor resultado, com exceção da mega surpresa Daniel Ricciardo, que arranca elogios a cada corrida, enquanto seu companheiro tão badalado, Max Verstappen, sofre com a falta de confiabilidade, psicológico e, sem dúvida alguma, sorte. O holandês já foi acusado de ser agressivo demais na condução - um Keke Rosberg ou até mesmo um Nigel Mansell dos tempos modernos.

Mais uma vez, foi Lance Stroll que roubou o suposto papel de Felipe Massa como protagonista da Williams. Surpreendentemente, o canadense se tornou o mais jovem piloto a largar na primeira fila, quebrando um recorde que parecia inquebrável - Max Verstappen era o recordista após partir da segunda posição no GP da Bélgica de 2016. E no domingo, mais uma vez surpreendendo, Stroll teve cabeça para chegar até o final, a frente, inclusive, de Massa.


Falando no brasileiro, vale lembrar que sua vaga passou a ser especulada e associada com nomes como Fernando Alonso e Jenson Button, enquanto ele não parece estar disposto a ceder sua posição na equipe. Na corrida, Massa se envolveu nos dois principais incidentes do domingo - primeiro com Pérez e depois com Verstappen, sendo, em ambos os casos, uma figura controversa diante de um toque de corrida.

Na Force India, a crise interna não foi problema durante o fim-de-semana. Esteban Ocon, por meros 2 milésimos, conseguiu uma vaga no Q3 e, posteriormente, um lugarzinho na segunda fila. O francês chegou a sonhar com o pódio, mas a falta de chassis custou posições e a possibilidade de conquistar algo melhor do que aquele 5º lugar do GP da Espanha. De qualquer forma, Ocon agora está apenas três pontos atrás de Pérez no campeonato - e o GP do México está chegando...

Não há o que se comentar sobre Haas, Renault e Sauber, que conquistaram os resultados esperados numa pista totalmente desfavorável. Já a McLaren, depois de mostrar potencial no GP da Bélgica, confirmou que evoluiu durante as férias. Ao mesmo tempo em que negocia com a Renault, a equipe de Woking andou no pelotão médio-baixo tão bem como nunca, causando preocupação na Toro Rosso, que teme o avanço do time inglês.


Após terminar mais uma vez na frente de Räikkönen, Ricciardo conseguiu abrir no campeonato de pilotos em relação ao finlandês, deixando seis pontos de diferença entre eles. Uma conquista e tanto para aquele que é, talvez, o melhor piloto da temporada, tal como foi em 2016. Outra mexida interessante na tabela foi a de Lance Stroll, que agora está sete pontos atrás de Massa - quem disse que a Williams está somente com um piloto?

Pois bem, acredito que isso seja tudo o que tenho a falar. Se você leu até aqui, saiba que estou feliz por sua existência, complacência e decência de ler tudo isso e não criticar de forma babaca minha pessoa e minha opinião.

Até Marina Bay!

Imagens tiradas do f1fanatic.co.uk.