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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

GP Memorável #84 - Detroit 1986


No dia seguinte ao GP do Canadá, René Arnoux voou para o sul de Montreal para pescar com alguns amigos. Durante o voo, o hidroavião em que estava foi surpreendido por um tornado perto de Mont-Tremblant e por sorte, e pela experiência do piloto, conseguiram escapar da morte e aterrisar uma hora depois. Semanas após Surer, Arnoux poderia ter sido o próximo nome a se despedir da Fórmula 1 de maneira trágica.

Já em Detroit, as tensões de Montreal finalmente resultaram em conflito. Pelo fato das autoridades americanas exigirem a devolução de 30% do prêmio dos GPs de Detroit desde 1982, pilotos como Nelson Piquet e René Arnoux pedem pelo cancelamento da prova. Bernie Ecclestone precisa negociar de forma que não decepcione os pilotos, mas o veredicto é duro: 600 mil doláres tiveram que ser devolvidos para os Estados Unidos.

FOCA e FISA também decidem o futuro da categoria na América. Os ingleses pedem por mini-corridas aos sábados para evitar as perigosas qualificações e seus setups especiais, mas a ideia parece distante da realidade e Balestre recusou-a. A FISA pretende instalar uma flange nos turbos, mas as fornecedoras não querem perder o tempo gasto no desenvolvimento destes e um consenso parece longe de ser alcançado. Com essa disputa de interesses, BMW e Porsche flertam com a CART, enquanto Alfa Romeo teme perder o investimento no novo motor turbo de quatro cilindros, já testado e prestes a equipar Tyrrell e Ligier em 1987.

Eddie Cheever volta à Fórmula 1

Patrick Tambay pensa na aposentadoria após o acidente no Canadá, sem se recuperar da forma devida e nem apresentar interessente num possível retorno. Carl Haas busca um substituto para a corrida caseira. O primeiro nome a ser cogitado é o de Michael Andretti, filho do campeão de 1978, muito bem na IndyCar, mas FISA negou conceder a super-licença ao americano. Com isso, Eddie Cheever deve retornar à Fórmula 1 nas ruas de Detroit, onde havia subido ao pódio em 1982.

Christian Danner fará sua estreia na Arrows, enquanto Enzo Osella opta pelo dinheiro mexicano vindo do jovem canadense Allen Berg para substituir o alemão ao lado de Ghinzani. Berg tinha uma rápida passagem pela Fórmula 3 Britânica na mesma época em que Brundle e Senna lutavam pelo título, o que ofuscou totalmente qualquer bom desempenho que pudesse ter.

Na McLaren, rumores indicam descontamento de Keke Rosberg e uma possível aposentadoria ao termino do ano. A nova Fórmula 1 não é para o finlandês. Stefan Johansson já teria assinado com Ron Dennis para correr em 1987, mas nada havia sido oficializado até Detroit. Na casa ao lado, de Ken Tyrrell, Philippe Streiff volta a correr com o velho 014.

Johansson perdeu o capacete. Mansell emprestou e este foi o resultado

Nos treinos de sexta, Mansell é o mais rápido, mas, no sábado, Ayrton Senna supera o tempo do inglês por meio segundo. O talento do brasileiro em pistas de rua é magnífico, algo totalmente contrário ao de seu compatriota da Williams, que não consegue acompanhar o companheiro ao passo que acusa os internos de sua equipe de favorece-lo. Piquet ainda consegue ser terceiro, com duas surpreendentes Ligier, Arnoux quarto, Laffite sexto, divididos por Johansson, constantemente mais rápido que Alboreto, apenas décimo primeiro.

Alain Prost era apenas o sétimo mais rápido, seguido por Riccardo Patrese de Brabham, Keke Rosberg e um entusiasmado Eddie Cheever na décima posição. Berger era o melhor dos Benetton em décimo segundo, ao lado de Thierry Boutsen e a frente de Johnny Dumfries, que sofre durante todo o fim-de-semana. Martin Brundle e Philippe Streiff não tiram proveito do ótimo chassis Tyrrell, e mal conseguem se colocar nos vinte melhores, misturando tinta com Warwick, Fabi, Danner e Palmer. Fechando o grid, Jones, cada vez mais desanimado, a Osella de Ghinzani, as Minardi de de Cesaris e Nannini, um lentíssimo Berg, dez segundos atrás do poletime, e Huub Rothengatter fechando o pelotão de 26 carros em Detroit.

Logo após o treino de sábado, franceses e brasileiro se juntam em frente à TV para acompanhar Brasil e França pelas quartas-de-final da Copa do Mundo. O esperado duelo entre Zico e Platini seria decidido nos penaltis e em favor aos europeus. Com a derrota, o sonho brasileiro havia acabado mais uma vez, menos traumático, mas tão doloroso quanto o de quatro ano antes. A moral do Brasil estava baixa...


O domingo em Detroit é de forte calor e ventania, mas a possibilidade de chuva é miníma. Logo na volta de apresentação, Huub Rothengatter é obrigado a abandonar com problemas elétricos. A prova mal começou. Na partida, Senna mantém a ponta com Mansell em segundo e Arnoux ultrapassando Piquet para ser terceiro. Mais atrás, Alboreto vai de décimo primeiro para oitavo e Alan Jones de vigésimo primeiro para décimo quinto (!). Uma corrida promissora para os carros da casa.

Pressionado, Ayrton é superado por Mansell na segunda volta, enquanto Laffite e Alboreto pressionam Prost pelo sexto posto até este ceder. A prova de Rosberg seria breve. Enfrentando problemas desde a sétima volta, o finlandês abandonaria na décima quarta posição. Os postulantes ao título agradecem.

Para recuperar a ponta, Senna faz belíssima manobra na saída do túnel, tarda a freada e passa por Mansell na oitava volta, com Arnoux fazendo o básico sobre o inglês logo depois. Desesperado para entrar na briga pela vitória, Laffite supera, em seis voltas, Johansson, Piquet e Mansell, assumindo a terceira posição. Alain Prost se recupera das adversidades e retoma o sexto posto das Ferrari.


Piquet é cauteloso nesse início de corrida, sendo superado inclusive por Prost na volta treze, ao mesmo tempo em que Alboreto passa por Johansson na briga pela sétima posição Na liderança, Senna tem um furo. Pode ser um desastre para o brasileiro, que vai aos boxes fazer sua troca, retornando em oitavo, atrás das Ferrari e à frente de um surpreendente Eddie Cheever. Agora quem lidera é Arnoux com Laffite em segundo! As Ligier tem sua melhor perfomance desde 1981.

Com pneus desgastados, Arnoux não é capaz de segurar Laffite, que inicia um ataque dura voltas intermináveis para o velho francês, que só superaria o companheiro com uma enfurecida reclamação clássica após a Rua Larned. Esta foi a primeira vez que ambos lideraram desde 1983. E também a última...

O maravilhoso desempenho da Ligier de Laffite não permite o ataque de Arnoux, que vira alvo fácil de Mansell, Prost e Piquet, que se aproximam. Fazendo volta mais rápida atrás de volta mais rápida, Ayrton já é sexto. Agora temos uma das partes mais interessantes da prova. Na volta vinte e sete, René Arnoux faz sua parada ao mesmo passo em que, pouco antes, tanto Piquet quanto Senna fizeram belíssimas manobras para superar Prost. É a alegria de Brasil superar França!

Allen Berg estreando pela Osella

Seguindo, três giros depois, Piquet e Senna também passam por Mansell, não demorando para fazerem o mesmo com Jacques Laffite, que vai aos boxes fazer sua troca. O oldman voltaria logo atrás de René Arnoux, para seu desespero. Mansell também tinha parado e era sexto, logo atrás das Ligier.

Na volta trinta e sete, Eddie Cheever, numa promissora décima colocação é obrigado a abandonar. É o segundo carro de Carl Haas a enfrentar problemas com a porca da roda, agora levando o bólido diretamente para o muro. É o fim do sonho americano, mais um pesadelo australiano para Jones e um retorno desilusório de Cheever.

Senna e Piquet lutam pela ponta. Brasil na frente com três franceses logo atrás. Na trigésima nona volta, Nelson vai para sua troca, mas enfrenta problemas com o dianteiro direito e perde quase vinte segundos nos boxes. No giro seguinte, Ayrton faz sua segunda e última parada para voltar em primeiro, com uma boa diferença para o ex-líder Piquet.


Com problemas nos freios, Mansell perde o sexto posto para Johansson, Patrese, que decidiu não parar, e Alboreto. A situação é delicada para o britânico, fora dos pontos enquanto Senna caminha para a vitória. Nessa altura, Piquet ataca as curvas de Detroit para recuperar o terreno perdido para o compatriota. É nisso que, na volta quarenta e dois, na curva 17, o bicampeão do mundo erra o cálculo, bate na parte interna da curva e vai parar do outro lado da pista. Seis pontos preciossímos perdidos por Piquet.

Tendo passado Prost, Arnoux agora sonha com a vitória em Detroit. Com pneus mais novos, a façanha é completamente possível e só seria concretizada após outra conquista sobre... um brasileiro. O carro de Piquet ficou simplesmente largado na saída da 17, numa posição perigosa e sem possibilidade de ser retirado. As bandeiras amarelas são agitadas.

Durante as voltas que seguiram, Mansell passaria por Patrese e Alboreto, retomando o quinto lugar, com o ferrarista em sexto e o italiano da Brabham em sétimo. A corrida tomaria contornos infelizes para a França. As bandeiras amarelas pararam de ser mostradas na Atwater Street e nas curvas 16 e 17, onde o carro de Piquet ainda está. Na volta quarenta e sete, imaginando a pista limpa, Arnoux contorna aberto e vai direto para o Williams. É fim de corrida para o francês, que rapidamente tenta dar ré e abandonar o carro do outro lado da pista. Mas nesse movimento, Thierry Boutsen abaldoa o Ligier por trás. Dois homens fora, um postulante à vitória, num golpe de irresponsabilidade e amadorismo dos organizadores.


Críticas voltam a estourar entre os americanos e a FISA. Culpam Balestre por um regulamento falho, onde o pace car não existe e as bandeiras amarelas só são mostradas por cinco voltas! O tormento maior é na cabeça de Arnoux, que perde sua última chance de conquistar uma vitória. É triste para o francês, mas alegria para o Brasil. Uma vingança, se mal dizer...

Poucas voltas depois, Laffite superou facilmente Prost para assumir o segundo posto. Ainda antes do fim, Michele Alboreto recuperaria a frente de Mansell. Com dez carros sobrando na pista, Ayrton Senna conquista sua quarta vitória, com o velho Jacques Laffite, enfrentando com problemas na embreagem e no câmbio, em segundo e Prost em terceiro. Alboreto, Mansell e Patrese fecharam os lugares pontuáveis.

Depois da corrida, Senna pega a bandeira brasileira e desfila com ela pela pista. É a primeira vez que o "rito" é feito. Com profunda desaprovação, o brasileiro criticou "O que aconteceu é escandaloso, criminoso. Nunca deixamos um F1 abandonado na trajetória. Um perigo colossal.". René Arnoux está desolado, enquanto Laffite comemora o seu último pódio mesmo com as enormes adversidades.


No fim, a edição de 1986 do GP de Detroit foi um dos mais desafiadores para os pilotos. Calor escaldante num circuito cansativo, cheio de ondulações e armadilhas em todas as esquinas. A vitória de Senna coloca o Brasil de volta à ponta no campeonato de pilotos, com três pontos de vantagem para o segundo colocado Alain Prost.

RESULTADOS:
  1. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 1:51:12.847 - 9pts
  2. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - +30.837 - 6pts
  3. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - +31.824 - 4pts
  4. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - +1:30.936 - 3pts
  5. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - +1 Volta - 2pts
  6. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - +1 Volta - 1pt
  7. 11 - GBR - Johnny Dumfries - Lotus Renault - +2 Voltas
  8. 14 - GBR - Jonathan Palmer - Zakspeed Racing - +2 Voltas
  9. 4 - FRA - Philippe Streiff - Tyrrell Rrenault - +2 Voltas
  10. 8 - GBR - Derek Warwick - Brabham BMW - +3 Voltas
  11. 17 - ALE - Christian Danner - Arrows BMW - Elétrico - OUT
  12. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - Colisão - OUT
  13. 18 - BEL - Thierry Boutsen - Arrows BMW - Colisão - OUT
  14. 23 - ITA - Andrea de Cesaris - Minardi Motori Moderni - Diferencial - OUT
  15. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - Acidente - OUT
  16. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - Alternador - OUT
  17. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - Câmbio - OUT
  18. 16 - EUA - Eddie Cheever - Lola Ford - Porca da roda - OUT
  19. 15 - AUS - Alan Jones - Lola Ford - Porca da roda - OUT
  20. 22 - CAN - Allen Berg - Osella Alfa Romeo - Turbo - OUT
  21. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - Transmissão - OUT
  22. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - Ignição - OUT
  23. 24 - ITA - Alessandro Nannini - Minardi Motori Moderni - Turbo - OUT
  24. 29 - HOL - Huub Rothengatter - Zakspeed Racing - Elétrico - DNS
Esses foram os pilotos que correram no fim-de-semana.
Volta Mais Rápida: Nelson Piquet - 1:41.233 - Volta 41


Curiosidades:
- 427º GP
- V Grande Prêmio de Detroit
- Realizado no dia 22 de junho de 1986, em Detroit
- 4º vitória de Ayrton Senna
- 32º e último pódio de Jacques Laffite
- 77º vitória da Lotus
- 400º GP da Ferrari
- 20º vitória do motor Renault


  • MELHOR PILOTO: Ayrton Senna / Jacques Laffite
  • SORTUDO: Alain Prost
  • AZARADO: Nelson Piquet / René Arnoux
  • SURPRESA: Eddie Cheever
Ayrton Senna foi espetacular mais uma vez. Mesmo depois do furo, o brasileiro se recuperou e venceu a corrida com méritos. Já Laffite fez todo trabalho possível com seu Ligier, enfrentando gravíssimos problemas na embreagem, no câmbio e com um vazamento de óleo para, ainda assim, terminar em segundo. Prost teve sorte, mesmo sem uma brilhante performance durante o fim-de-semana, subiu ao pódio e conquistou mais preciosos pontos, algo que Piquet não conseguiu ao bater antes da chicane que antece os boxes, mesmo problema que Arnoux, muito desiludido, teve. Eddie Cheever já havia subido ao pódio em Detroit, e no seu retorno foi fenomenal, superando com sobras Alan Jones e andando sempre entre os dez primeiros antes de abandonar.

Campeonato de pilotos:
  1. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 36pts
  2. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - 33pts
  3. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - 29pts
  4. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - 19pts
  5. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - 14pts
  6. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - 13pts
  7. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - 7pts
  8. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - 6pts
  9. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - 6pts
  10. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - 6pts
  11. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - 2pts
  12. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - 2pts
  13. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - 2pt



Campeonato de construtores:
  1. GBR - Canon Williams Honda Team - Williams Honda - FW11 - MAN/PIQ - G - 48pts
  2. GBR - Marlboro McLaren International - McLaren TAG-Porsche - MP4/2C - PRO/ROS - G - 47pts
  3. GBR - John Player Special Team Lotus - Lotus Renault - 98T - DUM/SEN - G - 36pts
  4. FRA - Equipe Ligier - Ligier Renault - JS27 - ARN/LAF - P - 19pts
  5. ITA - Scuderia Ferrari SpA SEFAC - Ferrari - F1/86 - ALB/JOH - G - 13pts
  6. GBR - Benetton Formula Ltd. - Benetton BMW - B186 - FAB/BER - P - 8pts
  7. GBR - Data General Team Tyrrell - Tyrrell Renault - 014/015 - BRU/STR - G - 2pts
  8. GBR - Motor Racing Developments - Brabham BMW - BT55 - PAT/ANG - P - 2pts
Imagens tiradas do Google Imagens - GPExpert.com.br - F1-History.deviantart.com

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

GP Memorável #82 - Bélgica 1986


Depois da vitória de Alain Prost em Mônaco, as equipes McLaren, Benetton, Ferrari, Brabham, Ligier, Tyrrell e Haas estavam em Paul Ricard para uma sessão de testes coletivos.

Após largar na última posição nas ruas de Monte Carlo, Elio de Angelis diz, sorridente: "eu poderia ter sido segundo no grid... pena que será só em Spa". O italiano havia abandonado três das quatro provas que já haviam acontecido em 1986, e estava empolgado com a expectativa de evolução da equipe e do BT55. Ele, que odiava testes, se prontificou no lugar de Riccardo Patrese, que não foi para Le Castellet.

Mas, naquele 14 de maio, o mundo se chocaria com uma tragédia à mais de 250Km/h. Na região dos esses da Verrière, uma fumaça negra começa a subir. Alan Jones foi o primeiro a chegar ao local: "Não havia nada que eu pudesse fazer, eu só fiquei lá com minhas mãos no ar". Logo depois, foi a vez de Alain Prost, Nigel Mansell e Jacques Laffite chegarem, tentando desesperadamente fazer algo que pudesse salvar o colega e amigo de Angelis.

Um fiscal que estava nas imediações tentou apagar as labaredas que afligiam o BT55, mas de forma totalmente despreparada, vestindo um shorts e uma camiseta. Jones percebeu que o pó do extintor atingiu mais a cabine do piloto do que o incêndio que estava no motor, o que pioraria ainda mais o estado de de Angelis, que só seria retirado do carro dez minutos depois do acidente.

Por incrível que pareça, não havia nenhum helicóptero de emergência no autódromo. A espera de trinta minutos seria dolorosa e terrível. Elio ainda estava respirando, mas com muitas dificuldades. Naquela noite, Dr. Sid Watkins seria informado que o italiano sofrera extensos danos cerebrais e que a situação era quase irreversível. No outro dia, veio a confirmação: Elio de Angelis havia morrido por causa de graves ferimentos na cabeça e no peito.


Uma falha na asa traseira do BT55 fez Elio capotar várias vezes, saltar o guard-rail e parar de cabeça para baixo, 91 metros de distância do primeiro embate. Havia morrido um dos pilotos mais talentosos de sua geração, e um dos últimos gentleman da Fórmula 1. Nascido em Roma, de Angelis tinha 28 anos e duas vitórias na categoria.

Ayrton Senna diria: Elio era uma pessoa à parte porque ele exerceu seu trabalho pelo amor ao esporte, sem motivação financeira. Ele era um cavaleiro, uma pessoa de qualidade que estou orgulhoso de ter conhecido.

Depois da fatalidade, as mudanças. Jean-Marie Balestre, também abalado pela morte de Henri Toivonen e Sergio Cresto no rally, tomou medidas extremamente radicais, banindo o Grupo B e o Grupo S. Alain Prost e Nelson Piquet estava preocupados com as velocidades que os carros estavam atingindo: "350Km/h em uma reta tudo bem, [...] mas 300Km/h após algumas centenas de metros é absolutamente ridículo" dizia o francês, que pedia por uma diminuição rápida na potência dos motores.

A FOCA se reuniria com Balestre para decidir o futuro da categoria, com todos concordando em diminuir para 600cv a potência dos motores. Ron Dennis é a exceção, dizendo que não foi a potência do motor que matou Elio de Angelis, mas sim uma falha na asa. O inglês estava certo em reclamar. Mas, no sábado, dia 17, Balestre emitiu o comunicado oficializando as mudanças. A FISA ainda iria discutir outras para diminuir a pressão do turbo e o diâmetro do compressor.


Para piorar, Jean-Marie mudou o traçado de Paul Ricard, diminuindo o tamanho da Reta Mistral e retirando os esses Verrière. Em contrapartida, todo teste agora deveria ter uma ambulância, um helicóptero e um médico de plantão.

A consciência de todos estava pesada quando o circo chegou em Spa-Francorchamps, quase duas semanas depois da tragédia. A Brabham tinha apenas um carro para Riccardo Patrese, enquanto o #8 que era de de Angelis estava sendo preparado para Derek Warwick. A BMW, fornecedora de motores para a equipe inglesa e para Arrows e Benetton, disse que tinha a intenção de ter uma equipe própria em 1988, e com um nome já selecionado: Niki Lauda.

A Ferrari tinha novos turbos e uma suspensão traseira modificada. A Honda melhorara a recuperação de velocidade de seu motor e a Lotus trocou a parte traseira do 98T pelo do 97T de 1985. Enquanto isso, na Tyrrell, Philippe Streiff correria com a câmera onboard, uma das principais atrações para 1986.

Nos treinos, Gerhard Berger brilhou, marcando o tempo mais rápido no Q1 e só perdendo a pole position nos últimos minutos do Q2. Sendo assim, Nelson Piquet partiria da ponta com o austríaco ao seu lado. Alain Prost era terceiro, com Ayrton Senna em quarto e Nigel Mansell, reclamando do tráfego, em quinto. Teo Fabi, na segunda Benetton, era sexto, René Arnoux sétimo, Keke Rosberg apenas oitavo, Michele Alboreto nono e Patrick Tambay décimo.


Stefan Johansson era décimo primeiro, com Martin Brundle ao seu lado. Johnny Dumfries tinha o décimo terceiro melhor tempo, a frente de Thierry Boutsen, Riccardo Patrese e Alan Jones. Com problemas nos dois dias de treinos, Jacques Laffite era apenas décimo sétimo, ao lado de seu ex-companheiro Philippe Streiff. Andrea de Cesaris era o melhor dos piores com o décimo nono posto. Fechando o grid estavam Jonathan Palmer, Marc Surer, Alessandro Nannini, Huub Rothengatter, Piercarlo Ghinzani e Christian Danner.

O domingo amanhece com um belo sol, o que significava que as velhas dúvidas estariam sobre a cabeça de todos nos boxes: os pilotos conseguiriam chegar ao fim? Os mesmos precisariam trabalhar de forma esperta para completar a prova.

Na volta de apresentação, Riccardo Patrese e Christian Danner vão para os boxes com problemas, deixando duas vagas no grid na hora da largada. Na partida, Ayrton Senna se livra de Berger e tenta tomar a ponta, com Rosberg, mais ao fundo, tentando sair da grama após forçar uma forte largada para cima de Fabi.


Pressionado por Senna, Berger joga o carro contra o muro, mas quem estava lá antes era Alain Prost, que tocou na Benetton do austríaco. Confusão. Keke Rosberg é obrigado a dar meia volta, enquanto Patrick Tambay abandona com a suspensão quebrada e Nigel Mansell passa lento pelo local. Graças a confusão, Nelson Piquet escapou ileso para assumir a ponta com Ayrton Senna em segundo.

Prost e Berger vão para os boxes, com o francês trocando a asa dianteira de seu McLaren antes de voltar na penúltima posição. Com Senna e Piquet abrindo, Nigel Mansell é terceiro, Stefan Johansson quarto, Johnny Dumfries quinto, Jacques Laffite sexto, Alan Jones sétimo, Thierry Boutsen oitavo, Michele Alboreto nono e Martin Brundle décimo.

Na terceira volta, Jones, surpreendendo com seu Ford turbo, passa por Laffite e assume o último lugar pontuável. Lutando pela décima segunda posição, Keke Rosberg supera René Arnoux enquanto, mais ao fundo, Christian Danner abandona. Nessa altura, Andrea de Cesaris era décimo quinto com seu Minardi e Huub Rothengatter décimo sexto com seu Zakspeed - posições inimagináveis para ambos.


Com Piquet escapando na liderança, Senna acabaria sendo superado por Mansell na disputa pelo terceiro lugar. A alegria do britânico duraria pouco, já que na volta cinco ele cometeria um erro na Bus Stop, perdendo as posições para o brasileiro da Lotus e para Johansson. Rosberg superou Brundle e Streiff e já é décimo no momento, enquanto Prost tenta se aproximar de Surer, décimo nono colocado.

Duas voltas depois, Keke pararia na Les Combes depois de seu motor TAG-Porsche não resistir às subidas e descidas de Spa-Francorchamps. Essa seria uma das últimas chances para o finlandês manter as esperanças de título vivas. Caindo na tabela, Jones era agora apenas décimo primeiro, na mesma altura em que Johnny Dumfries cometeria um erro antes de ir aos boxes para abandonar.

No oitavo giro, Thierry Boutsen abandona com problemas elétricos, o belga estava lutando para se manter a frente de René Arnoux, que havia acabado de superar as Tyrrell de Brundle e Streiff e agora era sétimo. Surpreendendo, Marc Surer foge de Alain Prost e já é décimo segundo após passar Huub Rothengatter. O atual campeão ainda briga com Riccardo Patrese pelo décimo quinto posto após a rodada de Philippe Streiff na Stavelot.


Se recuperando, Arnoux era sexto na décima primeira volta, tendo superado seu companheiro Jacques Laffite. No giro seguinte, Streiff troca os pneus de sua Tyrrell aos gritos do Tio Ken. E, finalmente, Alain Prost conseguiria passar por Patrese, Nannini e Rothengatter para assumir o décimo terceiro posto. Liderando, Piquet está com a pressão máxima de seu turbo, algo que ele não percebe e que pode custar caro.

No fim da volta dezesseis, o brasileiro pararia nos boxes da Williams para abandonar. O motor Honda não resistiu aos problemas no sistema de controle do FW11, e estava prestes a estourar se o bicampeão continuasse na pista. Agora Ayrton Senna era primeiro, dois segundos a frente de Nigel Mansell, em segundo, e Stefan Johansson em terceiro.

Agora quinto, Arnoux tocaria nos retardatários e danificaria a asa dianteira, sendo obrigado a parar. Na volta seguinte, Laffite faz sua troca de pneus, retornando na sexta posição antes de Martin Brundle também fazer sua parada. Tentando o pulo do gato, Mansell faz sua parada. Oito segundos é um bom tempo que coloca a liderança de Senna em risco. Na volta seguinte, vinte e dois, o brasileiro para e perde a ponta para o inglês. A desordem nos boxes da Lotus custou caro. Em oitavo, após passar Surer, de Cesaris e Fabi, Prost também trocou os pneus, mantendo a posição.

O líder agora era Stefan Johansson. Em décimo, Andrea de Cesaris também faz sua parada nos boxes da Minardi, voltando em décimo segundo antes do abandono de seu companheiro Alessandro Nannini. Na volta vinte e quatro, o sueco da Ferrari fez sua troca, retornando atrás de Michele Alboreto que não deve parar. Com isso, Mansell finalmente assumia a liderança, apenas dois segundos a frente de Senna.


Sexto naquela altura, Martin Brundle abandonaria com a caixa de câmbio quebrada enquanto Rothengatter, décimo terceiro após bom desempenho, superando de forma incrível Jonathan Palmer, também se retirava da prova. Vazamento de água no carro do holandês. Na penúltima posição, René Arnoux abandonaria após estourar seu motor Renault.

Na volta trinta, a classificação era: Nigel Mansell em primeiro, Ayrton Senna segundo, Michele Alboreto terceiro, Stefan Johansson quarto, Jacques Laffite quinto, Alan Jones sexto, Alain Prost sétimo, Teo Fabi oitavo, Marc Surer nono, Andrea de Cesaris décimo, Riccardo Patrese décimo primeiro, Gerhard Berger décimo segundo, Philippe Streiff décimo terceiro e Jonathan Palmer décimo quarto.

Agora a corrida de Mansell era para se livrar dos retardatários, com Senna quase sempre se beneficiando. Quem, no meio disso tudo, se destacou foi Alan Jones com sua Lola Ford, que estava andando no mesmo ritmo do líder da Williams. Infelizmente, o australiano seria obrigado a fazer sua troca de pneus na volta trinta e dois, deixando o sexto lugar para Alain Prost.

A Ferrari começaria a ficar preocupada com a aproximação de Stefan Johansson em cima de Michele Alboreto. A escuderia italiana ainda não marcou mais do que três pontos na temporada e precisa desse resultado, e, como o italiano é o primeiro piloto, o sueco deve deixar que este termine no pódio. Marco Piccinini entraria em desespero voltas depois, quando Johansson começaria a atacar Alboreto na luta pelo terceiro lugar.


Na trigésima sétima volta, de Cesaris fica sem combustível, acendendo o alerta de todos na pista. No giro seguinte, Johansson superaria Alboreto na Les Combes, contrariando ordens de equipe. Ficando sem combustível, Senna é obrigado a diminuir o ritmo, enquanto Alan Jones, com problemas em seu mostrador, para na reta Kemmel. É o fim de uma fabulosa prova do australiano.

No fim, Nigel Mansell conquistaria a terceira vitória de sua carreira, com Ayrton Senna em segundo, Stefan Johansson em terceiro, Michele Alboreto em quarto, Jacques Laffite em quinto e Alain Prost fechando as posições pontuáveis após milagroso desempenho. Surer não cruzaria a linha de chegada, sendo liberado dos boxes depois do fim da corrida para fechar em nono, enquanto Palmer, em situação semelhante, não seria classificado.

Apesar de ser líder do campeonato de pilotos, Ayrton Senna parece pouco feliz depois de enfrentar problemas com sua Lotus durante a corrida. O brasileiro, mais uma vez conseguiu fazer um ótimo trabalho para chegar ao fim, diferentemente de seu compatriota da Williams, que voltou a sofrer com o motor Honda de seu carro. É um momento difícil para Nelson Piquet, que agora vê Nigel Mansell crescer após a vitória.


No pódio, o clima não seria um dos melhores, já que a morte de Elio de Angelis ainda era fortemente sentida. Nigel Mansell foi companheiro do italiano por quatro anos, enquanto Ayrton Senna tinha tido Elio como colega no ano anterior. A Fórmula 1 se encontraria no Canadá, três semanas depois, para a sexta etapa da temporada de 1986 que pintava como uma das melhores dos últimos anos.

RESULTADOS:
  1. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - 1:27:57.925 - 9pts
  2. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - +19.827s - 6pts
  3. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - +26.592s - 4pts
  4. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - +29.634s - 3pts
  5. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - +1:10.690s - 2pts
  6. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - +2:17.772s - 1pt
  7. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - +1 Volta
  8. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - +1 Volta
  9. 17 - SUI - Marc Surer - Arrows BMW - +2 Voltas
  10. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - +2 Voltas
  11. 15 - AUS - Alan Jones - Lola Ford - Falta de Combustível
  12. 4 - FRA - Philippe Streiff - Tyrrell Renault - +3 Voltas
  13. 14 - GBR - Jonathan Palmer - Zakspeed Racing - NC
  14. 23 - ITA - Andrea de Cesaris - Minardi Motori Moderni - Falta de Combustível - OUT
  15. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - Caixa de Câmbio - OUT
  16. 29 - HOL - Huub Rothengatter - Zakspeed Racing - Vazamento de Água - OUT
  17. 24 - ITA - Alessandro Nannini - Minardi Motori Moderni - Motor - OUT
  18. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - Motor - OUT
  19. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - Turbo - OUT
  20. 18 - BEL - Thierry Boutsen - Arrows BMW - Elétrico - OUT
  21. 11 - GBR - Johnny Dumfries - Lotus Renault - Radiador - OUT
  22. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - Motor - OUT
  23. 21 - ITA - Piercarlo Ghinzani - Osella Alfa Romeo - Motor - OUT
  24. 22 - ALE - Christian Danner - Osella Alfa Romeo - Motor - OUT
  25. 16 - FRA - Patrick Tambay - Lola Ford - Colisão - OUT
Esses foram os pilotos que participaram da corrida
Volta Mais Rápida: Alain Prost - 1:59.282 - Volta 31

Curiosidades:
- 425º GP
- XLIV Grande Prêmio da Bélgica
- Realizado no dia 25 de maio de 1986, em Spa-Francorchamps
- 3º vitória de Nigel Mansell
- 10º pódio de Nigel Mansell
- 24º vitória da Williams
- 9º vitória do motor Honda
- 400º GP do motor Ferrari


  • MELHOR PILOTO: Alain Prost
  • SORTUDO: Nigel Mansell
  • AZARADO: Alain Prost
  • SURPRESA: Stefan Johansson
Alain Prost foi espetacular durante todo o fim-de-semana, marcando a pole e só perdendo a vitória pela confusão na largada. De resto, o francês deu show, conseguindo chegar na ótima sexta posição com seu McLaren. Mansell teve sorte, escapou ileso das confusões e, mesmo após rodar, conseguiu arrancar o primeiro lugar de Senna. A boa surpresa veio de Ferrari, com Stefan Johansson conquistando o primeiro pódio da escuderia em 1986 em meio à críticas.


Campeonato de pilotos:
  1. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 25pts
  2. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - 23pts
  3. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - 18pts
  4. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - 15pts
  5. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - 11pts
  6. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - 7pts
  7. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - 7pts
  8. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - 6pts
  9. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - 5pts
  10. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - 3pts
  11. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - 2pts
  12. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - 2pts
  13. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - 1pt

Campeonato de construtores:
  1. GBR - Marlboro McLaren International - McLaren TAG-Porsche - MP4/2C - PRO/ROS - G - 34pts
  2. GBR - Canon Williams Honda Team - Williams Honda - FW11 - MAN/PIQ - G - 33pts
  3. GBR - John Player Special Team Lotus - Lotus Renault - 98T - DUM/SEN - G - 25pts
  4. FRA - Equipe Ligier - Ligier Renault - JS27 - ARN/LAF - P - 12pts
  5. ITA - Scuderia Ferrari SpA SEFAC - Ferrari - F1/86 - ALB/JOH - G - 10pts
  6. GBR - Benetton Formula Ltd. - Benetton BMW - B186 - FAB/BER - P - 8pts
  7. GBR - Data General Team Tyrrell - Tyrrell Renault - 014/015 - BRU/STR - G - 2pts
  8. GBR - Motor Racing Developments - Brabham BMW - BT55 - PAT/ANG - P - 1pt
Imagens tiradas do Google Imagens - GPExpert.com.br - F1-History.deviantart.com

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

GP Memorável 80# - Espanha 1986


Com a TV espanhola aderindo à transmissões ao vivo de corridas da categoria, Bernie Ecclestone sentiu-se atraído por um possível retorno ao país ibérico. E, ao invés de escolher Jarama ou até mesmo Montjuïc para receber a prova, o inglês preferiu dar uma chance para o recém construído circuito de Jerez de la Frontera, uma vez que o prefeito da cidade queria promover o turismo pelas bandas de Sevilha.

Construído em nove meses, o autódromo logo foi criticado pelos pilotos. A falta de áreas de escape, de barreiras de proteção que realmente dessem alguma segurança e a largura da pista foram alguns dos pontos mais criticados. Para piorar, os arredores do circuito pareciam um deserto, com alguns poucos hotéis e estacionamentos sem pavimento. Assim, a Fórmula 1 estava de volta a Espanha depois de cinco anos de ausência...

As semanas entre a abertura do campeonato, no Brasil, e a segunda etapa viram Henri Julien comprar os espólios de um velho RE40 da Renault, se juntando, mais tarde, à uma equipe italiana para a montagem do carro. Parecia que o sonho do velho Julien de trazer a AGS à Fórmula 1 estava próximo de se tornar realidade.


Após permanecerem três dias no Rio, logo depois do Grande Prêmio, os Brabham BT56 traziam mudanças no motor, na suspensão e no coletor de admissão. As Lotus de Senna e Dumfries estavam com novos condutores de admissão, na qual Tyrrell e Ligier ainda não tinham. Já a Ferrari havia gasto o tempo disponível para corrigir as imperfeições do F186, ao mesmo tempo que anunciava o desejo de ingressar na CART em 1987.

E, finalmente, a Tyrrell trouxe o novo 015, com algumas poucas evoluções do 014. Infelizmente, Martin Brundle cometeu um erro nos treinos de sábado e acabou no muro, destruindo as chances de estreia para o 015. Mesmo assim, o britânico saiu feliz após as primeiras voltas feitas no carro, que agora tinha o novo motor Renault.

Já na Renault as coisas andavam de mal a pior. O novo de governo de Jacques Chirac na França havia desencorajado a continuação da equipe na Fórmula 1 como fornecedora de motor, o que queria dizer que o desejo de Georges Besse, CEO da marca, estava prestes a se concretizar. Enquanto isso, Guy Ligier não parecia preocupado com a situação dos compatriotas, afinal, pareciam estar numa guerra silenciosa.


Enquanto a Renault fornecia dois motores para as Lotus, a Ligier recebia apenas um! Ligier ainda afirmava que não havia a preferência por um piloto ou outro dentro de sua equipe, criando uma pequena crise interna, que seria resolvida por um simpático Arnoux que cedeu, gentilmente, o motor para o velho Jacques Laffite.

Nos treinos, Ayrton Senna conquista a 100º pole position para a Lotus com o tempo de 1:21.605, quase um segundo mais rápido do que os Williams de Nelson Piquet e Nigel Mansell. Logo, a legalidade do 98T começou a ser questionada, com acusações de que ele seria dotado de pequenas asas que criam um efeito solo. Gérard Ducarouge negou. Enquanto isso, o brasileiro se vê obrigado a receber massagens do famoso austríaco Willi Dungl, dado os esforços feitos em busca do melhor tempo.

Alain Prost era quarto, com Keke Rosberg em quinto e René Arnoux na ótima sexta posição. Berger abria quarta fila, com Jacques Laffite ao seu lado e Teo Fabi, seguido por Johnny Dumfries, logo atrás. Na décima primeira posição estava o primeiro carro da Ferrari com Stefan Johansson, seguido por Martin Brundle, com o velho chassis 014, e por Michele Alboreto. Mesmo com as mudanças na Brabham, Riccardo Patrese era décimo quarto e Elio de Angelis apenas décimo quinto.


Fechando o grid estavam o Zakspeed de Jonathan Palmer em décimo sexto, o Lola Hart de Alan Jones em décimo sétimo, o outro Lola de Patrick Tambay em décimo oitavo, a Arrows de Thierry Boutsen em décimo nono, a Tyrrell de Philippe Streiff em vigésimo, a Osella de Piercarlo Ghinzani em vigésimo primeiro, a outra Arrows de Marc Surer em vigésimo segundo, a outra Osella de Christian Danner em vigésimo terceiro, Andrea de Cesaris em vigésimo quarto e Alessandro Nannini em vigésimo quinto.

O domingo amanhece sob forte sol e céu aberto, o que não evita a presença de meros 15 mil espectadores nas novíssimas arquibancadas de Jerez, quase vazias e sem nenhum brilho. As criticas a nova era da Fórmula 1, implantada por Bernie Ecclestone, começam nesse sentido. No Warm-Up, Keke Rosberg enfrentou problemas de motor que poderiam prejudicar sua corrida.

Na volta de apresentação, Nannini tem problemas no diferencial e não chega ao grid. Na largada, Ayrton Senna pula a frente com Nelson Piquet em segundo, Nigel Mansell em terceiro, Keke Rosberg em quarto e Alain Prost em quinto. Fabi tocou em Laffite, quebrando sua asa dianteira, tendo que parar, voltando no fim do pelotão.


Ainda na primeira volta, Alan Jones e Jonathan Palmer se colidem e abandonam, seguido por Andrea de Cesaris que, como seu companheiro, enfrentou problemas no diferencial de sua Minardi. No segundo giro, Keke Rosberg supera Mansell e assume o terceiro posto, enquanto Dumfries perde posições para Johansson, Alboreto e Berger.

Rosberg começa a ameaçar Piquet, enquanto o Leão é superado por Alain Prost na disputa pelo quarto lugar. Mais atrás, Riccardo Patrese passa Martin Brundle e assume o décimo segundo lugar antes de abandonar com a quebra de sua transmissão. Na nona volta, Patrick Tambay, décimo quarto naquela altura, para com problemas no freio de seu Lola, retornando na última posição.

No giro seguinte, Piercarlo Ghinzani abandona após o estouro de seu motor Alfa Romeo, mesmo problema que afetaria o companheiro Christian Danner poucas voltas depois. Entre os abandonos dos Osella, Stefan Johansson trava as rodas e bate violentamente na barreira de pneus, conseguindo sair de sua Ferrari antes de cair, em choque, no chão. O sueco teria de ser levado numa maca para o centro médico do autódromo para exames.


Ayrton Senna lidera, com Nelson Piquet em segundo, Alain Prost em terceiro, Nigel Mansell em quarto, René Arnoux em quinto e Jacques Laffite em sexto. Mais ao fundo, Teo Fabi ganha o décimo quinto lugar de Elio de Angelis. Agora com a certeza de que chegará até o fim, Mansell vai a luta pela vitória, ultrapassando Prost e iniciando uma forte pressão sobre Rosberg.

Brundle toma o décimo lugar de Dumfries na mesma altura em que Streiff abandona com o outro Tyrrell. O único carro da Ferrari na pista também enfrenta problemas e abandona. Michele Alboreto era apenas o oitavo colocado, sem chances de ameaçar as Ligier. Na volta seguinte, o motor Renault de Arnoux não resiste ao calor espanhol e leva o francês a abandonar a prova enquanto era sexto.

Com o pelotão da frente tentando superar os retardatários, Mansell usa a pouca paciência de Rosberg para assumir o terceiro posto. Senna começa a fugir de Piquet, que agora é seriamente ameaçado pelo companheiro de equipe. Na abertura da volta 33, o britânico superaria o brasileiro. Poucos tempo depois, foi a vez de Prost superar Rosberg, que agora se preocupa em economizar combustível depois de tanto esforço nas primeiras voltas.


Atacando Senna, Mansell volta a usar a cabeça (o que?), percebe que o brasileiro se atrapalhou com Brundle e assume a liderança. Na mesma volta, Nelson Piquet abandona com superaquecimento, enquanto Laffite se junta ao seu companheiro com os mesmos problemas no motor Renault e Marc Surer para com um vazamento de combustível.

Na sexta posição, Brundle tem pouco tempo para comemorar: seu motor Renault o trai. Johnny Dumfries agora é sexto. No giro 46, Gerhard Berger vai aos boxes trocar os pneus, cedendo o quinto posto para o conde escocês. Nessa altura, Teodorico Fabi já estava na incrível sétima colocação, restando apenas nove carros na pista.

Senna continua atacando Mansell, enquanto, na volta 52, seu companheiro de Lotus abandona com problemas na caixa de câmbio. Atacando Berger, Teo Fabi assume o quinto lugar do austríaco após recuperação espantosa. Nos boxes, Patrick Head prepara pneus novos para seu piloto, que se nega a parar enquanto é atacado pelo brasileiro.


Sem escolha, o britânico vai aos boxes na volta 62 e retorna na terceira posição. Senna lidera Prost por apenas um segundo, mas o francês é incapaz de acompanhar o brasileiro enquanto seus Goodyear se esfarelam no asfalto de Jerez. Mansell agora tira incríveis quatro segundos por volta! Colocando a possível vitória de Ayrton Senna em jogo.

Sem a inteligência que havia tido nas últimas voltas, Nigel Mansell perderia tempo atrás de Alain Prost antes de supera-lo, restando apenas quatro voltas para o fim tendo de chegar em Ayrton Senna, que sofre com o desgaste de seus pneus.

O que o mundo estava vendo era um show de pilotagem tanto por parte do britânico tanto por parte do brasileiro, que resistiria de forma incrível ao ataque alucinado de Mansell. No fim, apenas 0.014s dividiam os dois, a menor diferença entre o vencedor e o segundo colocado desde o GP da Itália de 1971. Prost terminou em terceiro, seguido por Rosberg, Fabi e Berger, que fecharam os lugares pontuáveis.


Depois da corrida, Senna disse que seus pneus estavam destruídos quando ainda restavam sete voltas para o fim, enquanto Mansell esperava ter dado um belo espetáculo para Frank Williams, que devia estar assistindo naquela altura de sua recuperação. Alain Prost estava decepcionado, já que um erro no computador mostrava que deveria andar com prudência por causa do combustível sendo que terminara com incríveis 18 litros no tanque!

Recuperado, Stefan Johansson voltou aos boxes da Ferrari com um belo sorriso, contando que chegou a cair da maca no caminho para o centro médico: "o motorista estava dirigindo como um louco" disse o sorridente sueco que escapou de lesões mais graves.

No campeonato, um novo líder: Ayrton Senna tinha quinze pontos contra nove de Nelson Piquet. Nigel Mansell assumia o terceiro lugar com seis, enquanto Laffite e Prost dividiam o quarto lugar com quatro pontos para cada. Rosberg e Arnoux tinham três e Fabi, Brundle e Berger dois. Na tabela de construtores, Lotus e Williams estavam empatadas com quinze pontos, sendo seguidas por Ligier e McLaren com sete, Benetton com quatro e Tyrrell com dois.

A próxima parada do circo seria na Itália, em Imola, para o Grande Prêmio de San Marino.


RESULTADOS:

  1. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 1:48:47.735 - 9pts
  2. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - +0.014s - 6pts
  3. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - +21.552s - 4pts
  4. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - +1 Volta - 3pts
  5. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - +1 Volta - 2pts
  6. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - +1 Volta - 1pt
  7. 18 - BEL - Theirry Boutsen - Arrows BMW - +4 Voltas
  8. 16 - FRA - Patrick Tambay - Lola Hart - +6 Voltas
  9. 11 - GBR - Johnny Dumfries - Lotus Renault - Caixa de Câmbio - OUT
  10. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - Vazamento de Óleo - OUT
  11. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - Semi-eixo - OUT
  12. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - Superaquecimento - OUT
  13. 17 - SUI - Marc Surer - Arrows BMW - Vazamento de Combustível - OUT
  14. 8 - ITA - Elio de Angelis - Brabham BMW - Transmissão - OUT
  15. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - Semi-eixo - OUT
  16. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - Roda - OUT
  17. 4 - FRA - Philippe Streiff - Tyrrell Renault - Vazamento de Óleo - OUT
  18. 22 - ALE - Christian Danner - Osella Alfa Romeo - Motor - OUT
  19. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - Acidente - OUT
  20. 21 - ITA - Piercarlo Ghinzani - Osella Alfa Romeo - Motor - OUT
  21. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - Transmissão - OUT
  22. 23 - ITA - Andrea de Cesaris - Minardi Motori Moderni - Diferencial - OUT
  23. 14 - GBR - Jonathan Palmer - Zakspeed Racing - Colisão - OUT
  24. 15 - AUS - Alan Jones - Lola Hart - Colisão - OUT
  25. 24 - ITA - Alessandro Nannini - Minardi Motori Moderni - Diferencial - DNS
Esses foram os pilotos que participaram da corrida
Volta Mais Rápida: Nigel Mansell - 1:27.176 - Volta 65


Curiosidades
- 422º GP
- XXVIII Grande Prêmio da Espanha
- Relizado no dia 13 de abril de 1986, em Jerez de la Frontera
- 3º vitória de Ayrton Senna
- 9º pole position de Ayrton Senna
- 100º GP de Keke Rosberg
- 76º vitória da Lotus
- 100º pole position da Lotus
- 350º GP da Lotus
- 19º vitória do motor Renault
- 3º chegada mais apertada da história da F1


  • MELHOR PILOTO: Ayrton Senna
  • SORTUDO: Ayrton Senna
  • AZARADO: Alain Prost
  • SURPRESA: N/H
Desde os treinos classificatórios até a corrida, Ayrton Senna deu show, conquistando uma incrível vitória na base da sorte de ver um Nigel Mansell pouco estratégico. Alain Prost teve azar, pois, sem usasse todo o combustível que dispunha, poderia lutar pela vitória.


Campeonato de pilotos:
  1. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 15pts
  2. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - 9pts
  3. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - 6pts
  4. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - 4pts*
  5. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - 4pts*
  6. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - 3pts**
  7. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - 3pts**
  8. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - 2pts***
  9. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - 2pts***
  10. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - 2pts
* empatados
** empatados
*** empatados

Campeonato de construtores:
  1. GBR - Canon Williams Honda Team - Williams Honda - FW11 - MAN/PIQ - G - 15pts*
  2. GBR - John Player Special Team Lotus - Lotus Renault - 98T - DUM/SEN - G - 15pts*
  3. FRA - Équipe Ligier - Ligier Renault - JS27 - ARN/LAF - P - 7pts**
  4. GBR - Marlboro McLaren International - McLaren TAG-Porsche - MP4/2C - PRO/ROS - G - 7pts**
  5. GBR - Benetton Formula Ltd. - Benetton BMW - B186 - FAB/BER - P - 4pts
  6. GBR - Data General Team Tyrrell - Tyrrell Renault - 014 - BRU/STR - G - 2pts
Imagens tiradas do Google Imagens - GPExpert.com.br - F1-History.deviantart.com

sexta-feira, 25 de março de 2016

GP Memorável 75# - Brasil 1991


Semanas depois do GP dos EUA nas ruas de Phoenix marcado pela vitória arrasadora da dominante combinação Senna-McLaren-Honda, o circo chegava ao Brasil para a segunda etapa da temporada de 1991. Pelo segundo ano seguido, Interlagos era sede da prova que voltava a ter Ayrton como favorito à vitória. Depois de passar anos tentando em vão, o brasileiro estava ainda mais disposto para quebrar o jejum na vigésima edição do Grande Prêmio do Brasil.

Agora com mais condições do que nunca, sem nenhum rival despontando no início da época, Senna era de longe o principal protagonista do fim-de-semana, deixando desfocada as participações de Nelson Piquet, Roberto Moreno e Mauricio Gugelmin. A Ferrari continuava tentando buscar o lugar que foi tomado pela Williams, mas a equipe britânica fez um evolução tão grande á ponto de dar esperanças para Nigel Mansell.


Antes do treino de qualificação, a pré-qualificação era o maior medo de cinco times: Jordan, Fondmetal, Coloni, Lambo-Modena e Dallara. Tendo condições para brilhar, a dupla da Scuderia Italia foi bem nos treinos da manhã, conseguindo passar para a próxima fase ao lado de Andrea de Cesaris e Bertrand Gachot, que alegraram Eddie Jordan. van de Poele e Larini continuavam no barco à deriva da Lambo-Modena, enquanto Chaves e Grouillard tiveram os piores tempos.

Já no treino principal, quatro nomes não conseguiriam uma vaga no grid para domingo, e infelizmente ambas as Footwork estava no meio disso. A parceria com a Porsche não estava sequer perto de sair da lama, deixando Caffi e Alboreto fora da corrida. Com eles, Bailey e Johansson também voltariam para casa mais cedo. Enquanto lá na frente...


Senna mostrou que era o favorito absoluto para a prova, marcou a pole position com o tempo de 1:16.392 e colocou no bolso a dupla da Williams, com Riccardo Patrese em segundo e Nigel Mansell em terceiro. Gerhard Berger era quarto, enquanto Jean Alesi abria a terceira fila na frente do tricampeão Alain Prost. Fechando o top ten estava Nelson Piquet, Maurício Gugelmin, que havia treinado muito bem, Stefano Modena e um surpreendente Bertrand Gachot.

Na décima primeira colocação estava o Lola de Éric Bernard, ao lado dele a Dallara de Emanuele Pirro, enquanto Andrea de Cesaris e Roberto Moreno formavam a sétima fila. Ivan Capelli era décimo quinto, Satoru Nakajima décimo sexto, Aguri Suzuki décimo sétimo, Thierry Boutsen décimo oitavo, JJ Lehto décimo nono e Pierluigi Martini vigésimo.

Fechando o grid: Gianni Morbidelli, Mika Häkkinen, Érik Comas, Gabriele Tarquini e a dupla da Brabham, Mark Blundell e Martin Brundle. O tempo para a corrida não seria um dos melhores, especialmente em Interlagos, onde as forças da natureza são tão instáveis. Apesar da ameaça de chuva, a prova foi iniciada em pista seca, facilitando o trabalho dos pilotos.


Enquanto a luz vermelha ainda era acesa, quem se estava pegando fogo no grid era o carro de Berger, que não enfrentou maiores problemas apesar da fumaça que saiu de sua McLaren nas primeiras curvas. Quando a luz verde se ascendeu, Ayrton Senna pulou na ponta sem problemas, enquanto Mansell superava Patrese e Alesi tomava a quarta colocação.

Mais atrás, Gachot atrapalha Pirro que vai para a grama, caindo para vigésimo sexto. Logo, a primeira desistência: Gabriele Tarquini danifica a suspensão e bate num dos muros de Interlagos. Lá na frente, Ayrton Senna tenta abrir em relação à Nigel Mansell, mas o Leão é forte e se aproxima do brasileiro. Tentando recuperar-se da fraca posição no grid de largada, Moreno supera Bernard e já é décimo primeiro.

No terceiro giro, de Cesaris ultrapassa o francês da Larrousse e agora persegue Moreno. Sem muitas condições para combate, a dupla da Brabham já é superada por Mika Häkkinen e Emanuel Pirro. Liderando, Senna ainda recebe pressão de Mansell, com Patrese em terceiro, Alesi em quarto, Berger em quinto, Piquet em sexto, Prost em sétimo e Modena em oitavo.


Quem surpreende é Maurício Gugelmin, que, com um carro pouco confiável, vem fazendo milagre na nona colocação. Morbidelli e Martini que haviam largado bem com suas Minardi também iniciam uma prova consistente, com Gianni ultrapassando Lehto na disputa pela décima quarta colocação e Pierluigi assumindo o décimo sétimo posto de Boutsen.

O finlandês da Dallara seria o próximo alvo de Martini antes que Maurício Gugelmin desistisse da prova, tendo se envolvido num incidente que queimou suas nádegas no Warm-Up. As dores eram insuportáveis, e na nona volta o brasileiro decidiu bem em parar e abandonar a prova, apesar dela ser tão promissora para a Leyton House.

Em décimo oitavo, Satoru Nakajima roda e abandona, enquanto Senna mantém uma boa distância para Mansell, que por sua vez abre para Patrese e Alesi, que é pressionado por Berger. No décimo oitavo giro, Alain Prost vai aos boxes fazer sua parada, retornando em décimo primeiro. Modena mal teve tempo de comemorar a posição ganha, abandonando com problemas no câmbio.


Câmbio que estava se tornando o grande pesadelo da prova, com muitos pilotos começando a enfrentar dificuldades terríveis nas trocas de marchas. Perseguindo o companheiro Gachot, Andrea de Cesaris abandona na vigésima volta com problemas no motor, sendo seguido por JJ Lehto com a eletrônica de sua Dallara significando um abandono.

Na vigésima sexta volta é a vez de Nigel Mansell parar, sendo a troca de pneus um desastre com o Leão sofrendo problemas no câmbio, só voltando atrás de Riccardo Patrese e Jean Alesi. O britânico ainda tomaria a posição do francês na volta seguinte, quando Senna foi aos boxes e teve mais sorte, voltando com conforto na liderança da corrida.

No vigésimo oitavo giro é a vez de Patrese, Berger e Alesi pararem, o que beneficia Alain Prost, que jogou bem ao parar voltas mais cedo. Com problemas de embreagem, Bernard é obrigado a abandonar a prova logo depois que Martini usou do mesmo artifício de Prost para ultrapassar seu companheiro, tornando-se décimo colocado.


Voltas depois, Patrese toma a terceira posição de Piquet enquanto Berger assume o sexto posto de Alesi. Demorou estranhamente pouco, mas Alain Prost fez sua segunda parada para retornar na sétima colocação, logo atrás de Jean Alesi, que giros depois também pararia, cedendo a posição para o tricampeão. Um pouco mais na frente, Gerhard Berger persegue incansavelmente Nelson Piquet, que é ultrapassado na volta quarenta e cinco, duas antes dele decidir fazer sua primeira parada.

Escalando o pelotão, Pierluigi Martini tinha acabado de assumir a nona colocação quando um erro o tirou da prova. Conseguindo abrir a diferença, Ayrton Senna começa a se acalmar na liderança, conduzindo magistralmente no início de uma leve garoa. Nigel Mansell ainda faria sua segunda parada, mas os problemas na caixa de câmbio se mantinham para tirar o Leão da prova, na volta 59.

Acorrida já não era tão competitiva, e o abandono de Nigel Mansell evidenciava ainda mais que Ayrton Senna passou a dominar a Fórmula 1 de tal maneira que seria impossível detê-lo. Mas como ninguém é perfeito, a caixa de câmbio da McLaren MP4/6 do brasileiro começou a travar, problemas tão piores quanto aqueles enfrentados por Patrese, enquanto Berger sofria com um acelerador que travava regularmente.


Seriam 11 voltas de pura resistência e raça para todos os pilotos na pista, e a chegada da chuva serviu para consagrar ainda mais uma vitória tão esperada. A diferença era enorme, mas não o suficiente para que Riccardo Patrese alcançasse Senna em suas atuais condições, dando ainda mais alegria ao povo brasileiro.

Quando cruzou a linha de chegada em primeiro, não existiam mais palavras para descrever tal momento: Ayrton Senna havia vencido o GP do Brasil! Depois de ficar apenas na sexta marcha durante todas as últimas voltas, o brasileiro teve espasmos musculares em diversas partes do corpo, deixando, sua McLaren morrer no meio da Reta Oposta na Volta da Vitória. A torcida gritava, e ninguém mais sabia o que fazer no meio de tanta alegria.


Fiscais empurraram a McLaren de Senna que voltou a funcionar até onde o brasileiro conseguiu guiar. De maneira tão heroica quanto a vitória de Piquet em Jacarepaguá em 1982, Ayrton vencia definitivamente no Brasil, espantando um último fantasma em sua carreira. Para melhorar, sua situação no campeonato mundial não poderia ser melhor: 20 pontos conquistados dos 20 possíveis, tendo Prost apenas com 9, na segunda colocação.

No pódio, três gladiadores que fizeram do GP do Brasil de 1991 uma prova de resistência às dores e ao cansaço, uma corrida marcada pelo heroísmo mesmo após 71 voltas extremamente monótonas e sem nenhum grande momento... O que uma vitória com sabor à mais não faz, não é mesmo?


RESULTADOS:
  1. 1 - BRA - Ayrton Senna - McLaren Honda - 1:38:28.128 - 10pts
  2. 6 - ITA - Riccardo Patrese - Williams Renault - +2.991s - 6pts
  3. 2 - AUT - Gerhard Berger - McLaren Honda - +5.416s - 4pts
  4. 27 - FRA - Alain Prost - Scuderia Ferrari - +18.369s - 3pts
  5. 20 - BRA - Nelson Piquet - Benetton Ford - +21.960 - 2pts
  6. 28 - FRA - Jean Alesi - Scuderia Ferrari - +23.641s - 1pt
  7. 19 - BRA - Roberto Moreno - Benetton Ford - +1 Volta
  8. 24 - ITA - Gianni Morbidelli - Minardi Ferrari - +2 Voltas
  9. 11 - FIN - Mika Häkkinen - Lotus Judd - +3 Voltas
  10. 25 - BEL - Thierry Boutsen - Ligier Lamborghini - +3 Voltas
  11. 21 - ITA - Emanuele Pirro - Dallara Judd - +3 Voltas
  12. 7 - GBR - Martin Brundle - Brabham Yamaha - +4 Voltas
  13. 32 - BEL - Bertrand Gachot - Jordan Ford - Sistema de Combustível
  14. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Renault - Caixa de Câmbio - OUT
  15. 26 - FRA - Érik Comas - Ligier Lamborghini - Motor - OUT
  16. 23 - ITA - Pierluigi Martini - Minardi Ferrari - Rodada - OUT
  17. 8 - GBR - Mark Blundell - Brabham Yamaha - Motor - OUT
  18. 29 - FRA - Éric Bernard - Lola Ford - Radiador - OUT
  19. 22 - FIN - Jyrki Juhani Järvilehto - Dallara Judd - Elétrico - OUT
  20. 33 - ITA - Andrea de Cesaris - Jordan Ford - Motor - OUT
  21. 4 - ITA - Stefano Modena - Tyrrell Honda - Caixa de Câmbio - OUT
  22. 16 - ITA - Ivan Capelli - Leyton House Ilmor - Transmissão - OUT
  23. 3 - JAP - Satoru Nakajima - Tyrrell Honda - Rodada - OUT
  24. 15 - BRA - Mauricio Gugelmin - Leyton House Ilmor - Físico - OUT
  25. 17 - ITA - Gabriele Tarquini - AGS Ford - Suspensão - OUT
  26. 30 - JAP - Aguri Suzuki - Lola Ford - Bomba de Combustível - OUT
  27. 10 - ITA - Alex Caffi - Footwork Porsche - DNQ
  28. 18 - SUE - Stefan Johansson - AGS Ford - DNQ
  29. 9 - ITA - Michele Alboreto - Footwork Porsche - DNQ
  30. 12 - GBR - Julian Bailey - Lotus Judd - DNQ
  31. 35 - BEL - Eric van de Poele - Lambo-Modena Lamborghini - DNPQ
  32. 34 - ITA - Nicola Larini - Lambo-Modena Lamborghini - DNPQ
  33. 31 - POR - Pedro Chaves - Coloni Ford - DNPQ
  34. 14 - FRA - Olivier Grouillard - Fondmetal Ford - DNPQ
Esses foram os pilotos que participaram do fim-de-semana de GP
Volta Mais Rápida: Nigel Mansell - 1:20.436 - Volta 35


Curiosidades
- 502º GP
- XX Grande Prêmio do Brasil
- Realizado no dia 24 de março de 1991, em Jacarepaguá
- 28º vitória de Ayrton Senna
- 88º vitória da McLaren
- 210º pódio da McLaren
- 60º vitória do motor Honda
- 30º melhor volta do motor Renault
- 50º GP do motor Judd

  • MELHOR PILOTO: Ayrton Senna
  • SORTUDO: Ayrton Senna
  • AZARADO: Maurício Gugelmin
  • SURPRESA: N/H
Ayrton Senna guiou de forma magistral, mostrando que não era mais o mesmo Ayrton que havíamos conhecido na década de 80, muitas vezes sem cabeça em determinadas situações. O brasileiro ainda contou com a sorte que todo o campeão deve ter, resistindo à dois pilotos que sofriam de problemas semelhantes. Gugelmin tinha tudo para marcar pontos com sua Leyton House, mas o incidente no Warm-Up estragou qualquer possibilidade de festa em Interlagos.


Campeonato de Pilotos:
  1. 1 - BRA - Ayrton Senna - McLaren Honda - 20pts
  2. 27 - FRA - Alain Prost - Scuderia Ferrari - 9pts
  3. 6 - ITA - Riccardo Patrese - Williams Renault - 6pts
  4. 20 - BRA - Nelson Piquet - Benetton Ford - 6pts
  5. 2 - AUT - Gerhard Berger - McLaren Honda - 4pts
  6. 4 - ITA - Stefano Modena - Tyrrell Honda - 3pts
  7. 3 - JAP - Satoru Nakajima - Tyrrell Honda - 2pts
  8. 30 - JAP - Aguri Suzuki - Lola Ford - 1pt
  9. 28 - FRA - Jean Alesi - Scuderia Ferrari - 1pt
Campeonato de Construtores:
  1. GBR - Honda Marlboro McLaren - McLaren Honda - MP4/6 - SEN/BER - G - 24pts
  2. ITA - Scuderia Ferrari - Ferrari - 642 - PRO/ALE - G - 10pts
  3. GBR - Camel Benetton Ford - Benetton Ford - B190B - MOR/PIQ - P - 6pts
  4. GBR - Canon Williams Team - Williams Renault - FW14 - MAN/PAT - G - 6pts
  5. GBR - Braun Tyrrell Honda - Tyrrell Honda - 020 - NAK/MOD - P - 5pts
  6. FRA - Larrousse F1 - Lola Ford - LC91 - BER/SUZ - G - 1pt
Imagens tiradas do Google Imagens - F1-History.deviantart.com - GPExpert.com.br