quarta-feira, 23 de março de 2016

GP Memorável 74# - Brasil 1986



Os rigorosos testes de inverno haviam acabado com um acidente que poderia ter sido fatal para uma das principais figuras de todo o circo. O Ford Sierra alugado de Frank Williams não ficou totalmente destruído, mas o impacto foi forte o suficiente para lesionar gravemente o inglês que perdeu todos os seus movimentos a partir do pescoço. Fundador e chefe da equipe Williams, Frank não estaria presente no Brasil para o primeiro fim-de-semana de GP da temporada de 1986.

As intensa troca de cadeiras foi ainda mais forte entre 1985 e 1986. Niki Lauda havia se aposentado, Elio de Angelis não tinha mais o apoio da Lotus, Stefan Bellof havia morrido e a Ligier tinha perdido todo o carinho que tinha para Philippe Streiff. Na atual campeã do mundo, poucas mudanças no novo MP4/2C, com a contratação de Keke Rosberg sendo o grande destaque do time.

Warwick testa, em vão, pela Lotus...

Na Tyrrell, Philippe Streiff tem a chance de continuar com sua carreira a Fórmula 1, agora como companheiro definitivo de Martin Brundle. A Williams, que perdeu Rosberg para a McLaren, ganhou Nelson Piquet, pronto para voltar aos dias de glória nos tempos de Brabham, que por sua vez vinha com uma dupla renovada, formada pelo já conhecido Riccardo Patrese e por Elio de Angelis, que chegava à equipe com status de líder, pronto para levar o novo, e radical, projeto de Gordon Murray para frente.

A Lotus era incapaz de colocar dois carros na mesma condição, e Senna se viu num empasse antes de vetar Derek Warwick na equipe, deixando a vaga para o Barão Crichton-Stuart, mais conhecido como Johnny Dumfries. Continuando com apenas um carro, a Zakspeed manteve Jonathan Palmer para a temporada de 1986, com esperança de colher bons frutos plantados em 1985. A nova empreitada americana na categoria vinha com uma dupla de pré-aposentados, formada por Alan Jones e Patrick Tambay. O projeto do motor turbo da Ford Cosworth não era promissor, obrigando a equipe utilizar os antigos Hart L4 nas primeiras etapas.

Seria o imprevisível Rosberg um candidato ao título?

Pela terceira temporada seguida, a Arrows começava a época com Thierry Boutsen sendo um de seus pilotos, que agora voltava a ter a companhia de Marc Surer. Enquanto isso, Toleman era vendida à Benetton, que tinha finalmente uma equipe na Fórmula 1. A dupla era formada por Teodorico Fabi e pelo jovem Gerhard Berger, parecendo estar mais estável para sua terceira temporada.

A Osella trouxe de volta Piercarlo Ghinzani, agora como companheiro de Christian Danner, que substituiu Jonathan Palmer em algumas etapas da temporada de 1985. Já a rival de quintal italiano trazia uma dupla totalmente nacional, formada pelo estreante Alessandro Nannini e pelo grandioso Andrea de Cesaris, que havia saído da Ligier na metade do ano anterior. A Ligier, por sua vez, tinha uma dupla extremamente experiente.

Jacques Laffite e René Arnoux dividiram as atenções do time francês que se tornou esperançosa após os primeiros testes da pré-temporada. A Ferrari que havia demitido misteriosamente Arnoux ainda no início de 1985 era a única equipe grande que matinha a dupla do ano anterior, com Michele Alboreto e Stefan Johansson em seus bólidos.

Elio de Angelis em sua bela Brabham "skate"

No primeiro fim-de-semana oficial, é Nelson Piquet que acaba embatendo contra o muro, perdendo a chance de batalhar pela pole position com Ayrton Senna e Nigel Mansell. A Lotus comemorou o ótimo início, mas sabia que uma pole não representava muito num circuito como Jacarepaguá. Piquet e Mansell vinham logo atrás de Senna no grid de largada, sendo seguidos por Arnoux e Laffite que traziam ares de surpresa para a prova.

Michele Alboreto era apenas sexto, tendo Keke Rosberg entre ele seu companheiro de equipe Stefan Johansson. O atual campeão do mundo não teve nenhum desempenho agradável na qualificação, conquistando um mero décimo posto no grid, ao lado de Riccardo Patrese e sua Brabham "skate". Johnny Dumfries era o décimo primeiro com sua Lotus, tendo Teo Fabi, Patrick Tambay e Elio de Angelis logo atrás.

Fechando o grid estavam: Thierry Boutsen em décimo quinto, Gerhard Berger em décimo sexto, Martin Brundle em décimo sétimo, Philippe Streiff em décimo oitavo, Alan Jones em décimo nono, Marc Surer em vigésimo, Jonathan Palmer em vigésimo primeiro, Andrea de Cesaris em vigésimo segundo, Piercarlo Ghinzani em vigésimo terceiro, Christian Danner em vigésimo quarto e Alessandro Nannini na vigésima quinta e última colocação na sua prova de estreia.

Mansell largou bem, mas a sua combinação explosiva com Senna não foi
nada boa

No domingo, mais sol para esquentar as cabeças dos cariocas. Na partida, Nelson Piquet mais uma vez pula mal, perdendo a segunda posição para Nigel Mansell que ataca sem reconhecimento a liderança de Ayrton Senna. Logo, como nenhuma das duas bombas ambulantes podia andar uma perto da outra, o Leão acabou se perdendo na Curva Sul, batendo no guard-rail e abandonando.

René Arnoux agora era terceiro, seguido por Michele Alboreto, Keke Rosberg, Stefan Johansson e Riccardo Patrese, enquanto Jacques Laffite caíra para oitavo e Alain Prost não tinha pulado bem na partida, caindo para o décimo terceiro posto. Quando percebeu que tinha grandes chances de tomar a ponta de Senna, Piquet não desperdiçou-a e colocou-se na primeira colocação já na terceira volta.

Com Alboreto mostrando uma certa recuperação em relação ao péssimo fim de 1985, Arnoux perde a terceira posição para o italiano, enquanto, mais atrás, Prost supera Dumfries e Boutsen e de Cesaris conquista a posição de Gerhard Berger e Teo Fabi. A prova está movimentada, ocasionando nos primeiros abandonos. Jones e Rosberg já não passam da volta 7.

Os azares começaram cedo para o finlandês

Apesar do péssimo início do companheiro, Alain Prost faz prova de recuperação e já é sétimo após superar Jacques Laffite. Dez voltas depois, o francês já era o quarto colocado após ultrapassar Riccardo Patrese, Stefan Johansson e René Arnoux. Apesar da posição conquistada, o francês não era o homem que mais dava show em Jacarepaguá até aquele momento, já que Andrea de Cesaris passou por Elio de Angelis, Martin Brundle, Johnny Dumfries, Thierry Boutsen e Patrick Tambay para ser o nono colocado com sua pouca confiável Minardi.

Enquanto Berger tentava se recuperar, Fabi enfrentava problemas que o colocaram na última posição. Na décima primeira volta, Jacques Laffite ultrapassa Riccardo Patrese e se torna sétimo colocado, logo atrás de Johansson. Prost está tendo uma recuperação fenomenal, e após superar Alboreto no décimo sexto giro já parte para cima de Ayrton Senna. A prova ainda era intensa, e com o início das paradas tudo podia mudar.

Depois de parar, Stefan Johansson entregou a sexta posição para um surpreendente Andrea de Cesaris, que havia acabado de superar Patrese e Laffite. Infelizmente, o italiano abandonaria com problemas no turbo enquanto, algumas voltas depois, Piquet e Alboreto iam aos boxes. O brasileiro saiu sem problemas na terceira posição, mas o italiano acabou caindo para o décimo quarto posto, tirando todas suas chances de um bom resultado na prova de abertura.


As surpreendentes Ligiers de Arnoux e Laffite ainda se mantinham na pista quando Alain Prost assumiu a ponta de Ayrton Senna, que foi para a troca de pneus. Correndo na décima quarta posição, Elio de Angelis perde uma de suas rodas, já preparando-o para o duro ano que está por vir. Quem estava se beneficiando com as paradas e um carro consideravelmente estável era Tambay, sexto colocado antes de abandonar.

Johansson retomou a posição na qual estava antes de parar, mas teve pouco tempo para aproveita-la, já que os freios de sua Ferrari se tornaram incapacitados no calor do Rio de Janeiro. Até então sem muitas perspectivas, Boutsen, Dumfries, Brundle e Berger passam a ter boas chances de um top six logo no início da temporada.

Lá na frente, Piquet retoma a ponta, com Ayrton Senna em segundo e Alain Prost caindo para terceiro. No giro trinta, marcado pela parada de Laffite, o atual campeão do mundo começa a ter problemas em seu motor TAG-Porsche, sendo obrigado a abandonar na estreia do novo MP4/2C. Já com mais de 30 voltas completadas, Piquet é líder, Senna é segundo, Arnoux terceiro, Laffite quarto, Dumfries quinto e Alboreto sexto.

Dois anos depois de marcar seus primeiros pontos, Brundle finalmente
termina entre os seis primeiros com um carro turbo

O mais surpreendente era ver o companheiro de Ayrton Senna na zona de pontos, mesmo não tendo as mesmas condições do brasileiro, porém, logo em sua parada, ficou claro que a Lotus não tinha a qualidade de colocar dois carros do mesmo nível na pista. Dumfries fez sua parada na volta trinta e oito, sendo ela um verdadeiro desastre que tacou pontos importantes no lixo. O britânico retornou à pista na nona posição, quando apenas dez carros ainda corria.

Quem se beneficiava com os problemas de Dumfries e com o abandono de Alboreto era Berger, agora quinto colocado com sua Benetton. Sendo perseguido por Martin Brundle, logo perde a posição para o britânico, mantendo o ótimo sexto posto até o fim da prova. Lá na frente, as últimas trocas de pneus da prova acontecem sem muito alarde ou mudanças.


Nas últimas voltas, a prova passa a ser monótona, tendo como melhor momento a disputa entre Arnoux e Laffite pelo pódio. Poucos meses depois de Adelaide, a Ligier voltava a ter seus dois carros batalhando pelo top three, mas agora com menos nervosismo ao ver toda a experiência de seus pilotos entrar em jogo. No fim, foi o mais velho do grid que ganhou do companheiro.

Sem nenhuma mudança até a 61º e última volta, Nelson Piquet conquistou sua última vitória no GP do Brasil realizado em Jacarepaguá, com Ayrton Senna e Jacques Laffite fechando o pódio. René Arnoux ainda foi quarto no seu retorno à categoria, enquanto Martin Brundle marcou seus primeiros pontos com um carro turbo e Gerhard Berger começou o ano com mais cabeça do que nunca...


RESULTADOS:
  1. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - 1:39:32.583 - 9pts
  2. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - +34.827s - 6pts
  3. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - +59.759s - 4pts
  4. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - +1:28.429s - 3pts
  5. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - +1 Volta - 2pts
  6. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - +2 Voltas - 1pt
  7. 4 - FRA - Philippe Streiff - Tyrrell Renault - +2 Voltas
  8. 8 - ITA - Elio de Angelis - Brabham BMW - +3 Voltas
  9. 11 - GBR - Johnny Dumfries - Lotus Renault - +3 Voltas
  10. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - +5 Voltas
  11. 18 - BEL - Thierry Boutsen - Arrows BMW - Escapamento - OUT
  12. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - Sistema de Combustível - OUT
  13. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - Motor - OUT
  14. 22 - ALE - Christian Danner - Osella Alfa Romeo - Motor - OUT
  15. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - Freios - OUT
  16. 16 - FRA - Patrick Tambay - Lola Hart - Bateria - OUT
  17. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - Vazamento de Água - OUT
  18. 14 - GBR - Jonathan Palmer - Zakspeed Racing - Motor - OUT
  19. 17 - SUI - Marc Surer - Arrows BMW - Motor - OUT
  20. 24 - ITA - Alessandro Nannini - Minardi Motori Moderni - Embreagem - OUT
  21. 23 - ITA - Andrea de Cesaris - Minardi Motori Moderni - Turbo - OUT
  22. 21 - ITA - Piercarlo Ghinzani - Osella Alfa Romeo - Motor - OUT
  23. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - Motor - OUT
  24. 15 - AUS - Alan Jones - Lola Hart - Injeção - OUT
  25. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - Rodada - OUT
Esses foram os pilotos que participaram da corrida
Volta Mais Rápida: Nelson Piquet - 1:33.546 - Volta 46


Curiosidades:
- 421º GP
- XV Grande Prêmio do Brasil
- Realizado no dia 23 de março de 1986, em Jacarepaguá
- 14º vitória de Nelson Piquet
- 10º pódio de Ayrton Senna
- 30º pódio de Nelson Piquet
- 1º GP de Alessandro Nannini
- 1º GP de Johnny Dumfries
- 23º vitória da Williams
- 1º GP da Benetton
- 8º vitória do motor Honda


  • MELHOR PILOTO: Nelson Piquet
  • SORTUDO: Gerhard Berger
  • AZARADO: Johnny Dumfries
  • SURPRESA: Andrea de Cesaris
Nelson Piquet deu uma aula de como se comportar numa prova marcada pelo intenso calor e os inúmeros problemas mecânicos, conquistando mais uma vitória sem enfrentar muitas dificuldades. Quem teve sorte em estar nas seis primeiras posições foi Gerhard Berger, que estava longe de ter chances de marcar pontos com sua Benetton, diferentemente de Johnny Dumfries, que viu a Lotus tacar todas as suas probabilidade de começar a carreira com o pé direito. Andrea de Cesaris surpreendeu, correu como louco até abandonar ainda no início da prova. Apesar do desempenho impressionante, creio que a pressão de seu turbo era superior ao dos outros bólidos.


Campeonato de Pilotos:
  1. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - 9pts
  2. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 6pts
  3. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - 4pts
  4. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - 3pts
  5. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - 2pts
  6. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - 1pt
Estreia com o pé direito

Campeonato de Construtores:
  1. Canon Williams Honda Team - Williams Honda - FW11 - MAN/PIQ - G - 9pts
  2. Équipe Ligier - Ligier Renault - JS27 - ARN/LAF - P - 7pts
  3. John Player Special Team Lotus - Lotus Renault - 98T - DUM/SEN - G - 6pts
  4. Data General Team Tyrrell - Tyrrell Renault - 014 - BRU/STR - G - 2pts
  5. Benetton Formula Ltd - Benetton BMW - B186 - FAB/BER - P - 1pt
Imagens tiradas do Google Imagens - GPExpert.com.br - F1-History.deviantart.com

Um comentário:

  1. Maravilha estou em pleno 2020 acompanhando essa temporada e sempre vou ler o resumo da corrida por aqui

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