sábado, 14 de maio de 2016

30 anos - A morte de Elio de Angelis


Elio de Angelis havia saído de maneira conturbada da Lotus, equipe na qual havia passado a maior e mais vitoriosa parte de sua carreira, vencendo duas corridas e conquistando nove pódios. O time inglês não tinha mais as condições de preparar dois carros em iguais para sua dupla de pilotos, sendo obrigada a fazer uma dura escolha: beneficiar o jovem e talentoso Ayrton Senna ou priorizar o experiente Elio de Angelis?

A situação era ainda mais difícil pelo fato do italiano estar na frente do brasileiro na tabela de pilotos, conquistando resultados mais consistentes do que o veloz Senna. Porém, Ayrton tinha uma carta na manga: estava sempre entre os primeiros, tendo performances dignas de um campeão. A Lotus teria de apostar entre o mais e o menos seguro, arriscando perder o terceiro lugar no campeonato de construtores para a crescente Williams.

Não é necessário sequer comentar sobre quem foi escolhido, apenas que a escolha seria determinante para o futuro de Elio de Angelis. Quase resignado, de Angelis tinha uma nova proposta encantadora: a Brabham precisava de um primeiro piloto. A ida de Nelson Piquet para a Williams mudaria drasticamente o mercado de pilotos, e a melhora súbita da equipe do brasileiro na parte final da temporada tornou a proposta inegável. Elio iria correr ao lado de Patrese em 1986.


O carro seria o BT55, um projeto ambicioso de Gordon Murray, que deixava o bólido com aspecto baixo e largo, belíssimo em comparação aos padrões altos e robustos da época. Apelidado de "carro-skate", o BT55 sofria grande falta de confiabilidade, sobretudo na zona mais crítica do carro: a traseira. O motor L4 da BMW não se encaixava corretamente no chassis por causa de sua altura, e a transmissão não colaborava nada.

A estreia em Jacarepaguá foi um desastre, com uma roda perdida e um 11º lugar ao fim da prova, três giros atrás do vencedor Nelson Piquet. Semanas depois, em Jerez, a caixa de câmbio deixaria o italiano á pé pela primeira vez no ano. Para agravar a crise que se instaurava na Brabham, de Angelis abandonaria em Imola e Monte Carlo por causa de problemas no motor.

A situação era nada boa no campeonato, e para tentar mudar isso a Brabham se inscreveu numa sessão de testes em Paul Ricard, marcada para o dia 14 maio, apenas algumas horas após o GP de Mônaco. Outras equipes como McLaren e Williams também participariam dos testes no circuito de Le Castellet.


Inicialmente, a ideia era levar Riccardo Patrese, no entanto, de maneira estranha, Elio de Angelis se prontificou a participar dos testes, alegando que sua performance desapontadora em Mônaco jamais deveria se repetir. O fato mais surreal de tudo isso é que o italiano nunca gostou de participar de sessões de testes...

Quando foi à pista com seu BT55, de Angelis se perdeu nos esses da Verrière após sofrer uma grave falha na asa traseira, capotando várias vezes antes de saltar o guard-rail direito da pista, vindo a parar capotado, 91 metros de distância do embate inicial, e sem condições de se livrar das ferragens. Elio estava preso debaixo de seu carro...

Até hoje, existem apenas duas testemunhas do acidente, ambas mecânicos da Benetton que estavam verificando a velocidade atingida pelo carro da equipe. O que estava ocorrendo era absurdo: de Angelis ficou 10 minutos preso embaixo do carro, com esse tendo um principio de incêndio.

A primeira pessoa a aparecer foi nada menos nada mais do que Alan Jones, que mais tarde comentou: "Não havia nada que eu pudesse fazer, eu só fiquei lá com minhas mãos no ar.". Logo, Alain Prost e Nigel Mansell também apareceram para ajudar, tentando retirar Elio das ferragens, mas em vão, com o calor intenso que impossibilitava qualquer trabalho dos pilotos.


Um fiscal vestindo shorts e camiseta se apresentou para socorrer o italiano, tentando apagar as labaredas que afligiam o BT55. Logo, Jones percebeu que a maior parte do pó havia atingido a cabine do piloto e não o incêndio que estava no motor, o que estava fazendo um mal ainda maior á saúde de Elio, que só seria extraído 10 minutos após o acidente.

Mostrando a total falta de organização nas sessões de testes da época, não havia um helicóptero de emergência no autódromo, e a espera seria dolorosa: meia-hora até que de Angelis fosse levado para o hospital de Marselha.

O acidente tinha sido violentíssimo, mas o BT55 havia resistido muito bem ao impacto, o que se apresentou como verdade após de Angelis chegar ao hospital com "apenas" a clavícula quebrada e queimaduras nas costas, o que exalta o ótimo trabalho do projetista Gordon Murray. Porém, o incêndio havia privado Elio de todo gás oxigênio necessário para a sobrevivência de um ser humano...

Na noite do dia 14, Dr. Sid Watkins foi chamado por um cirurgião do hospital de Marselha, sendo informado que o italiano havia sofrido extensos danos cerebrais e que a situação era quasse irreversível. Vinte e nove horas depois, já na quinta-feira do dia 15, a morte de Elio de Angelis foi confirmada, com a causa oficial sendo graves ferimentos na cabeça e no peito.


Logo após a morte do carismático e querido italiano, Jean-Marie Balestre veio a público introduzir uma série de mudanças, entre elas a redução de potência dos motores turbo a partir de 1987 (culminando em seu banimento em 1988) e o novo traçado de Paul Ricard para as provas de Fórmula 1, sem os esses da Verrière e apenas com parte da Reta Mistral.

As mudanças foram vistas como exageradas, especialmente pelo fato de que o traçado não contribuiu em nenhum momento para a fatalidade que levou a vida de de Angelis.

Para mostrar que Balestre errou ao mutilar Paul Ricard na Fórmula 1, lembro do que o ocorreu semanas depois no GP da França, quando Philippe Streiff estourou o motor de seu Tyrrell e foi necessária a presença de um caminhão dos bombeiros para que o fogo se extinguisse. Esse mesmo caminhão que acabou andando na contra-mão em pleno pit lane e sujando a pista...

No mais, o que ocorreu com Elio de Angelis foi uma fatalidade da mesma magnitude daquela ocorrida com Ayrton Senna, e suas soluções foram tão importantes para o futuro da categoria quanto as mesmas que aconteceram após as mortes de Ratzenberger e Ayrton em 1994...

Adeus, Elio...

Imagens tiradas do Google Imagens

7 comentários:

  1. Realmente, foi lamentável e uma grande perda...

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  2. Uma grande perda de um bom ser humano

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  3. Cruel demais a Fórmula 1 nessa época era só dinheiro não que seja muito diferente de hoje mais consiga ser pior.

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  4. Um piloto talentoso que teve um triste e trágico fim.

    "A situação era ainda mais difícil pelo fato do italiano estar na frente do brasileiro na tabela de pilotos, conquistando resultados mais consistentes do que o veloz Senna."

    Não entendi. Senba ficou à frente na pontuação ao fim do campeonato. Teve sete pole positions e seis pódios, com duas vitórias, contra uma pole position e três pódios, sendo uma vitória de Elio de Angelis. Obde estão os "resultados mais consistentes" e o "estar à frente" do Elio em relação ao Ayrton?!!

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    1. Na verdade até o GP da Áustria Senna tinha apenas os 9 pontos da vitória de Portugal. Desse GP até os seis restantes, foi uma arrancada até chegar aos 38 pontos e o quarto lugar no fim do campeonato.

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  5. até antes do GP da Bélgica, Deangelis liderava e com sobras, provavelmente ali foi quando eu assinaou sua saida e este ponto que o artigo se refere. depois disto, uma vitoria e um segundo para Senna (15 pts) e um quinto para Deangelis (2 pts), com isto Senna ficou 5 pontos a frente quando antes estava 8 atras.

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