sexta-feira, 4 de março de 2016

O fazendeiro mais rápido da história


Há alguma palavra que descreve James Clark Jr? Não é possível falar sobre o escocês de maneira simplória e sem exaltação, especialmente pelo seus feitos na pista e seu modo de viver fora delas. Fazendeiro à ponto de se considerar um homem do campo mais do que piloto, uma pessoa humilde e simples que gostava daquilo que fazia.

Numa época em que os problemas mecânicos eram normais, Clark tinha uma habilidade natural de evitar eventuais problemas nos carros tão instáveis feitos por Colin Chapman. A sua maneira suave de dirigir é uma referência, sem maltratar o carro ao simplesmente deixa-lo guiar até a vitória. Seus feitos apenas engrandecem um homem que já era amado no paddock.


A desolação de perder um companheiro também era sentida grandemente pelo escocês, que, infelizmente, se envolveu num dos piores acidentes da história da Fórmula 1 quando Wolfgang von Trips levantou voo sobre seu carro no GP da Itália de 1961, vitimando mais de uma dezena de espectadores além do próprio alemão. Jim só não abandonou a categoria depois que Colin Chapman conseguiu a façanha de segura-lo na equipe, boa parte graças a vitória de Ireland na última etapa da temporada.

O futuro que aguardava um simples pastor de ovelhas era gigantesco. Um carro revolucionário levou Clark para sua primeira vitória e, consequentemente, à sua primeira grande rivalidade. Uma rivalidade que muitas vezes deve ser chamada de amizade. Jimmy e Graham formavam uma dupla formidável de amigos e ao mesmo de grandes rivais, com o escocês levando vantagem em cima do inglês que sofria com a falta de equipamento.

Hill queria voltar ao topo, mas para isso deveria ir para Maranello ou voltar para os braços de Colin Chapman. A escolha foi óbvia, mas faltava algo para coloca-lo de volta ao páreo: a aprovação de Clark. Diferentemente de muitos nomes que discutimos atualmente, o humilde escocês voador aceitou o novo desafio.


Até 1967, quando eles se tornaram companheiros de equipe, Clark já havia se perguntado muitas vezes se aquilo valia a pena. Apesar de ter perdido o título em 1962 e 1964 por falta de confiabilidade, e ter se tornado bicampeão com a melhor campanha da história (único piloto a conquistar dois títulos com todos os pontos possíveis), parecia que aquilo ainda não era tudo. Jimmy queria formar uma família.

Fatalidades atrás de fatalidades eram apenas um presságio do que estava por vim a partir de 1968. Clark mesmo assim se mantinha firme como piloto, mostrando que o amor pelo automobilismo pode superar qualquer medo ou problema na vida. Suas cinco participações nas 500 Milhas de Indianápolis, as miseras três vezes em que correu nas 24 Horas de Le Mans, seu tricampeonato na Tasman Series, suas várias vitórias espalhadas por corridas extra-campeonatos, além de outras na Fórmula 2, e as milhares de participações em diversas categorias pelo mundo mostram a grandeza e o amor que esse homem sentia pelo que fazia. Um piloto versátil, duro de se achar nos dias de hoje.

Jimmy ao lado de Dan

De muitos nomes que já correram ao seu lado, Jim temia apenas um: Dan Gurney. De todos em que correu junto, Masten Gregory era seu herói. E de todos que já haviam sido os melhores, Juan Manuel Fangio era sua inspiração.

Mesmo com suas múltiplas conquistas, o dinheiro parecia que não mudava aquele homem simples que muitos passaram a gostar desde sua chegada ao circo. Jimmy era tão idolatrado pelos outros pilotos que parecia ser impossível que ele se acidentaria. Quem bateu? Jim? Não pode ser, você deve estar se confundindo.

Se Jim Clark sofresse um acidente, todos sabiam que era por uma falha mecânica, já que o erro humano seria impossível para alguém com tanta suavidade e inteligência atrás do voltante. Sem nenhum ataque de loucura que caracteriza Gilles Villeneuve e Nigel Mansell, o escocês voador alcançou a Fórmula 1, derrotou os melhores pilotos do Novo e do Velho Mundo, e só não venceu a morte...


Se existe algo que dá ainda mais emoção no esporte à motor é você passar ao lado da Dona Morte, brincar com ela, e sair como nada tivesse acontecido. O que vale a vida se ela não tiver obras, ou melhor, o que lembrarão de você quando deixardes o mundo? Jimmy deixou sua marca, foi o melhor de seu tempo, ou talvez o melhor de todos. Um piloto calmo, que usou a inteligência para conquistar tudo que foi possível fazendo aquilo que ama.

Jim Clark, o fazendeiro que cresceu, se tornou o melhor, e morreu fazendo aquilo que sempre mais amou.

Imagens tiradas do Google Imagens

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