sábado, 5 de março de 2016

A morte da Fórmula 1


Para muitos a Fórmula 1 está morrendo há anos, enquanto para outros ela só começa a morrer a partir de agora. Quando Kimi Räikkönen entrou na pista com aquilo que chamam de "dispositivo de segurança", o Halo, acabei me decepcionando totalmente com a categoria. Como se não bastasse a confirmação que isso será utilizado nas próximas temporadas, acho que a pior coisa foi ver a Ferrari já instalando e fazendo testes nesta pré-temporada.

Salvar vidas? De todos os acidentes fatais com mais destaques na mídia, acredito que o único que poderia se safar era Henry Surtees, e, no máximo, Justin Wilson. Jules Bianchi poderia ter uma lesão ainda mais grave com a instalação do Halo, já que sua morte foi causada pela desaceleração após o impacto do santantônio no trator, e Felipe Massa provavelmente não escaparia da mola soltada pelo Brawn de Rubens Barrichello.


Outro caso que gostaria de debater envolve o acidente de Fernando Alonso com Kimi Räikkönen: E se o bico da McLaren passasse por baixo da proteção? Iria direto à cabeça do campeão de 2007, e quais poderiam ser as consequências? Gostaria de saber...

A propaganda feita pela Havaianas e pela Microsoft deve ter valido uma 'grana preta', como se não bastasse muitos fãs afirmarem que os pilotos da atualidade são de videogame e pilotam com joysticks. Atualmente o perigo está longe de ser o principal elemento do automobilismo, sendo que a segurança está sempre em primeiro lugar.

Antigamente o esporte à motor era feito para pilotos que realmente tinham colhões para brincar com a morte e sair como nada tivesse acontecido. O motociclismo ainda guarda muito disso, então por que não iniciamos uma discussão para adotarmos bolhas envolta das motos? Seria muito seguro, e de quebra ainda poderíamos banir as provas em Isle of Man e afirmar que MotoGP e SBK são ridículas.


O que faz eu ter ainda mais amor pelo esporte à motor é pelo fato dele ser totalmente diferente das paixões nacionais que nosso país tem. Ele não necessita de apenas uma bola como futebol, vôlei e basquete, e sim de duas...

Não queres arriscar sua vida? Simples, não se torne um piloto de corridas, se torne um profissional que enfrenta o stress do dia-a-dia e volte para casa feliz junto à sua família.

Além do mais, vale lembrar que a BMW andou com "duas torres" instaladas na frente do carro no GP da França de 2006, e que mais tarde foram banidas por um motivo: atrapalhar a visão dos pilotos. Agora compare a foto abaixo com a foto do Halo, qual você acredita que mais atrapalha a visão do piloto? A resposta é obvia...


É claro que a visão do piloto não fica em estado terminal com a instalação do dispositivo, mas todos concordam que fica ainda mais deteriorada. Em provas embaixo de chuva a situação poderá ser pior e caótica. Por outro lado, a tão sonhada (apenas por alguns) adoção dos canopies parece estar longe de se tornar realidade pelo motivo de haverem poucos testes envolvendo sua total segurança e qualidade cobrindo o cockpit.

Como o piloto sairá do carro caso aconteça uma capotagem? O vidro ficará embaçado em provas sob chuva? A temperatura no cockpit será aceitável? São perguntas sem respostas até agora, que mostram cada vez mais que o caminho natural a ser seguido pela Fórmula 1 é a continuação dos cockpits abertos. Como se não bastasse carros cada vez mais feios, agora querem colocar um chinelo para que os dedos se sintam ainda mais seguros.

Raramente concordo com as afirmações de Lewis Hamilton, mas uma das últimas que vieram à tona pela boca do tricampeão é o fato dele não querer correr com o Halo, uma opinião totalmente contrária ao de Nico Rosberg, Daniel Ricciardo e outros pilotos. Nico Hülkenberg também falou que a Fórmula 1 necessita manter um pouco do perigo. Afinal, qual seria o sentido de correr em círculos por horas? Dinheiro? Infelizmente há muito tempo é...


No fim, sinto saudades de um tempo em que os pilotos realmente eram homens (isso com adição de mulheres extremamente corajosas que escreveram história), não temiam o que podia vim pela frente, faziam aquilo por amor e não pelo dinheiro. Não quero dizer que gostava de ver fatalidades, e sim que gostava da maneira que eles realmente viviam e estavam lá para fazer.

James Hunt uma vez disse: "Para o inferno com segurança. Tudo o que quero fazer é correr".

Por outro lado, Niki Lauda já afirmou: "Minha vida vale mais do que um título".

Cada piloto tinha seus valores, aquilo que mais importava em suas vidas, mas mesmo assim nunca haviam pedido algo que fechasse o cockpit. Quando perdemos Stefan Bellof e Manfred Winkelhock, o automobilismo ainda passava por um processo de transição entre o alumínio e a fibra de carbono. Quando Ayrton Senna morreu na Tamburello, o automobilismo era algo gigantescamente mais seguro do que dez anos antes, mas ainda faltava algo. Quando Robert Kubica bateu em Montreal podemos ver que atingimos um grau de excelência fantástico, talvez até o máximo possível. Mas quando Jules Bianchi perdeu a vida, percebemos efetivamente que o automobilismo sempre será perigoso.

Desde criança, o jovem piloto deve saber que aquilo que ele está fazendo é perigoso, extremamente arriscado, para depois não afirmar que tudo isto é absurdo e ridículo. Nas décadas passadas todos conheciam o perigo de correr num automóvel.


Há pouco tempo atrás Galvão Bueno ainda soltava nas transmissões que correr de Fórmula 1 é como andar em cima de uma navalha (ou algo assim), mas isso mudou. A categoria passou a ser um lugar em que poupar é correto em uma era que problemas mecânicos são quase zero. Os pilotos não podem andar com o pé embaixo durante toda a corrida, isso com áreas de escape gigantescas e circuitos com estruturas incríveis.

Querem mais o que? Acredito que ainda demorará para vermos algo que realmente possa revolucionar nossa visão de segurança, mas até lá, estamos na excelência.

Já falei da voz pouco ativa dos pilotos e das babaquices feitas pelos "comandantes" da categoria mais famosa do mundo e agora critico o modo que a Fórmula 1 caminha. Uma caminhada lenta e calma para sua morte, caso ninguém tome partida para mudar o rumo... Quem somos nós? Meros fãs.

Imagens tiradas do Google Imagens

Um comentário:

  1. Caro amigo, a Fórmula-1 como conhecemos e aprendemos amar, já morreu faz tempo. Morreu quando Alain Prost impediu contratualmente Senna de correr na fantástica Williams-Renault em 1993. Morreu quando os dirigentes do automobilismo impediram, aos 45 minutos do segundo tempo, a Williams de utilizar toda sua incrível eletrônica para a temporada 94, temendo a junção "piloto e equipe de outro planeta". Morreu quando Ayrton Senna foi morto por está pilotando um carro extremamente veloz mais igualmente instável, por conta dessas mudanças de regras anteriormente citadas. Morreu quando Michael Schumacher foi campeão jogando seu carro sobre o carro de Damon Hill e repetiu o mesmo feito sobre Jacques Villeneuve, dessa vez não tendo êxito na tramóia. Morreu quando Rubens Barrichello aceitou ser capacho do mesmo Schumacher na Ferrari. Morreu com as várias mutilações de pistas consagradas da história e o surgimento de outras pistas com emoção zero. E vem morrendo cada vez que uma mudança de regulamento vem para piorar as coisas.

    ResponderExcluir