segunda-feira, 29 de julho de 2019

Análise: Dádiva divina


É difícil fazer projeções diante de fatos recentes e sob fatores psicológicos que influenciam nossa opinião. Mas depois de três grandes corridas de Fórmula 1, temos que confessar que a categoria vai ter vida longa (e, tomara, eterna), Mesmo diante de setbacks, ela continua entregando o que é capaz para seus fãs. Hoje, vimos que quem disse que a F1 estava morta após o GP da França está cada dia mais enganado, sendo sacramentado por uma corrida maravilhosa vindo da dádiva divina - a chuva.

Não nos iludiremos, afinal, a próxima prova é na Hungria, em um circuito travado em que os caminhões atuais são incapazes de fazer uma ultrapassagem simples. Mas de qualquer forma, querendo ou não, tanto Ferrari quanto Red Bull provaram que tem condições sim de alcançar a Mercedes. A equipe alemã ainda não é ameaçada graças à incompetência ferrarista e a atual - e breve - incapacidade dos motores Honda. Quando ambos se acertarem, aí teremos corridas de verdade onde condições climáticas como calor e chuva não serão os causadores de grandes corridas.

Antes de entrar na análise da corrida, gostaria de comentar algo que deixei passar durante as últimas semanas.

Os grandes da F1

Em 2021, como todos sabem, a categoria terá mais uma grande mudança em seu regulamento. O efeito solo retornará e outras medidas estão sendo discutidas até serem finalmente entregues em outubro, após serem adiadas durante o fim-de-semana do GP da Canadá.

Eu não sou engenheiro da FIA nem de nenhuma equipe, logo, não posso garantir ou prever que graças ao efeito solo teremos corridas melhores daqui dois anos. Por isso, discuto mais o lado político desse adiamento e dos efeitos que, com ou sem ele, são sentidos.

O poder das grandes equipes, que dominam a categoria, é muito preocupante. Querendo ou não, a Mercedes tem sua grande influencia na Force India e na Williams, já a Ferrari engloba Haas e Alfa Romeo enquanto a Red Bull tem aquela que um dia já foi chamada de sua equipe-irmã, a Toro Rosso. Esse tipo de ligação é péssima, porque tira a possibilidade de metade do pelotão crescer e incomodar sua respectiva equipe-pai (digamos assim). Isso, simplesmente fecha a boca de chefes de equipe como Franz Tost, Günther Steiner e Frédéric Vasseur em momento de decisão como esse. A única equipe que realmente se pronunciou sobre esse adiamento em Paris foi a Renault de Cyril Abiteboul, demonstrando o quanto isso é um problema. Quanto mais tempo, maior será a influencia de Wolff, Binotto e Horner.

Carros medianos lutando com carros de ponta

Agora entramos na situação econômica. Quem está na frente investe baldes de dinheiro para lutar por vitórias e títulos. Se pararem de vencer e sumirem da ponta durante a entrada dessa grana alta, será fácil para uma Red Bull, por exemplo, abrir um buraco no grid e deixar a categoria com vergonhosos 16 carros. Sendo assim, cresce a necessidade de um teto de gastos para nivelamento das equipes, onde os grandes serão incapazes de dispararem por seu grande poderio econômico e não se assustaram por sua incompetência diante de tanto investimento.

Outra possibilidade na tentativa de aproximar as equipes é se espelhar na MotoGP e como eles transformaram a categoria em um grande fenômeno mundial. Eu não sei, infelizmente, o que realmente ocorre e como isso acontece, mas vemos, em diversas corridas, equipes clientes das montadoras lutando por vitórias e pódios. E, o mais incrível, alcançando e superando as grandes marcas em determinadas ocasiões. A Fórmula 1 teria muito a aprender com isso. Lá, por exemplo, existe uma diferença satisfatória entre Campeonato de Construtores e Campeonato de Equipes, além da possibilidade da compra de motos de anos anteriores por equipes do meio do pelotão, algo que já foi possível na F1 e que atualmente, caso não me falhe a memória, é proibido pelo regulamento.

Não que isso deva ocorrer sempre, mas que é bom para a categoria isso é inegável

Se olharmos para quarenta anos atrás, pegarmos uma corrida específica e assistir comparando com a atualidade, veremos que há pouca diferença. Uma equipe dominante às vezes sendo ameaçada por um ou dois pilotos, equipes medianas lutando por seus poucos pontos e uma prova com momentos monótonos e outros de emoção. Porém, se pegarmos uma sequência de corridas de quarenta anos atrás e compararmos com hoje, a diferença é absurda.

Vamos pegar a temporada de 1979 como exemplo. Nas cinco primeiras corridas daquele ano, a Ligier venceu três, com uma dobradinha, e a Ferrari duas, ambas com dobradinha. Nas cinco de 2019, a Mercedes venceu todas com dobradinha. Nove pilotos diferentes subiram ao pódio nessas primeiras provas de 1979, enquanto apenas cinco pilotos alcançaram tal feito em 2019. E a situação se agrava quando comparamos a quantidade de diferentes pilotos que pontuaram no mesmo período sob vigor de uma regra igualitária, ou seja, se tratando das seis melhores posições: 12 a 8.

"Ah! Eram outros tempos!", "os carros quebravam mais!". Então vamos dar uma olhada no grid de largada dessas provas. Em 2019, apenas três equipes diferentes foram capazes de colocar seus carros entre os quatro primeiros. Já em 1979, seis times diferentes estiveram presentes nas duas primeiras filas das cinco etapas iniciais. O dobro.

Redenção: surpresas no pódio

Pela disputa do campeonato, quarenta anos atrás, Gilles Villeneuve e Patrick Depailler dividiam a liderança com 20 pontos, seguidos por Jacques Laffite e Carlos Reutemann também empatados, mas apenas dois pontos atrás do lideres. Jody Scheckter e Mario Andretti vinham logo atrás há uma vitória da ponta do campeonato. Em 2019, Hamilton liderava com sete pontos mínimos de vantagem (os sete que dividem o primeiro do segundo na pontuação das corridas), mas atrás já surge um abismo com Max Verstappen, Sebastian Vettel e Charles Leclerc, todos com a metade dos pontos dos pilotos da Mercedes.

O que quero dizer é que o problema não é uma equipe ou outra dominando - pois isso sempre foi assim e sempre vai ser. O real problema é a inércia que os outros times tem nessa disputa. Ninguém é capaz de alcançar a dupla dominante e ameaçá-los. Em 1979, Lotus, Ferrari e Ligier estavam colados nas seis primeiras posições, se tratando da então campeã que massacrou à todos no ano anterior, e de outros dois construtores que já haviam abraçado e desenvolvido o carro-asa de forma impressionante. Já hoje vemos a Mercedes abrir vantagem e deixar Ferrari e Red Bull lutarem por um terceiro lugar.

Equipes que duela pelas últimas posições precisam da oportunidade de crescer

É esse tipo de competitividade que a Fórmula 1 precisa, onde equipes diferentes possam ameaçar as grandes e colocarem emoção na disputa de uma corrida ou até do campeonato. Nesse ano por exemplo, está mais emocionante acompanhar a disputa no meio do pelotão do que na ponta dele. Mais da metade do grid luta por um quarto lugar que vale ouro, e quem perder vai ficar com um humilhante nono posto no campeonato de construtores.

Isso tudo sem falar dos pífios vinte caminhões atuais. O presidente da FIA, Jean Todt, propôs que o reabastecimento voltasse à categoria para que os carros ficassem menores, facilitando ultrapassagens e tornando corridas em circuitos travados mais emocionantes. Mas existem problemas. Os rumores são de que todas as equipes são contra ao retorno do reabastecimento, primeiro pelo custo, segundo pela logística e terceiro pela segurança que precisa ser abarcada. Logo, os carros continuarão sendo trambolhos desengonçados. Não que isso vai realmente atrapalhar as disputas em 2021. Se cumprir o que promete, os carros do futuro terão menor arrasto aerodinâmico e causarão menor turbulência para quem vem atrás.

É esperar para ver o que a FIA decidirá até outubro. Até lá, a categoria (e seus fãs) estão entregues à boa vontade dos poderosos chefes de equipe.

Agora começa a análise da corrida.


Leclerc teve sorte de não ser atropelado por Hamilton. Falta grave de segurança

No início desse ano, o regulamento à cerca da largada sob Safety Car foi alterado, passando a ser realizadas voltas de reconhecimento antes do alinhamento do grid e a largada propriamente dita, com a redução do número de voltas de acordo com a quantidade de voltas de reconhecimento. Uma boa medida, "ótima para o show e como deve ser", nas palavras de Sérgio Pérez após a corrida. Isso permite mais disputas e uma largada carregada de emoção, com a possibilidade de acidentes e surpresas. Ontem, ambas as Red Bull não tracionaram bem e Kimi Räikkönen assumiu o terceiro lugar com a Alfa Romeo.

Chuva vai, chuva volta, a emoção da corrida mais uma vez foi causada por condições climáticas, que vieram e boa hora. Quem esteve com uma cabeça leve, errou menos e saiu com um ótimo resultado, diferentemente de quem se precipitava e errada na curva 16, onde a área de escape foi tão criticada, de forma errônea. Apesar de ser uma pista de dragster, aquele trecho do circuito ainda sim está fora da pista e deve punir os pilotos que erram. E puniu muito bem. Se houvesse brita lá, todos que passaram reto ficariam atolados, causando SCs desnecessários para retirada segura dos carros.

Pesadelo na Floresta Negra

A Mercedes que comemorava seus 125 anos de automobilismo, fez tudo que podia e conquistou a pole position na sorte. Mesmo com dor de garganta, Lewis Hamilton voltou a superar Bottas e os dois carros da Red Bull. Mas no domingo... a situação foi bem diferente. Querendo ou não, um dia todos erram. Até mesmo o grande inglês que há muito tempo não tinha um desempenho semelhante à alguns de sua mocidade na McLaren. Errou de forma boba, saindo duas vezes para fora (quando Vettel e Magnussen, tão criticados por seus erros, estavam na mesma condição), cruzando a pista de forma perigosa, entrando nos boxes irregularmente e andando muito devagar sob bandeira amarela. Apesar de tudo isso, recebeu apenas cinco segundos de punição quando esse número poderia ser maior. De forma semelhante, por exemplo, Sebastian Vettel foi punido no GP da Hungria de 2010 com um drive through quando segurou o pelotão para que Mark Webber retornasse entre ele e Fernando Alonso. A diferença é que, nesse caso, isso ocorreu na tentativa de beneficiar um terceiro.

Após a corrida, Hamilton usou a mesma dor de garganta que serviu para sua vanglória no sábado como desculpa para seu péssimo desempenho no domingo. Coisas assim que o tornam impopular. Basta ver a reação da torcida em suas duas escapadas, quando fora investigado duas vezes e quando recebeu sua punição. Ainda assim, sua estrela continuou brilhando, pois foi o único piloto que bateu na curva 16 e ainda assim se manteve na prova, herdando o nono lugar depois de tudo.

Enquanto isso, Valtteri Bottas, que tinha tudo para tirar a diferença no campeonato, também não foi bem. Seu melhor momento na prova foi quando passou a ser o maior concorrente pela vitória junto com Max Verstappen, mas incapacitado de perseguir o holandês. O ponto mais negativo foi estar atrás de Lance Stroll e não conseguir de ultrapassar o canadense graças à potencia do mesmo motor Mercedes que empurra ambos os carros. Sem se arriscar, o finlandês não conseguiu superar o tão criticado piloto da Racing Point. No fim, tentando se manter abaixo de um segundo atrás de Stroll, rodou e bateu na primeira curva, para delírio da torcida. Agosto é mês que vem já, Valtteri. E a Mercedes viveu um pesadelo devido, somente, à seus pilotos.

Finalmente! Acabou! (?)

A Ferrari também viveu seu pesadelo quando perdeu a primeira fila no grid com os problemas nos carros de Vettel e Leclerc no sábado. Mas, no domingo, estiveram perto da glória. O monegasco era segundo colocado quando bateu na Sudkurve e perdeu a chance de disputar e até arrancar a vitória de Verstappen, que já estava atrás dele. O monegasco já havia abusado duas vezes da sorte no mesmo ponto.

Já Sebastian Vettel fez corrida quase perfeita para sua redenção na Alemanha, saindo de último para terminar em segundo. Só não foi perfeita porque o alemão errou na última volta na Mercedeskurve, deixando Kvyat se aproximar e ameaçar a segunda posição até a Sachskurve, onde o ferrarista havia sofrido o acidente de 2018. Caso vencesse, seria a primeira vez na história que um piloto largando da última posição venceu uma corrida, só não superando, em número, John Watson. Apesar disso, vale dizer que o alemão não conseguiu ultrapassar Kimi Räikkönen na pista, só superando o ex-companheiro nos boxes e quando ele cometeu um erro na famosa curva 16... porém, saberemos o que estava acontecendo nos carros da Alfa logo mais no texto.

Voltando à Charles Leclerc, gostaria de comentar seu incidente nos boxes. Foi punido de forma justa, com a multa sendo dada para a Ferrari e não para o piloto. Mas ainda assim, é outro indicador de quão inconstante são as decisões dos comissários de prova. Em Mônaco, Max Verstappen perdeu o pódio pelo mesmo motivo, quando foi liberado de forma perigosa e atingiu Bottas no pitlane. Isso só serve para aumentar a teoria de conspiração que envolve Leclerc-Todt-Ferrari. Outra bobeira...

O novo rainmaster da F1

Enquanto isso, a Red Bull morre de rir com a Honda - na cara de Fernando Alonso. Outra vitória com desempenho fenomenal de Max Verstappen que, mesmo rodando, venceu e derrotou com autoridade ambos os pilotos da Mercedes. Para alegria da torcida laranja, o holandês agora ameaça até o vice-campeonato de Valtteri Bottas, após abrir uma vantagem de 21 pontos para Vettel e 42 para Leclerc. Uma surpresa grata e imensa para o melhor piloto da corrida e da temporada. E já são 20 provas consecutivas terminando, sempre, entre os cinco primeiros.

Porém, do outro lado da garagem, Pierre Gasly volta a viver seu inferno astral, muito atrás de seu companheiro e, agora, apanhando para a Toro Rosso. Depois de também largar mal, o francês não conseguiu se recuperar e ficou preso atrás dos carros do meio do pelotão, consagrando o fato com seu estranho incidente com Alex Albon nas últimas voltas. Na câmera onboard é possível ver que o tailandês fechou o colega de equipe, mas também que Gasly não calculou direito o momento da manobra. Helmut Marko, com todo seu histórico, deve estar babando sobre o contrato do francês. Agora, ele tem decisões difíceis a serem tomadas sobre o futuro de três de seus pilotos nas próximas semanas.

McLaren volta a se destacar e abrir vantagem na luta no meio do pelotão

Na McLaren, as coisas andam muito bem apesar da perda dos cada vez melhores motores da Honda. Carlos Sainz, mesmo rodando na Sudkurve, se recuperou e fechou na ótima quinta posição, aumentando sua vantagem para 21 pontos sobre o resto do pelotão intermediário no campeonato de pilotos, uma condição surpreendente para um piloto tantas vezes subestimado. É a sétima vez que pontua nas últimas oito corridas. Já Lando Norris, que também vem muito bem no campeonato, teve problemas e perdeu bons pontos.

Curiosamente, como em outros casos após a prova, o resultado não agradou Carlos Sainz, que sabe que poderia ter conquistado mais senão fosse a rodada na Sudkurve. O espanhol se lamentou, mas a equipe soube o consolar e mostrar que o futuro ainda aguarda grandes oportunidades para a equipe.

Corrida histórica para Toro Rosso

Após tanto caos e chuva, muita alegria para os da casa de Faenza. A Toro Rosso conquistou seu primeiro pódio de verdade (o primeiro havia sido com a chocante vitória de Vettel em Monza em 2008) depois de uma perfomance incrível de Albon e Kvyat. O anglo-tailandês, que nunca havia pilotado um carro de Fórmula 1 na chuva antes, chegou a lutar com Lewis Hamilton pelo terceiro posto, mesmo contra sua própria vontade, sabendo que perderia tempo e poderia perder posições preciosas. Foi o que exatamente aconteceu. Após aquela disputa, perdeu a posição para Sainz e não conseguiu mais recuperar, perdendo o time de uma parada que colocou seu companheiro de volta à prova e na disputa pelo pódio. Daniil Kvyat, pai da recém-nascida neta de Nelson Piquet, foi firme, ultrapassou Stroll após travada do canadense e terminou em terceiro em uma corrida de redenção. O russo agora é oitavo no campeonato, para surpresa de todos. E por mais incrível que seja, senão fosse a grande prova que estivesse fazendo, Albon poderia ter terminado em terceiro ou na quarta posição, colado com Kvyat.

Único erro de Räikkönen no fim-de-semana

Com Kimi Räikkönen largando entre os cinco primeiros, a Alfa Romeo parecia estar em um sonho quando viu o finlandês pular para terceiro na largada. Mas essa alegria durou pouco. A primeira parada do campeão foi problemática e, potencialmente, custou um incrível pódio para a equipe. Räikkönen caiu para sétimo e se contentou a duelar, durante toda a corrida, com Sebastian Vettel, não deixando que seu ex-companheiro o ultrapassasse até sofrer outro problema em outra parada nos boxes.

Apesar disso, tanto Räikkönen como Antonio Giovinazzi termina entre os oito primeiros colocados, conquistando pontos que os manteriam na briga contra a Toro Rosso e a Racing Point. Porém, após a prova, descobriu-se que uma disfunção na embreagem dos carros da equipe foi capaz de imitar o controle de tração. Esse fato levou os comissário a aplicarem uma punição de 30s, que empurrou ambos os carros para fora da zona de pontuação. A decisão será apelada por Vasseur, que afirma ter provas contundentes de que esta fora precipitada. Veremos nos próximos dias o que a FIA irá dizer sobre o caso, especialmente se tratando de uma equipe que disputa um campeonato em que pode terminar em quarto ou nono. Milhões em jogo.

Mais uma vez perto do pódio, mais uma vez batendo...

Na Renault, a zona impera. Depois da prisão de Carlos Ghosn, tudo aquilo que vinha sendo construído parece se desmoronar. Como se não bastassem os maus resultados, na corrida em que poderiam reverter a situação, Daniel Ricciardo perdeu seu motor e Nico Hülkenberg bate quando tinha o pódio, finalmente, em suas mãos. O alemão soube que disputar com carros superiores seria perca de tempo, mas acabou escorregando na Sudkurve para abandonar quando vinha para conquistar um resultado gigantesco para a equipe francesa. Doloroso para o piloto da casa, e ainda mais para os rapazes de Enstone, que agora estão atrás da McLaren, com motores Renault, e Toro Rosso no campeonato de construtores.

Mesmo após erros, Lance Stroll fechou na ótima quarta posição

Quem realmente saiu sorrido de Hockenheim foi a Racing Point. As atualizações surtiram efeito desejado, com Sérgio Pérez alinhando em oitavo enquanto Lance Stroll finalmente passou do Q1 (graças, é claro, ao abandono de Vettel). No domingo, as situações se inverteram e o mexicano, sempre um rosto conhecido nessas corridas em que vale mais a resiliência do piloto, rodou e bateu logo na segunda volta. Sobrou para Stroll carregar as estratégias inteligentes da equipe para um imenso quarto lugar.

O canadense chegou a ser líder da prova, mas foi superado por Verstappen. Ele só viria a perder o segundo posto, e consequentemente o pódio, porque travou na curva 3 e não conseguiu se defender de Kvyat na reta. No mais, depois de andar em último durante a corrida inteira, Lance Stroll se redimiu com seu pai conquistando pontos importantes e elevando a moral da equipe para Hungaroring, onde deverão estar mais fortes e com mais chances de pontos.

Luz no fim do túnel para a Haas

Para a Haas, o domingo foi de altos e baixos até o finzinho da noite. Com Romain Grosjean largando entre os primeiros, as chances de boa pontuação eram altas. Mas o francês não se deu bem com a estratégia e caiu para atrás, passando a lutar com Magnussen por posições que hora ou outra eram de pontuação. A situação mais interessante surgiu no final da prova, quando ambos se tocaram e se insultaram, para horror de Günther Steiner.

Romain Grosjean correu com a especificação de Melbourne no Hockenheimring após pedir à equipe durante a semana, que efetuou a troca e viu o quão bom era o antigo carro da equipe. Essa mudança acabou por agradar Kevin Magnussen, que também pediu para que o carro fosse convertido para o modelo de Melbourne na próxima corrida, na Hungria. Até lá, a equipe precisa agradecer o ganho, no famoso tapetão, da sétima e da oitava posição, resultados que colocam a equipe de volta na disputa depois de tanta confusão com William Storey.

Kubica aproveitou erro de Russell para conquistar ponto histórico

Para fechar, a equipe Williams também trouxe novidades que surtiram efeito. Apesar de continuar anos-luz atrás do resto do pelotão, o pessoal de Grove conquistou seu primeiro ponto na temporada de forma indesejada, mas ainda assim muito bem-vinda se tratando dos bônus que as equipes que marcam pontos recebem. E esse ponto veio logo com o piloto menos esperado.

Pela primeira vez na temporada, Robert Kubica superou George Russell e herdou o décimo lugar após a punição das Alfa. A ultrapassagem veio após um erro do britânico na curva 3, que provou-se fatal para que ele não conquistasse seu primeiro ponto na categoria. Ainda assim, o único piloto que ainda não pontou temporada é aquele que mais tem chances em um carro tão patético como o FW42. Sendo assim, há a possibilidade de 2019 se tornar a segunda temporada da história em que todos os pilotos inscritos pontuaram.

Vettel foi ameaçado por Kvyat nas últimas curvas

Para concluir, a corrida obviamente foi fantástica e uma honra de se acompanhar. Quem não assistiu, perdeu a melhor prova dos últimos anos, com alternativas, erros dos grandes pilotos e redenção de alguns. Foi também a primeira vez desde o GP de Portugal de 1992 que a Honda colocou dois carros no pódio, e a primeira desde Adelaide 1988 que são carros de duas equipes diferentes, quando Prost, Senna e Piquet foram os três melhores. O verão europeu para os japoneses está sendo tão incrível que zombaram de Fernando Alonso no Twitter na véspera de seu aniversário.

O melhor piloto da corrida foi Max Verstappen, que errou pouco e conquistou uma vitória incrível no Hockenheimring. Sebastian Vettel também merece crédito, tendo se redimido com a torcida após um ótimo desempenho, escorregando apenas na última volta. Daniil Kvyat, pai na noite anterior, foi incentivado por Horner a ter mais filhos graças à uma perfomance que rendeu um merecido pódio para a Toro Rosso. Lance Stroll tentou, mas se contentou com a ótima quarta posição que o coloca, agora, na frente de Pérez na classificação do campeonato.

Então, creio que seja isso. O post é longo e pode não ser um dos melhores, mas como retorno do blog é interessante fazer um assim.

Muito obrigado por ter lido até aqui. Nos vemos no futuro.

E até Hungaroring.

Imagens retiradas do RaceFans.net