Porém, o hype criado pelo retorno do bicampeão estaria perto de acabar. Como foi dito, tudo começou ainda em 1981, quando Lauda recebeu em sua casa uma carta da FISA sobre a nova regulamentação das super-licenças. Esta, se bem lida, apresentava novas cláusulas que proibiam os pilotos de mudarem de equipe no meio da temporada, sendo obrigados a ficarem no mesmo time por três anos. Além disso, não poderiam "causar danos aos interesses materiais e morais do campeonato do mundo". Basicamente, não poderiam mais criticar a FISA. Agora, equipes e dirigentes detinham maior poder sobre os pilotos.
Chegando ao hemisfério sul, onde o calor do verão era infernal, já em 1982, Lauda teria uma triste surpresa. Quase todos os pilotos, com exceção dele próprio, de Didier Pironi, Gilles Villeneuve, Jacques Laffite, Andrea de Cesaris, René Arnoux e Bruno Giacomelli, haviam assinado o acordo. E, para tentar resolver o erro, Lauda conversou com o presidente da GPDA, naquela altura Pironi, para que este fosse a Comissão da FIA tentar resolver o problema. Infelizmente as coisas não saíram como planejado, e a FISA planejava resolver isso apenas em abril pelo Comitê Executivo. O clima azedou de vez...
A ida de Pironi para Kyalami se mostrou desastrosa. Naquela noite, Balestre baniria todos os 30 pilotos que participaram da greve e planejava adiar em uma semana o GP da África do Sul, para que as equipes contratassem 30 novatos! Enquanto o francês age, Bernie Ecclestone prefere caçar um culpado, achando em Mark McCormack um nome que lhe agradasse. Aquele senhor americano tinha acabado de se tornar manager de Alain Prost e Didier Pironi, principal líder da greve. Estaria McCormack manipulando os pilotos? Para Ecclestone, sim...
Com a notícia do banimento permanente, a preocupação é generalizada entre os jovens. Mas, logo, os pilotos mais experientes conseguem reverter a situação e criar um clima único e que jamais se repetiria na história da categoria. Gilles Villeneuve e Elio de Angelis revezavam no piano, Slim Borgudd demonstrava sua habilidade na bateria, Bruno Giacomelli desenhava uma sátira onde ensinava fazer uma bomba e Niki Lauda (ele mesmo!) fazia um show de stand-up. Uma noite única na história... e não acabou por aí.
Que noite e que madrugada...
Às 8:15h, Niki Lauda deu uma entrevista dizendo que Pironi voltara ao autódromo para o ultimato com Balestre e Ecclestone. Uma hora e quarenta e cinco minutos depois, a vitória dos pilotos foi anunciada pelo presidente da GPDA. Os artigos que causaram a greve seriam reescritos, e os ases passariam a ter os mesmos direitos das equipes.
A FISA havia cedido, mas e a FOCA? Os garagistas acabaram sendo obrigados a devolverem os carros para seus respectivos pilotos, mas ainda havia um no meio deles que se negava a fazer isso com seu principal piloto: Bernie Ecclestone mandou colocar o número 2 em todos os BT50 em Kyalami, sinalizando que Nelson Piquet não participaria da prova. Era um golpe do inglês que alegava que uma noite no chão do hotel Sunnyside prejudicara a saúde do campeão.
Percebendo isso, Gilles Villeneuve volta a mobilizar seus colegas e uma nova greve é iminente. O próprio canadense levaria Nelson Piquet para exames no centro médico, onde acabaria liberado para correr. Bernie Ecclestone havia perdido mais uma batalha, mas não a guerra...
As multas ficaram entre US$ 5 mil e US$ 10 mil, mas o pior ainda estava por vir.
Niki Lauda havia percebido que os pilotos tinham perdido sua voz na Fórmula 1. Eram dois homens que dominavam tudo e podiam fazer aquilo que quisessem e, mesmo depois da demonstração de força em Kyalami, o austríaco viria a guerra ser perdida com a dissolução da GPDA e a criação da PRDA (Professional Racing Driver Association), uma versão bem menos sucedida daquela que ressurgiria com força após os fatídicos acontecimentos do 1º de maio de 1994.
Assim começava a temporada de 1982 da Fórmula 1. Sob calor infernal em Kyalami, com os pilotos fugindo de ônibus até um hotel onde dormiriam juntos (e no chão!) enquanto tentavam resolver um problema que poderia ter destruído aquilo que conhecemos como a década de ouro...
Há 35 anos...
Matéria interessante e inusitada. Boa cobertura sobre algo que já caiu no esquecimento da maioria do público. Parabéns!
ResponderExcluirainda me lembro dos grandes momentos do início da carreira de lewis hamilton. Ainda estou pensando em comprar um capacete deste grande corredor, não sei onde, embora tenha sido recomendado comprá-lo em https://www.cmhelmets.com/p/driver/lewis-hamilton/
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