domingo, 27 de dezembro de 2015

O dia que Pintacuda derrotou Stuck no Trampolim do Diabo

Hans Stuck, o monstro alemão das Subidas de Montanha

Hoje seria o 115º aniversário de um cidadão de Varsóvia com o nome Hans Stuck von Villiez, mais conhecido como Hans Stuck, alemão, dominador de montanhas na Era de Ouro das "HillClimbs"...

Na década de 30, o automobilismo expandia pelo mundo, chegando a América do Sul com força em países como Brasil e Argentina. Provas como o GP do Rio de Janeiro e o GP de São Paulo ganhavam fama.

Depois da edição de 1936, os organizadores do GP carioca queriam dar status de Grand Prix á corrida que já ganhava fama na Europa. Com isso algumas reformas, como o asfaltamento de certos pontos do circuito da Gávea, aconteceram. Por sua vez, ACB queria trazer alguns grandes nomes para a prova como a Auto Union e a Alfa Romeo.


A Scuderia Ferrari da Alfa tinha planos de levar dois carros para a prova, mas como as despesas ultrapassavam os limites do possível, acabaram negando a proposta. Sorte que havia um nome como o Comendador Sabbado D'Ângelo para ajudar no pagamento, cobrindo-o e dando á Ferrari a chance de trazer dois de seus pilotos para prova.

O sonho era ver um tal mantovano na prova, chamado Tazio Nuvolari, mas o que a Scuderia de Enzo Ferrari mandou deixou a todos decepcionados: Carlos Pintacuda, já famoso nas bandas brasileiras, ao lado de Antonio Brivio, um com 8C-35 e outro com o 12C-36, respectivamente.

Já a Auto Union não via motivos para mandar Bernd Rosemeyer para a corrida, afinal, a vitória viria fácil, por isso mesmo levou apenas um Type C para Hans Stuck. O alemão também já tinha fama aqui no Brasil, especialmente depois de vencer a prova de Subida de Montanha de Petrópolis em 1932, com um Mercedes-Benz SSKL, e elogiar a engenharia dos brasileiros nas estradas, dizendo que algumas obras seriam algo impossível de se ver na Europa.


A Mercedes-Benz não compareceu a prova, com isso, o maior europeu que estava lá era Stuck, favorito de longe a vitória em cima da dupla de Alfas. Mas havia uma carta na manga da equipe italiana: a experiência no "Trampolim do Diabo", apelido carinhoso dado ao que chamo de "Nürburgring do Brasil" com suas mais de 100 curvas, 11,6Kms e com diferentes tipos de piso como asfalto, areia, paralelepípedo e cimento.

No dia da corrida o tempo nublado seria mais um desafio para os pilotos, com uma garoa caindo no momento da largada. Stuck, com cerca de 200cv a mais do que as Alfas, ainda conseguiu pular para a frente com o monstro alemão apelidado de "Flecha Diabólica", mas com o aumento da chuva e as constantes estilingadas que o Auto Union dava, Pintacuda assumiu a liderança rapidamente.


Brivio, com um carro mais potente do que o companheiro, também sofria com as saídas de traseira no perigoso circuito da Gávea, além de ter problemas que o obrigaram a fazer várias paradas, deixando a briga para Stuck e Pintacuda. O florentino abria para o alemão com o aumento da chuva, já conhecendo o traçado e tendo um carro com menos potencia aliada a seu grande talento.

Agora a chuva diminuía dando a chance para Hans Stuck se aproximar do rival italiano. Na volta 11, o alemão toma a ponta por pouco tempo já que vai ao boxes para reabastecer, desastradamente... A equipe faz uma parada horrível fazendo o número 4 perder 46s para o líder Pintacuda. Agora se inicia uma perseguição alucinante em busca da vitória por parte de Stuck.


A Alfa Romeo do líder começa a sentir a falta de combustível enquanto o alemão da Auto Union vem tirando baldes de diferença há poucas voltas do fim. Enquanto Stuck tentava se beneficiar do arrasto aerodinâmico, Pintacuda fazia manobras agressivas numa pista ainda úmida. E lá vinham os dois competidores para a linha de chegada, com o italiano concretizando o Milagre da Gávea ao terminar 7,3s na frente do alemão.

Os brasileiros aclamavam Carlo Pintacuda novamente vencedor do GP da Cidade do Rio de Janeiro, agora em cima de nada menos nada mais do que Hans Stuck de Auto Union, um milagre concretizado graças a chuva e ao talento do italiano que tinha um carro defasado e com 200cv a menos do que a Flecha Prateada. Com isso, a Alfa levou a bolada de 100 milhões de réis...


No fim, pelo menos nós brasileiros vimos algo semelhante ao ocorrido em Nürburgring anos antes, mas de maneira menor, com apenas uma Flecha de Prata e com um público maior, agora de 300.000 pessoas. E com isso podemos ver como "quando é para acontecer não dá para evitar": uma chuva que deu uma inesperada vitória para a Alfa Romeo.

A edição de 1937 entrou para a história como uma das melhores do "Trampolim do Diabo"...

Imagens tiradas do Google Imagens

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