Neste fim-de-semana, a Fórmula 1 retornará á Cidade do México para voltar a receber o GP mexicano, realizado, mais uma vez, no Hermanos Rodríguez. Mas o que essa corrida tem de especial em sua história? Grandes corridas? Grandes vitórias? Acidentes? Bem, decidi que hoje esse seria o tema do post, para informar-los um pouco mais sobre o GP do México.
O primeiro GP do México aconteceu no dia 4 de novembro de 1962, quando o circuito ainda se chamava Magdalena Mixhuca e havia acabado de ser inaugurado. A promessa mexicana Ricardo Rodríguez estaria na prova mesmo que ela era extra-campeonato, ou seja, não valia pontos para a temporada de Fórmula 1.
Na primeira seção de treinos, a Lotus 24 de Rodríguez sofre uma falha na suspensão traseira direita, deixando o mexicano sem o que fazer no meio da curva Peraltada. O impacto na barreira de pneus foi violentíssimo, arremessando o corpo do jovem piloto e quase partindo-o ao meio. Com isso, a Fórmula 1, e o México, perdiam mais uma promessa.
Mesmo assim, a corrida ocorreu com Jim Clark dominando sem piedade até levar bandeira preta dos comissários mexicanos. Como as regras da prova não eram muito complexas, o escocês pode entrar no lugar de Trevor Taylor que era o terceiro colocado, coisa que não era nada para alguém como Jimmy, que ainda conseguiu recuperar a liderança e abrir mais de 1 minuto para o segundo colocado que foi Jack Brabham.
Em 1964 a prova seria muito polêmica. Três pilotos disputando o título chegaram em Hermanos Rodríguez para a última prova da temporada: John Surtees, Jim Clark e Graham Hill. O escocês necessitava vencer a prova para ter alguma chance de título, enquanto Surtees e Hill eram os principais postulantes ao título.
No domingo, Surtees e Hill fazem péssima largada, caindo para lá do décimo posto, o que dava o título para Jim Clark que era o líder. Mas como Lotus e Ferrari tinham os melhores carros, foi fácil escalar o pelotão e retornar as posições pontuáveis. Até a 30º volta, Graham já havia passado pelo conterrâneo e se mantinha na ótima 3º colocação, com Bandini ficando entre ele e seu rival.
Ao fim das 65 voltas, Richie Ginther conquistou uma vitória inesperada com seu problemático Honda em cima de nomes como Dan Gurney. Essa prova acabou sendo a última com os carros usando motores 1.5 litros, e também a última a ver Ginther no pódio e a única com Mike Spence terminando entre os três melhores.
Na largada, mais uma vez, Clark sai mal, agora levando Surtees junto. Ginther agradeceu, assumindo a ponta pela segunda vez consecutiva. Mas a alegria do estadunidense não duraria como em 1965, já que Jack Brabham tomou a ponta na qual ele também não manteria por muito tempo, já que o campeão de 1964 ressurgiria na liderança da prova que seria vencida por ele. Richie ainda terminou em quarto depois de segurar a terceira colocação nas últimas 14 voltas...
Na corrida, Jimmy não largou bem, caindo para terceiro. Mas como ele é Jim Clark, a recuperação foi rápida, com o escocês voltando á ponta na terceira volta. Graham Hill segurava a segunda colocação para a alegria de Colin Chapman que poderia ver mais uma dobradinha, mas problemas no belo Lotus do inglês acabou com as chances de dobradinha.
A prova de 1968 novamente decidiria o título entre três grandes pilotos: Graham Hill (de novo), Jackie Stewart e Denny Hulme. Nos treinos, Jo Siffert, de Lotus, conseguiu marcar o melhor tempo sendo seguido por Chris Amon, Graham Hill, Denny Hulme, Dan Gurney, John Surtees, Jackie Stewart, Jack Brabham, Bruce McLaren e Jochen Rindt.
Logo, a Honda de John Surtees não seria mais obstaculo para Jackie Stewart que começou a perseguir bravamente Graham Hill, que usa toda a experiência para segurar e se manter na cola do escocês que assumiu a ponta na volta. A alegria foi rápida, já que ele acabaria perdendo a liderança para o mesmo Hill, que deu o troco. Para Hulme já era, o neozelandês abandona com problemas na suspensão.
Stewart caminhava para a segunda colocação que confirmava seu vice, mas quis o destino que o escocês não completasse a prova na Cidade do México. Com isso, Bruce McLaren assumiu a segunda posição enquanto Jack Brabham era terceiro, mas por pouco tempo, já que seu Brabham começaria a ter problemas dando esperança para o povo mexicano que poderia ver um mexicano no pódio...
Jackie Oliver de Lotus e Pedro Rodríguez de BRM |
Em 1969 vemos uma Brabham dominante no México, com Jack marcando a pole e Jacky conquistando o segundo posto no grid que ainda tinha: Jackie Stewart, Denny Hulme, Jo Siffert, Jochen Rindt, Bruce McLaren, Jean-Pierre Beltoise, Piers Courage e John Surtees. O campeão escocês ainda queria mostrar força, e por isso rapidamente tomou a ponta do GP do México.
Naquela que seria o último GP do México no traçado original, Clay Regazzoni marca sua primeira pole com Stewart e Ickx seguindo-o. O título já estava decidido, mas o belga da Ferrari ainda queria mostrar que poderia ter sido campeão caso não tivesse problemas em Watkins Glen. Na largada, Jacky toma a liderança num passe de mágica, enquanto Rega fica com a terceira colocação.
Uma enorme quantidade de pública (200 mil) havia comparecido para assistir o último GP do México torcendo para Pedro Rodríguez. Mas, por falta de infraestrutura, um cachorro invadiu a pista e acabou sendo atropelado por Stewart, que teve problemas que deram a Ferrari uma dobradinha surpreendente. Agora dá para perceber o porque da prova não estar mais no calendário a partir de 1971. Da mesma forma da edição de 1969, a edição de 1970 não teria tanta emoção se comparada á outros anos, já que a única mudança de mais importante depois da volta 15 foi a de Hulme passando Brabham, que tinha problemas. No fim, Ickx venceu com Regazzoni em segundo e Denny em terceiro.
No dia 12 de outubro de 1986, lá estavam no grid Ayrton Senna, Nelson Piquet, Nigel Mansell, Gerhard Berger, Riccardo Patrese, Alain Prost, Derek Warwick, Patrick Tambay, Teodorico Fabi, Philippe Alliot, Keke Rosberg, Michele Alboreto, René Arnoux, Stefan Johansson, Alan Jones e outros monstros da categoria máxima do automobilismo.
O clima de "pré-decisão" estaria presente na edição de 1987 novamente, agora apenas com Mansell e Piquet. Nos treinos, o Leão conquista pole sendo seguido por Gerhard Berger, Nelson Piquet, Thierry Boutsen, Alain Prost, Teo Fabi, Ayrton Senna, Riccardo Patrese, Michele Alboreto e Andrea de Cesaris.
Infelizmente, parece que a alegria mexeu com a concentração de de Cesaris que acabou rodando e abandonando logo depois. Piquet, que teve problemas na largada, e por isso veio da última posição, já era o quarto colocado. Depois da forte pancada de Derek Warwick na Peraltada, os organizadores foram obrigados a interromperem a prova para a limpar a pista.
Em mais uma prova chata da temporada de 1988, Alain Prost deu show para cima de Ayrton Senna, tomando a ponta na primeira volta e se mantendo por lá até a bandeirada. Piquet e Nakajima até que tentaram, mas ambas as Ferraris conseguiram superar as Lotus Honda do campeão de 1987 e do destruidor niponico.
Andrea de Cesaris: O único piloto a fazer a Peraltada ao contrário |
Se a prova de 1988 foi chata, a de 1989 foi do mesmo nível. Num domingo marcante para o automobilismo brasileiro que viu Emerson Fittipaldi conquistar a Indy 500 e Ayrton Senna vencer o GP do México. A escolha dos pneus seria fundamental na corrida que tinha um brasileiro nas duas pontas do grid, Prost em segundo, Mansell em terceiro, Capelli em quarto e Patrese em quinto.
Na corrida, após uma má escolha do jogo dos pneus, Alain Prost foi obrigado a parar enquanto Senna se manteve na pista que ia perdendo carros a cada volta. Thierry Boutsen, Gerhard Berger, Nigel Mansell e Derek Warwick já haviam abandonado, o que ajudava pilotos com suas equipes médias e nanicas a crescerem mais e mais na corrida.
Gabriele Tarquini, de AGS, caminhava para um quinto lugar até ser ultrapassado por Prost, mas nada que desanimasse "a caminhada" em busca de pontos tão sonhados. Depois do abandono do Leão, Michele Alboreto assumiu a terceira colocação para conquistar o primeiro pódio da Tyrrell desde o GP de Detroit de 1983... Senna venceu, com Patrese em segundo, Nannini em quarto, Prost em quinto e Tarquini "mitando" em sexto.
As ondulações já atormentavam os pilotos no México, incidentes mais fortes ocorriam a cada ano na Peraltada, o fazia os organizadores temerem pelos showmans. Em 1990 vimos uma ótima prova marcada pela disputa entre Ferrari de Alain Prost e Nigel Mansell, e McLaren de Ayrton Senna e Gerhard Berger.
O austríaco marcou a pole com Riccardo Patrese em segundo, Ayrton Senna em terceiro, Nigel Mansell em quarto, Thierry Boutsen em quinto, Jean Alesi em sexto, Pierluigi Martini em sétimo, Nelson Piquet em oitavo, Satoru Nakajima em nono e Stefano Modena em décimo num grid que Alain Prost era apenas o 13º.
Depois de largar magnificamente, Ayrton Senna tomou a ponta em Hermanos Rodríguez. Ambas as Williams, aos poucos, iriam perdendo rendimento se comparada á outras equipes como Ferrari e Benetton que viam seus pilotos ganhar posições e se aproximarem de um pódio ao lado daquilo que parecia outra supremacia da McLaren.
Berger começa a ter problemas em seu motor Honda, o que leva-o para a 12º colocação enquanto Alain Prost já assumia a sexta posição logo atrás de Mansell que saiu cansado de uma feroz batalha com Jean Alesi, que também começou a perder rendimento. Nesse momento, o Brasil vinha tendo uma dobradinha nas pistas, alegria que duraria cerca de 20 voltas...
Depois de passarem pelas Williams, Nigel Mansell, Alain Prost e Alessandro Nannini corriam em direção de Ayrton Senna que perdia terreno para os rivais. Piquet foi a primeira vitima brasileira a ser atingido pelo bonde vermelho e verde, o que levou-o para os boxes para trocar os pneus numa arriscada estratégia que poderia tirar pontos do tricampeão.
Gerhard Berger estava de volta na briga após passar por Boutsen e Alesi. As últimas voltas prometiam ser fantásticas. Na volta 55, Nigel Mansell não resiste aos ataques de Alain Prost e cede a segunda posição para o Professor que vai em busca de seu maior rival. Agora a corrida entra nas suas últimas dez eletrizantes voltas.
Numa das mais lindas e emocionantes batalhas da história da Fórmula 1, Berger e Mansell disputam roda-com-roda para saber quem terminará em segundo. Na penúltima volta, o ferrarista realizada uma das manobras mais medonhas da história da categoria: passar Gerhard Berger por fora, na Peraltada! Um feito fantástico que colocou Mansell, definitivamente, na segunda posição.
Vários pilotos já haviam sentido os perigos de Hermanos Rodríguez, inclusive Senna, mas o que o brasileiro iria sentir em 1991 seria num outro nível. Nos treinos, sua McLaren ficou com as quatro rodas para o ar após bater e capotar na Peraltada (sempre ela), algo que felizmente não machucou o ídolo brasileiro que correu no domingo.
Mas parecia que essa sequência acabaria bem no GP do México... Mesmo depois de uma péssima largada, Riccardo Patrese se recuperou e retomou a ponta na volta 15 enquanto Ayrton Senna mal conseguia superar a Ferrari de Jean Alesi. Os problemas da altitude iam pegando vários pilotos que pararam e paravam para resolver seus problemas e trocar os pneus, o que levava surpresas para os pontos.
Da mesma forma que saiu do calendário em 1971, México estaria fora em 1992 pelos mesmos motivos da falta de infraestrutura, mas agora na pista que era cheia de bumps, sujeira, grandes erros de projeto, emendas de madeira e enormes rachaduras. O circuito estava ficando pior a cada ano, o que aumentava o perigo para os pilotos.
No fim-de-semana de seu aniversário, Senna não teve o que comemorar: batida no sábado e abandono no domingo. A prova foi semelhante a boa parte das de 1992: chata. As duas Williams desapareceram na frente, com Schumacher se mantendo em terceiro e apenas uma disputa de gente grande. Brundle e Berger foram ferozes na hora de defenderem-se um do outro, mas apenas um saiu vencendo, e esse foi o piloto da Benetton.
Além da Benetton, a Lotus e Tyrrell estavam em festa: Andrea de Cesaris foi quinto e Mika Häkkinen o sexto e fantástica prova de ambos. Assim, a Fórmula 1 deixou o México pela última vez, com a Williams dominando, Senna cansado, Prost em ano sabático, um mito mitando entre outras várias coisas que corriam pelo circo em 1992...
Curiosamente, a Fórmula 1 volta no mesmo dia em que se completam 53 anos da morte de Ricardo Rodríguez...
Obrigado por ler!
Curta: Memória F-1
Siga: @MemoriaF1
Imagens tiradas do Google Imagens e GPExperts.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário