terça-feira, 15 de setembro de 2015

Um dos Maiores Mistérios do Automobilismo


Não venho para falar sobre histórias tristes do esporte á motor, quando ótimo pilotos jamais tiveram chances ou condições para se tornarem vencedores ou até campeões. Venho falar sobre a maior injustiça da história do automobilismo, e ao mesmo tempo um dos maiores mistérios do esporte á motor.

Nascido em Bielefeld, Hermann Paul Müller começou sua carreira nas motos, competindo num Imperia. Anos depois, em 1932, se tornou campeão dos sidecars alemães. Ainda como promessa, conquistou mais um título na temporada de 1936 do Campeonato Alemão da Motos de 500cc.

Seus feitos chamaram a atenção da Auto Union, que queriam saber como ele se comportaria dentro de um carro de corrida. Para se acostumar ao novo tipo de esporte á motor, Paul Müller demorou certo tempo, o que o atrapalhou em corridas na Bélgica e na Alemanha durante a temporada de 1937 do Campeonato Europeu de Automobilismo.

Depois de desfalcar a equipe por duas corridas oficiais, Hermann estava de volta para disputar o GP da Itália, realizado em Monza. Lá, o alemão foi o pior colocado de Auto Union no grid, mas nada que abalasse sua confiança para a prova, que teria como vencedor Rudolf Caracciola. Depois de superar nomes da estirpe de Tazio Nuvolari e Achille Varzi, Paul Müller conquistou um ótimo 5º lugar, deixando sua marca na temporada de 1937, terminando em 14º lugar com 33 pontos.


O ano seguinte prometia ser melhor para o alemão, que começou mal a temporada, já que a Auto Union não participou do GP da França. Mesmo assim, Hermann tinha plenas condições de surpreender no Campeonato, e foi o que fez a partir do GP da Alemanha, quando passou a andar no mesmo ritmo dos companheiros, marcando mais 4 pontos depois de seu 4º posto em casa.

Meses depois, no Bremgarten, Paul Müller começa a mostrar superioridade em relação ao seus companheiros de Auto Union, inclusive em cima de Tazio Nuvolari. Faltando apenas 3 voltas, Hermann vinha para seu primeiro top três da carreira, mas tudo acabou depois de um erro e um toque numa arvore, o que danificou sua flecha prateada, resultando num abandono.

Poucas semanas depois, em Monza, o alemão volta a andar bem, mas agora nada conseguia superar Nivola, que fez grande prova. As Mercedes-Benz tiveram um desempenho pífio, a ponto de não comemorarem o título, enquanto as Auto Union batalharam para terminar a prova. Primeiro, Hans Stuck abandona, depois, quando uma dobradinha ia se concretizando, Paul Müller vê seu motor estourar nas gigantescas retas do circuito italiano, que comemorou como nunca a vitória de um de seus amados...


Na temporada seguinte, Hermann já era considerado um dos favoritos, caso a Mercedes não conseguisse resolver seus problemas de competitividade. Na primeira corrida válida para o Campeonato, Paul Müller volta a não ter sorte, abandonando há 10 voltas do fim. Semanas depois, em Reims, o alemão tem um ótimo desempenho, aliado a sorte e consistência.

Largando na 5º colocação, o piloto de Bielfeld fez grande prova sem cometer nenhum erro, e se beneficiando dos problemas das Mercedes-Benz e de Tazio Nuvolari, o que o colocou na magnífica 1º colocação, que não foi tomada por mais ninguém. Resultado? Primeira vitória de Hermann Paul Müller que entrava na briga pelo título.


Em Nürburgring, Rudolf Caracciola continuou mostrando toda sua genialidade no Ring, conquistando uma vitória inesperada em cima dos rivais prateados. Depois de largar na 4º colocação, Paul Müller foi, mais uma vez, a única Auto Union a terminar a corrida. Com isso, o alemão era mais do que nunca o líder do Campeonato Europeu de Automobilismo, faltando apenas uma prova: o GP da Suiça.

No Bremgarten, Paul Müller larga apenas na 7º colocação, mas faz uma corrida limpa terminando a frente de todos seus companheiros de Auto Union, e atrás apenas das três Mercedes-Benz. Ao final deste 20 de agosto de 1939, Hermann ainda era o líder absoluto do Campeonato Europeu do Automobilismo, restando apenas uma prova, em Monza.

Dia 3 de setembro de 1939. Dois dias depois da Alemanha invadir a Polônia e a Áustria, Grã-Bretanha e França declaram guerra ao país de Adolf Hitler. Apesar disso, uma corrida está programada para o mesmo dia, em Belgrado, na Iugoslávia. Lá, ocorre o último dos Grand Prix clássicos, com a vitória, é claro, dele, o maior de todos: Tazio Nuvolari, de Auto Union.


Apenas 4 Flechas de Prata participaram da prova: dois Mercedes e dois Auto Unions. Paul Müller, mais uma vez, foi consistente para terminar na terceira colocação, enquanto Lang abandonou graças ao seu companheiro de carro, que acabou batendo na volta 17. O Campeonato oficial ainda não havia acabado, mas a II Guerra Mundial havia acabado com tudo que jamais aconteceram por causa da II Guerra Mundial...

Esperava-se um anunciamento da AIACR, mas nada era possível para parar a Guerra só por causa de um simples anuncio, que se tornaria um dos maiores mistérios do automobilismo.... O presidente do automóvel clube belga havia dado uma sugestão para a mudança do sistema de pontuação, que era adotado pelos franceses. Nada foi oficializado, mas muito se dizia que o campeonato estava sendo disputado de dois formas: Quem marcasse menos pontos se tornaria campeão; e quem marcasse mais pontos se tornaria campeão também.


Hermann Lang era campeão europeu graças á um ponto em cima de Hermann Paul Müller, que era o campeão europeu graças ao seus dois pontos á menos do que Hermann Lang. Todos estavam a espera da confirmação do campeão, que sem dúvida vinha da Alemanha. Os alemães haviam anunciado que preferiam as antigas regras, enquanto os franceses da AIACR preferiam as novas regras. Mas, com o estouro da Guerra, a AIACR não deu nenhum comunicado oficial de quem foi o campeão, deixando tudo em aberto para a confederação alemã.

Dezembro de 1939. NSKK-Korpsführer Hühnlein, presidente da ONS, de repente reapareceu ao público, anunciando o campeão europeu. A surpresa.... numa das manobras mais misteriosas da história do automobilismo, a ONS decide dar o título á Lang, seguindo as regras francesas, deixando todos os fãs alemães abismados com a notícia da misteriosa decisão, que jamais foi oficializada.

O motivo dessa troca se mantém como um dos maiores mistérios da história do automobilismo, que até hoje nunca viu um comunicado oficial da FIA sobre quem foi o verdadeiro campeão da temporada de 1939....


Paul Müller escapou da guerra a voltou á correr de motos na década de 50, se tornando campeão da temporada de 1955 da 250cc. Até hoje, ele é o mais velho campeão de um campeonato de motos, aos 46 anos. Infelizmente, Hermann morreu em 1975, aos 66....

Imagens tiradas do Google Imagens

Nenhum comentário:

Postar um comentário