Nivola em ação no GP das Nações... |
1946. O mundo juntava os cacos após o fim da II Guerra Mundial e tentava se reerguer depois de toda aquela tragédia num período de seis anos. O automobilismo voltava a se engatinhar. Com o fim de Mercedes-Benz e Auto Union, os bólidos italianos e franceses dominavam as corridas com sobra. Pilotos como Jean-Pierre Wimille, Giuseppe Farina, Luigi Villoresi e até Tazio Nuvolari corriam pelo puro prazer de fazê-lo, já que nenhum campeonato foi organizado até 1950, quando o mundial de Fórmula 1 foi finalmente criado.
De qualquer forma, a Fórmula 1 não surgiu em 1950 junto com o campeonato mundial, mas sim quatro anos antes, em 1946, e, durante esse tempo, muita coisa interessante, e esquecida, aconteceu. Pouca gente sabe, mas a última vitória de Nuvolari em um Grand Prix foi num F1! Era 14 de julho, e alguns dos principais pilotos do circo estavam reunidos em Albi, na França, onde o mito italiano venceria uma das baterias e terminaria a outra em segundo, conquistando, no agregado, sua última vitória.
Apesar da conquista, Nivola desmaiou após inalar os gases do escapamento que invadiram seu cockpit, isso logo depois de receber os louros da vitória. No GP de Marselha, chegou a participar da segunda bateria, onde marcou a volta mais rápida, mas acabaria por não completar. Quase vinte dias depois, estaria em Bouis de Bologne participando da Copa Paris. Em julho, esteve em Genebra para o GP das Nações, onde os melhores pilotos da Europa estavam reunidos. Surpreendentemente, Tazio conquistou um terceiro lugar na segunda bateria, o que valeu um quarto no geral, sendo o melhor a bordo de uma Maserati.
Liderando Sommer no GP de Marselha... |
Porém, aquele dia não havia sido um dos melhores para o italiano. Em estranha manobra, Nuvolari fechou a porta para Jean-Pierre Wimille, líder da corrida que colocava uma volta sobre o experiente italiano, o que rendeu um abandono para o francês e a bandeira preta para o mantovano. Diferentemente de muitos, Tazio continuou na pista mesmo após ser desclassificado. Os organizadores sinalizaram tanto para o velho italiano, que decidiram por retirar a desclassificação de Nivola e mantê-lo na corrida. Foram voltas e voltas vendo as bandeiras pretas...
Assim, a vitória em Albi se tornava a última de Nuvolari num Grand Prix. Os graves problemas de saúde que o afligiam, somados com a velhice, estavam o destruindo. Dois meses após o GP da Nações, Tazio estaria correndo com uma mão no volante e outra num lenço ensaguentado à sua boca. Muitos passaram a crer que o italiano queria morrer na pista, e não numa cama...
Naquele três de setembro, o italiano apareceria na reta dos boxes com uma mão no volante e outra na barra de direção! De forma espantosa, o problema foi resolvido e Nuvolari pode terminar a prova na décima terceira e última posição. O mito italiano continuava a fazer história...
Nos anos seguintes, Tazio Nuvolari se restringiria à participações esporádicas em GPs e Voiturettes a bordo de carros da Ferrari e da Cisitalia, quase nunca conseguindo completar provas, e, quando conseguindo, nunca numa posição digna de seu nome. Participaria da Mille Miglia de 1947 com um carro extremamente inferior ao resto do pelotão, algo que não o impediu de assumir a liderança da prova e só perde-la quando sofresse problemas técnicos. Estaria de volta no ano seguinte para correr mais uma Mille Miglia, onde veria seu capô ir pelos ares e seu banco quebrar, tendo que o substituir por um saco de laranjas! Nivola abandonaria pouco antes do fim...
A última corrida do mitológico italiano foi no dia 15 de abril de 1950, no Monte Pellegrino. Mesmo sem nunca ter dito adeus às pistas, Nuvolari acabaria por morrer em 1953, na sua Mantua natal, após um ano preso à sua cama. Seria enterrado com sua camisa amarela, calça azul e capacete na presença de mais de 55 mil pessoas, detre elas Juan Manuel Fangio, Alberto Ascari e Luigi Villoresi.
Nuvolari deixou saudades, mas antes disso, acabaria deixando sua marca na jovem Fórmula 1, e com uma vitória...
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