segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O Mantuano Voador


A primeira vez que ouvi seu nome, ainda pequeno, pensei, com aquela mania de criança de gostar e torcer por pilotos por causa de seu nome: "Nossa, esse cara deve ser f***". Não estava enganado, com o passar dos anos acabei ganhando a chance de aprender mais e mais depois que finalmente recebi meu primeiro computador, e com isso pude ver quem foi esse cara que, mais novo, elogiei apenas por causa de seu nome.

Tazio Nuvolari estaria fazendo mais um ano de vida nessa segunda-feira dia 16 de novembro, mas como ninguém vive tanto assim, é compreensível saber que ele morreu ainda no começo da década de 50, quando já tinha seus "meros" 60 anos. Il Maestro era o homem que qualquer jovem italiano aspirava-se tornar na década de 30.


Existem tantas lendas em volta de seu nome que fica difícil discernir entre verdade ou mentira. Apesar disso, sabemos que Nivola foi fantástico em feitos até hoje inimagináveis, loucos, que dificilmente alguém repetiria. Fugir de hospitais para correr no domingo, dirigir mesmo com a barra de direção quebrada, andar parecendo uma múmia, pilotar com uma mão por ter a outra toda enfaixada, ter o carro esfarelando a cada curva de Mille Miglia entre outros feitos mitológicos...


Nascido em Castle d'Ario, Nuvolari começou a escrever seu nome no automobilismo ao lado dos já consagrados e ídolos Campari e Borzacchini. Tazio fazia coisas que invejava os rivais, inclusive os companheiros, o que levava a torcida italiana ao delírio com suas vitórias fantásticas. Depois da Itália perder seus dois maiores ídolos no começo da década de 30, Nivola se viu no lugar deles para dar alegria ao seu povo...

Para mim, a melhor dupla de todos os tempos...

Ninguém imaginava, mas a mesma Alemanha Nazista que investiu em suas Flechas de Prata mataria milhões em menos de uma década. Como todos os pilotos, Tazio sonhava em guiar um monstro alemão para trazer alegria de volta ao povo italiano que via a Alfa Romeo se arrastar atrás das Mercedes-Benz e Auto Unions.

Nuvolari nunca escondeu o desejo de correr pela Auto Union, e quando fez testes com o Type A parecia finalmente perto de voltar a conquistar títulos no automobilismo. Mas Hans Stuck, de forma desleal, acabou vetando o italiano, algo que vimos Senna e Prost fazerem nos anos 80 e 90. Com isso, Nivola teria que passar mais tempo sofrendo com as Alfas da Scuderia Ferrari.


Pelo menos, ele teve mais chances de mostrar porque foi um dos melhores de sempre. Um exemplo disso é o que acabou fazendo em Nürburgring, na chamada Melhor Corrida de Todos os Tempos, quando ele superou todas as Flechas de Prata na casa delas, para vergonha do governo nazista que nem sequer tinha o hino italiano em mãos para ser tocado ao fim do GP.

O tempo ia passando, a década de 30 já estava na sua segunda metade, com Nuvolari já com seus quase 45 anos. Mesmo assim, ele se mantinha como um dos grandes do esporte, vencendo provas depois de batalhar com as dificuldades de um carro defasado contra seus rivais. Depois de vencer a Copa Vanderbilt em 1936, Nivola acabou tendo um péssimo 1937.


Depois de vencer apenas uma vez, Tazio ainda teve que lidar com a morte de seu primogênito, o que o abateu ainda mais... Tentando levar a Alfa Romeo de volta aos dias de glória, Nuvolari sofreu grave acidente em testes, sendo hospitalizado e logo depois anunciando o impossível: sua aposentadoria das pistas. Mas como ele era Tazio Nuvolari, nada do que mais algumas voltas em carros de corrida pudessem mudar a história.

Depois de testes em Indianápolis, Nivola retornou á Itália, esperando por qualquer convite, que veio daquela que ele sempre sonhou: Auto Union. Infelizmente, a causa da chamada de Nuvolari por Ferdinand Porsche (que teve que bater pé para contratar o mantuano) era uma das mais trágicas: a morte de Bernd Rosemeyer.


Em menos de um ano, Tazio perdeu seu filho e um de seus grandes amigos, um dos pilotos que vieram da sua mesma escola, o motociclismo, e era tão talentoso quanto ele. Nuvolari voltou para guerrilhar novamente contra as Mercedes-Benz, agora com mais equipamento, mas, ao mesmo tempo, mais azarado.

Nivola venceu apenas três corridas pela Auto Union, o GP da Itália e de Donington de 1938 e o GP de Belgrado de 1939, marcante para a história do esporte à motor. Dia 1 de setembro de 1939, com a Alemanha já avançando no território polonês, um ultimato franco-britânico coloca o futuro da Europa em xeque. O dia da prova na Iuguslávia não é antecipado, nem adiado, o que coincide na última data que os franceses e os britânicos deram para os alemães saírem do território da Polônia.


Num grid quase todo prateado, a corrida é feita com o mundo a tremer, com a II Guerra Mundial começando ao fim da prova que teve como vencedor ele, Tazio Nuvolari, que superou de maneira inteligente todos os seus rivais... Ao fim do mais sangrento conflito da terra, Nivola reaparece ainda mais velho e abatido, com a morte de seu filho mais novo e o desaparecimento da Alemanha no cenário automobilístico.

O mantuano faz de tudo, participa de GPs memoráveis e vence mesmo sofrendo com graves doenças do pulmão causadas pelo tempo cheirando a fumaça que saia do escapamento. Mesmo assim, Nivola dá show como nunca em provas como a Mille Miglia de 1948, quando, aos 56 anos, doente, e sem correr há sete meses faz uma corrida de gênio, liderando a prova mesmo com sua fraca Ferrari se despedaçando (isso mesmo, despedaçando, perdendo desde o capô até a fixação do banco) até os últimos kilometros da prova, quando é obrigado a abandonar...


No dia 10 de abril de 1950, aparece pela última vez numa competição, vencendo em sua categoria e terminando em quinto absoluto. Mesmo sem ter anunciado sua aposentadoria, a saúde da lenda se deteriora e às 6 horas da manhã do dia 11 de agosto de 1953, o mundo acorda com um baque: Tazio Nuvolari havia morrido. Cerca de 55 mil pessoas comparecerem ao enterro do "maior campeão do Mundo...", inclusive ídolos como Fangio, Villoresi e Ascari.

Ele é enterrado no túmulo da família, no Cemitério Degli Angeli, para "correr ainda mais rápido nas ruas do céu"... O Mundo havia perdido "Tazio Nuvolari, o maior piloto do passado, do presente e do futuro" segundo Ferdinand Porsche...


Assim encerro, este post sobre ele, o melhor de todos os pilotos, aquele que já correu por templos mesmo com ossos quebrados, duelando e vencendo outras lendas em lugares e em situações impossíveis, deixando sua marca na história do automobilismo...

"Ao fim, não estava enganado, ele era mesmo o melhor de todos os tempos"

Imagens tiradas do Google Imagens

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