segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

GP Memorável #83 - Canadá 1986



Uma semana havia se passado desde o GP da Bélgica e Marc Surer estava em Hessen, na Alemanha, para um evento de rali organizado pela ADAC. O suíço era um daqueles típicos pilotos que gostavam de participar das mais diversas provas no automobilismo, seja nos monopostos, no turismo ou até no rali, como naquele último fim-de-semana de maio de 1986.

Correndo ao lado de seu amigo Michel Wyder, Surer sofreria um grave acidente após perder o controle de seu carro e bater, violentamente, numa árvore. A explosão do Ford Escort RS200 seria imediata. No impacto, o suíço acabaria sendo ejetado para fora do veículo, enquanto seu co-piloto ficara preso nos chamas...

Surer sofreu várias queimaduras e múltiplas fraturas na perna e na pélvis, sendo hospitalizado em Gießen em estado crítico. O piloto, que naquela altura servia a Arrows, não teria condições físicas e nem psicológicas de seguir participando da temporada de 1986 da Fórmula 1. Seria esse o fim da carreira de um suíço que jamais teve a oportunidade de pilotar um carro realmente competitivo, mesmo após brilhar no GP do Brasil de 1981 com um Ensign. A morte de Michel Wyder ficaria para sempre ligada ao nome de Marc Surer...


No outro dia, já no mês de junho, outra fatalidade abala o automobilismo mundial. As 24 Horas de Le Mans estavam à todo vapor e entravamos no dia 1 de junho. Correndo pela Kremer, Jo Gartner sonha em conquistar uma vaga na equipe de fábrica da Porsche, mas, antes disso, deveria andar bem na prova mais importante do endurance. Dividindo seu 962C com van der Merwe e Takahashi, o austríaco assumiria seu carro no começo da madrugada.

Minutos depois, a notícia de que um carro negro havia embatido fortemente num poste telefônico abalou o paddock, não demorando muito para que aquilo que todos temiam se confirmasse: Jo Gartner havia quebrado o pescoço e morrido no local. Em sinal de luto, a Kremer se retirou da prova, que seria vencida pelo carro de Bell, Stuck e Holbert, na qual o austríaco tanto sonhava em correr no ano seguinte.

As causas do acidente ainda são um mistério. Um animal poderia ter atravessado a pista no momento em que Gartner passava, mas o que é mais plausível e provável é que as rodas traseiras de seu Porsche travaram em plena reta, quando um problema entre a quarta e a quinta marcha travou a caixa de câmbio.



O austríaco havia participado de 8 GPs pela Osella em 1984, e chegou a ser cotado para correr na Toleman em 1985, antes dela se tornar a Benetton que levou Gerhard Berger à primeira fila do GP da Bélgica realizado um domingo antes. Era o fim de outra carreira meteórica...

Os pilotos chegam a Montreal preocupados, podendo perder parte da premiação que ganharam nos últimos dois GPs de Detroit. A situação causa insatisfação, e alguns nomes chegam a abrir a possibilidade de boicotar o GP dos EUA, que acontece na próxima semana. Temendo as ameaças feitas por Nelson Piquet, por exemplo, Bernie Ecclestone foi ao governo americano tentar resolver o problema.

Alguns jornalistas chegaram a ligar o fato com uma provável guerra entre CART e FISA, já que a federação não permitia que licenças não americanas participassem de provas da categoria estadunidense.

Dentro da Williams as coisas começam a desandar, com Patrick Head demonstrando sua clara preferência por Nigel Mansell ao se dedicar, exclusivamente, ao carro do compatriota, deixando o bólido de Piquet nas mãos de seu assistente Frank Dernie. O fato de poder ser o primeiro piloto da equipe levou o brasileiro a sair da Brabham e, agora, as coisas pareciam estar longe de serem assim, com Mansell tendo vencido na Bélgica e o superado no campeonato de pilotos.



Em busca de um substituto para Marc Surer, a Arrows recebeu da BMW a indicação de Christian Danner, piloto de Enzo Osella. O italiano, inicialmente, liberou o jovem alemão para correr em Montreal a bordo do A8, chegando ele a fazer o primeiro treino à serviço da equipe britânica, mas, depois de não receber o dinheiro esperado, Osella obrigou Danner a voltar ao FA1F para a prova. Na Brabham, Derek Warwick faria sua estreia no lugar do falecido Elio de Angelis.

Gabriele Cadringher, engenheiro da FISA, marcou uma reunião para decidir o futuro dos motores turbo, tendo Ferrari, Renault, Motori Moderni, BMW, Ford e Honda não chegado a um consenso. Enquanto alguns pedem pela diminuição da cilindrada, outros querem a introdução de uma flange ou uma válvula de escape. E, mais uma vez, a decisão pode vim cair nas mãos de Jean-Marie Balestre.

Para melhorar o fluxo de ar, o Williams FW11 recebe uma nova suspensão traseira, enquanto a Benetton mantem saias semi-flexíveis na asa dianteira, aprovada pelo engenheiro da FISA. Na Tyrrell, as coisas vão de mal à pior para Philippe Streiff, muito críticado, que correrá com o modelo antigo por ter danificado o 015 em testes em Brands Hatch. A última informação relevante vem de Maranello, onde Enea Spallanzini assumiu o posto de engenheiro dos motores Ferrari.

A sexta foi de chuva, o que deixou a decisão da pole position para sábado, onde Nigel Mansell surpreenderia para arrancar a primeira posição de Ayrton Senna por sete centésimos de segundo. No terceiro posto, Nelson Piquet era o último do grid que estava abaixo de um segundo de diferença para o britânico. Alain Prost fechava a segunda fila, seguido por René Arnoux, Keke Rosberg, Gerhard Berger, Jacques Laffite, Riccardo Patrese e Derek Warwick, que completam os dez melhores.


Michele Alboreto era o melhor dos Ferrari em décimo primeiro, ao lado de Thierry Boutsen. A sétima fila era inteiramente da Lola Haas, com Alan Jones a frente de Patrick Tambay. Teo Fabi foi apenas décimo quinto melhor, seguido por Johnny Dumfries, Philippe Streiff, Stefan Johansson, Martin Brundle e Alessandro Nannini. Curioso que, mesmo com o carro antigo, Streiff foi mais rápido que Brundle. Fechando o grid estavam Andrea de Cesaris, Jonathan Palmer, Piercarlo Ghinzani, Huub Rothengatter e Christian Danner, ainda na Osella e na últim posição.

Com a pista menos emborrachada do que o de costume, o domingo era de sol e sem previsão de chuva, o que não evitou que Patrick Tambay sofresse grave acidente durante o warm-up. O francês escapou nos esses e foi hospitalizado com fraturas na perna e nas vertebras. Com isso, vinte e quatro carros devem largar à tarde. Pelo menos é o que se esperava até que Christian Danner e Jonathan Palmer enfrentassem problemas na partida para a volta de aquecimento de pneus. Felizmente, conseguiram retornar para a corrida.

Na partida, Senna até tenta forçar sobre Mansell, mas o britânico resiste e pula na frente, abrindo uma diferença considerável logo na primeira volta. Piquet largou mal e perdeu a terceira posição para Prost, com Rosberg pulando para quinto e Arnoux em sexto. Quem brilha no início de corrida é Stefan Johansson, que foi de décimo sétimo para sétimo em menos de dez voltas, superando inclusive Alboreto e Berger. Nessa altura, Patrese roda e cai para a décima primeira posição, logo a frente de seu novo companheiro Derek Warwick.


Enquanto Mansell aumenta a vantagem, Senna segura Prost, Rosberg, que passou Piquet, e Arnoux. Na volta cinco o brasileiro finalmente seria superado pelo francês campeão do mundo, mas problemas fizeram que essa não fosse a única perda para o piloto da Lotus, que caiu para sexto ainda no quinto giro após Rosberg, Piquet e Arnoux também ultrapassarem.

Christian Danner seria o primeiro a abandonar na volta sete. Enquanto, nas primeiras posições, Piquet não consegue avançar por problemas nos freios e Prost por um defeito no computador de bordo, o que impede-o de saber o consumo de combustível. Sempre agressivo, Keke Rosberg passaria pelo seu companheiro na volta treze, partindo para o ataque de Mansell ao mesmo tempo em que Ayrton recuperava a quinta posição de René Arnoux.

Frio como qualquer escandinavo, Rosberg conquista a ponta numa bela manobra no hairpin, com Prost se aproximando de Mansell que perde rendimento. Infelizmente para o campeão de 1982, Philippe Streiff e Alan Jones são retardatários de difícil compreensão. Com isso, o britânico retoma a liderança com Prost a atacar Rosberg pelo segundo lugar.

Nessa altura da corrida, o calor era o principal vilão. Cinco pilotos já haviam abandonado com problemas no motor ou no turbo. Perto da volta trinta, Rosberg, já preocupado com o combustível, vai aos boxes para a troca de pneus. Poucos segundos depois, Johnny Dumfries, companheiro de Senna, também faz sua parada, mas ao retornar à pista acaba sendo atingido por Johansson. Um violento embate que por pouco não leva Alboreto. A corrida segue...

Ah os retardatários...

Mansell para e retorna à frente de Piquet e Rosberg. Prost lideraria por uma volta até fazer sua desastrosa troca, voltando à pista na quinta posição, atrás de Senna que faz sua parada logo depois. Na volta trinta e cinco, Nelson é o último dos grandes a parar. Com a corrida nas mãos, Mansell não deve mais ser ameaçado por Keke, que agora desperadamente economiza para chegar ao final.

Piquet, muito mais rápido que as McLaren, supera ambas e assume a segunda posição, decretando uma dobradinha para a Williams. Senna luta com Arnoux pelo quinto, mas este passa a receber ajuda de seu companheiro Laffite. Perto do fim, o brasileiro receberia suporte de Mansell, que deu uma volta no trio e beneficiou o sempre esperto jovem da Lotus que passa por Arnoux.

Sem pneus, Nelson Piquet tem de fazer uma segunda parada, voltando com todo o fôlego para superar, mais uma vez, Rosberg e ir ao ataque de Prost. A corrida está decidida. Nigel Mansell completa as 69 voltas e vence o GP do Canadá de maneira espantosamente fácil, com Alain Prost e Nelson Piquet completando o pódio.

Com a vitória, Mansell empata com Ayrton Senna na segunda posição da tabela de pilotos, enquanto Alain Prost abre dois pontos de vantagem para a dupla. Piquet ainda é apenas quarto, com dezenove pontos, dez atrás do líder. No campeonato de construtores, a Williams superou a McLaren e assumiu a ponta por três adendos.


RESULTADOS:

  1. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - 1:42:526.415 - 9pts
  2. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - 
  3. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - 
  4. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - 
  5. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - +1 Volta - 2pts
  6. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - +1 Volta - 1pt
  7. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - +1 Volta
  8. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - +1 Volta
  9. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - +2 Voltas
  10. 15 - AUS - Alan Jones - Lola Ford - +3 Voltas
  11. 4 - FRA - Philippe Streiff - Tyrrell Renault - +4 Voltas
  12. 29 - HOL - Huub Rothengatter - Zakspeed Racing - +6 Voltas
  13. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - Turbo - OUT
  14. 21 - ITA - Piercarlo Ghinzani - Osella Alfa Romeo - Câmbio - OUT
  15. 23 - ITA - Andrea de Cesaris - Minardi Motori Moderni - Transmissão - OUT
  16. 18 - BEL - Thierry Boutsen - Arrows BMW - Elétrico - OUT
  17. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - Turbo - OUT
  18. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - Colisão - OUT
  19. 11 - GBR - Johnny Dumfries - Lotus Renault - Colisão - OUT
  20. 14 - GBR - Jonathan Palmer - Zakspeed Racing - Motor - OUT
  21. 8 - GBR - Derek Warwick - Brabham BMW - Motor - OUT
  22. 24 - ITA - Alessandro Nannini - Minardi Motori Moderni - Turbo - OUT
  23. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - Bateria - OUT
  24. 22 - ALE - Christian Danner - Osella Alfa Romeo - Turbo - OUT
  25. 16 - FRA - Patrick Tambay - Lola Ford - Acidente - DNS
  26. 17 - SUI - Marc Surer - Arrows BMW - Lesionado - NP
Esses eram os pilotos inscritos para a corrida.
Volta Mais Rápida: Nelson Piquet - 1:25.443 - Volta 63

Curiosidades:
- 426º GP
- XXV Grande Prêmio do Canadá
- Realizado no dia 15 de junho de 1986, em Montreal
- 4º vitória de Nigel Mansell
- 25º vitória da Williams
- 10º vitória do motor Honda
- 10º volta mais rápida do motor Honda


  • MELHOR PILOTO: Nigel Mansell
  • SORTUDO: Alain Prost
  • AZARADO: Ayrton Senna
  • SURPRESA: N/h
Mansell pilotou como poucas vezes havia feito antes. Usou a cabeça e venceu sem muitas dificuldades uma corrida que prometia ser difícil na questão de consumo de combustível. Méritos ao Leão e à toda equipe da Honda que contribuiu. Com problemas no computador de bordo, Prost conseguiu terminar com a mesma quantidade de combustível de Mansell. Precisa falar mais? Já Ayrton Senna foi o grande azarado, pois perdeu a ponta do campeonato na volta cinco, quando quase rodou, raspou os pneus e despencou para uma mera briga pelo quinto lugar contra Arnoux. Poderia ter beliscado um quarto, se estivesse no lugar certo.


Campeonato de pilotos:
  1. 1 - FRA - Alain Prost - McLaren TAG-Porsche - 29pts
  2. 5 - GBR - Nigel Mansell - Williams Honda - 27pts
  3. 12 - BRA - Ayrton Senna - Lotus Renault - 27pts
  4. 6 - BRA - Nelson Piquet - Williams Honda - 19pts
  5. 2 - FIN - Keke Rosberg - McLaren TAG-Porsche - 14pts
  6. 28 - SUE - Stefan Johansson - Scuderia Ferrari - 7pts
  7. 26 - FRA - Jacques Laffite - Ligier Renault - 7pts
  8. 20 - AUT - Gerhard Berger - Benetton BMW - 6pts
  9. 25 - FRA - René Arnoux - Ligier Renault - 6pts
  10. 27 - ITA - Michele Alboreto - Scuderia Ferrari - 3pts
  11. 19 - ITA - Teo Fabi - Benetton BMW - 2pts
  12. 3 - GBR - Martin Brundle - Tyrrell Renault - 2pts
  13. 7 - ITA - Riccardo Patrese - Brabham BMW - 1pt

Campeonato de construtores:
  1. GBR - Canon Williams Honda Team - Williams Honda - FW11 - MAN/PIQ - G - 46pts
  2. GBR - Marlboro McLaren International - McLaren TAG-Porsche - MP4/2C - PRO/ROS - G - 43pts
  3. GBR - John Player Special Team Lotus - Lotus Renault - 98T - DUM/SEN - G - 27pts
  4. FRA - Equipe Ligier - Ligier Renault - JS27 - ARN/LAF - P - 13pts
  5. ITA - Scuderia Ferrari SpA SEFAC - Ferrari - F1/86 - ALB/JOH - G - 10pts
  6. GBR - Benetton Formula Ltd. - Benetton BMW - B186 - FAB/BER - P - 8pts
  7. GBR - Data General Team Tyrrell - Tyrrell Renault - 014/015 - BRU/STR - G - 2pts
  8. GBR - Motor Racing Developments - Brabham BMW - BT55 - PAT/ANG - P - 1pt
Imagens tiradas do Google Imagens - GPExpert.com.br - F1-History.deviantart.com

Um comentário: