terça-feira, 13 de junho de 2017

Análise: Guerras declaradas


Até que, para uma corrida que após as primeiras voltas já sabíamos quem seria o vencedor, o GP do Canadá de 2017 foi ótimo. Lewis Hamilton, tal como Vettel na última etapa, não teve nenhum adversário à altura na disputa pela vitória. Enquanto Valtteri Bottas não conseguia se aproximar, talvez já fazendo papel de escudeiro, Verstappen e Ricciardo sofriam com equipamentos pífios se comparados com dos líderes.

Apesar da importância que a prova tomou após os problemas de Sebastian Vettel na largada, não seria apenas o fato do alemão ter recuperado posições de quase meio grid que estaria nas manchetes no dia seguinte. O controverso incidente entre os pilotos da Force India recebeu grande destaque, afinal, Esteban Ocon tinha chances claras de chegar ao pódio.

Vamos começar a analisar pelo fim-de-semana do vencedor, o vice-líder Lewis Hamilton. Mesmo com um domingo fácil, sem ter sua vitória ameaçada, o inglês tirou a pole position da cartola. Nos dois dias de treinos a Ferrari era claramente mais rápida do que a Mercedes, e o sonho de se igualar com Ayrton Senna no número de poles ficara mais distante para o tricampeão.

Porém, com um mesmo brilho do brasileiro, Hamilton conquistaria surpreendentemente o melhor tempo em sua melhor performance de todo fim-de-semana. O que seguiu não há como se explicar. Não era um capacete que realmente foi utilizado por Senna, naquela altura a família só entregaria depois da corrida o original, mas mesmo assim foi um dos momentos mais marcantes da temporada, que simboliza a paixão que o inglês tem pelo seu ídolo.


Enquanto seu companheiro disputa pelo título, Valtteri Bottas, cada vez mais, assume papel de escudeiro, não ameaçando de forma pífia Lewis Hamilton. É uma pena que, até esse momento do campeonato, o finlandês esteja 39 pontos atrás do britânico. Chega a ser um absurdo para um piloto que era tão promissor nos tempos de Williams. Porém, há de se esperar por uma recuperação de Bottas. Caso ela não venha, com performances apagadas tal como no GP do Canadá, ele já pode arrumar as malas em busca de outra equipe.

Não que a corrida do finlandês foi ruim. Mas passar Vettel, depois da largada ruim que o alemão teve, era uma obrigação que não foi seguida pelo dever de superar um carro inferior como o de Max Verstappen. A situação de Bottas não chega a ser tão ruim porque ele consegue levar o carro até o fim, garantindo bons pontos para a equipe que reassumiu a liderança no campeonato de construtores.

Se formos ver, a Ferrari teria sim condições de manter essa liderança. Os controversos momentos envolvendo Vettel e Räikkönen nas duas últimas provas deixam claro que, mais uma vez, obviamente, a escuderia italiana já tem seu preferido. Mas, diferentemente de Bottas, Kimi já provou sua capacidade em carros rápidos. É um piloto que sempre se destacou, mas desde 2014 vem sofrendo misteriosamente.

Não parece ser falta de motivação que tira o brilho do Iceman. Ele é amado por quase todos os fãs, tem uma família quase sempre presente nos autódromos e uma relação confortável com o companheiro. Assim, os maus desempenhos de Räikkönen podem se explicar pela pura falta de sorte, ou até mesmo, algumas vezes, de gana causada por outro elemento mais misterioso ainda.


Já Sebastian Vettel voltou a ter sua grande chance. Mesmo largando mal, sendo tocado por Verstappen e cair para as últimas posições, o alemão brilhou no domingo, ganhando posições atrás de posições até chegar em Räikkönen. Mais uma vez, problemas com o finlandês facilitaram a chegada do tetracampeão em Ocon, Pérez e Ricciardo, todos com estratégias diferentes e mais prejudiciais para aquele momento da prova se comparado ao do ferrarista.

Com a Force India sofrendo sob intensa briga interna, Vettel aproveitou e superou ambos os pilotos da equipe anglo-indiana, chegando na quarta colocação, poucos milésimos atrás de Ricciardo. O desempenho do piloto da Ferrari era tão bom que, se houvesse apenas outra volta, seria ele no lugar do australiano no pódio em Montreal.

Não veríamos o shoey de Patrick Stewart, mas, por sorte, Daniel Ricciardo conquistou o terceiro lugar pela terceira vez consecutiva. Enquanto Verstappen tem apenas um pódio, o australiano abre cada vez mais sua vantagem sobre o companheiro. Diferentemente do Mônaco, o piloto da Red Bull contou primariamente com a sorte para subir ao pódio. Já o holandês...

Sofrendo com a parca confiabilidade de seu RB13, Max Verstappen tem pouco tempo para brilhar. No Canadá, por exemplo, foram dez voltas na segunda posição, sobrevivendo aos ataques de Bottas. É lastimável uma equipe como a Red Bull estar numa situação dessas. É como se houvesse um outro pelotão intermediário, onde só há os austríacos.


Na abertura do verdadeiro pelotão intermediário, a Force India está longe de ser ameaçado por aqueles que seriam seus principais rivais. Enquanto Renault e Williams correm com apenas um piloto, a Toro Rosso não tem condições de acompanhar o ritmo da equipe indiana. Porém isso não é motivo para se perder pontos que podem se tornar tão essenciais no fim do campeonato.

Apesar da inteligente estratégia colocar Esteban Ocon na briga direta pelo pódio, tudo foi por água abaixo com Sérgio Pérez relutando, de forma corajosa, em ceder a posição. Taxado como egoísta, o ex-McLaren agiu de maneira suja com seu companheiro ao, claramente, não dificultar a passagem de Vettel e, múltiplas vezes, fechar a porta de Ocon.

Mesmo com as críticas, acredito que o mexicano fez certo, com exceção da facilidade com que o atual líder o superou na chicane que antecede a reta dos boxes. Estava torcendo por Ocon, afinal, ele se tornaria o segundo piloto mais jovem ao subir ao pódio (caso superasse Ricciardo) e o primeiro francês desde Grosjean em Spa-Francorchamps, em 2015, a conseguir tal feito.

Porém, é de se observar os erros que o jovem francês cometera. Ao invés de atacar depois do Muro dos Campeões, ele preferiu sempre forçar logo após o hairpin, não tendo tempo para colocar mais de meio carro na frente de seu companheiro. Foram erros de estreante. Mas que ainda sim não ofuscam a qualidade de Ocon, que, como lembrando muitas vezes, fora campeão da Fórmula 3 e da GP3 antes de estrear pela Manor no ano passado.


Do resto do grid, pouca coisa a se comentar. Carlos Sainz Jr tomou uma atitude admirável e de grande simbolismo ao se desculpar, pelo Twitter, com Romain Grosjean e Felipe Massa. O francês estava no ponto cego do espanhol, e isso era claro. Para um piloto jovem e com tanto potencial, Sainz já se mostrou um ótimo esportista.

Já Kvyat cometeu um tremendo erro de quem não sabe as regras da Fórmula 1. É vergonhoso saber que o russo não alinhou na última posição por não saber ou pela equipe não tê-lo avisado. Afinal, estão avisando até quando há algum carro mais rápido logo atrás. Para quem não sabe, os retrovisores servem exatamente para isso. De nada!

Palmer, Ericsson, Magnussen, Vandoorne e Wehrlein tiveram desempenhos apagados. Enquanto isso, Nico Hülkenberg fazia de tudo para conquistar um ótimo oitavo posto numa pista em que carros de motor Renault estão longe de serem os mais rápidos. Outro homem que sofreu pela incapacidade de sua unidade de potência foi, para variar, Fernando Alonso.

Após anunciar que sairá da McLaren em setembro caso não vençam uma corrida, o espanhol preferiu acompanhar a prova da IndyCar no Texas ao invés de ver seus mecânicos vencerem a corrida de canoas, pela primeira vez realizados depois de anos de hiato. A situação parece se piorar a cada dia. Quando abandonou, Alonso era décimo colocado, indo em busca de SEUS PRIMEIROS pontos na temporada. Isso, você não leu errado. O bicampeão ainda está zerado. Talvez tenhamos nos esquecido disso após sua performance na Indy 500...


A cada dia mais irônico, e muito provavelmente, devastado, Fernando Alonso parece não ter lugares para fugir em 2018. A não ser que... na Mercedes...  Bem, é meio impossível, mas como Toto Wolff falou, deixar alguém como o asturiano perambulando pelo mercado é um grande erro. Mas, se bem que temos alguém que talvez esteja atrás de seus servições. Nico Hülkenberg que o diga... lembrando que os rumores de uma possível queda de Palmer ainda em agosto aumentam a cada semana.

Por último, chegamos à Stroll e Grosjean. Mesmo depois do acidente com Sainz na primeira volta, o francês da Haas se recuperou magnificamente, superando até mesmo seu companheiro Kevin Magnussen para conquistar um importante ponto na briga interna da equipe. Apesar da recuperação, o dono da casa, Lance Stroll, ainda conseguiu superar Grosjean.

Se se intimidar, o canadense saiu da décima sétima posição para terminar em nono, conquistando seus primeiros dois pontos na Fórmula 1. Talvez, quem sabe, ele não seja tão piada dentro de seu país. Ou ainda seria? A verdade é que Stroll atingiu um feito que muitos outros pay drives jamais alcançaram: pontuar. Parabéns ao jovem...

Com os resultados da prova, Lewis Hamilton voltou a encostar em Sebastian Vettel. Valtteri Bottas se consolidou em terceiro e guerra foi declarada dentro de Force India e McLaren. No primeiro caso, ela é controlável e será boa para o público, mas no segundo... essa sim é preocupante, vexatória e triste de se acompanhar. Talvez os amores à primeira vista sejam mesmo melhores do que os outros...

Um comentário:

  1. Na década de 80/90 tínhamos Senna,Prost,Mansell,Piquet em condições de serem campeões e com carros bem distintos, hoje vemos somente 2 pilotos Hamilton e Vettel,pilotos que não entendem do próprio carro, e 2 carros muito superiores aos demais. Além de que no passado tínhamos até 23 equipes.

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